Será que Deus existe?
Vejamos, sobre esta questão, como se dividem as
pessoas:
Teísmo - Que agrupa todos aqueles que acreditam numa
inteligência sobrenatural que, além de ter criado o universo, se encontra por
perto para vigiar e influenciar o destino subsequente da sua criação inicial.
Em certos casos, a divindade está intimamente
envolvida nos assuntos humanos, responde às preces, perdoa ou castiga pelos
pecados, opera milagres e agita-se tanto com as boas como com as más acções que
praticamos ou mesmo quando nos limitamos a pensar em praticá-las;
Deístas – Todos aqueles que acreditam numa
inteligência sobrenatural que criou o universo e as leis que o regem e por aqui
se terá ficado num aparente desinteresse pelos destinos humanos;
Panteístas - Aqueles que não acreditam num Deus
sobrenatural mas usam a palavra Deus como sinónimo da natureza ou do universo
ou da legitimidade que rege o seu funcionamento.
Este Deus metafórico ou panteísta dos físicos está a
anos-luz do Deus bíblico interventivo, milagreiro, leitor dos pensamentos,
punidor de pecados, atendedor de preces e que é o Deus dos padres, mulás e
rabinos.
Como exemplo de panteístas referiremos Carl Sagan e
Einstein:
Escreve Carl Sagan: “… se com “Deus” nos referimos ao
conjunto de leis físicas que regem o universo, então há claramente um “Deus”,
um “Deus” que é emocionalmente insatisfatório…não faz muito sentido rezar à lei
da gravidade.”
Einstein, por sua vez, escrevia; “Sentir que por
detrás de qualquer coisa que possa ser experimentada há algo que a nossa mente
não consegue compreender e cuja beleza e sublimidade nos atinge apenas
indirectamente como um débil reflexo, isso é religiosidade. Neste sentido sou
religioso”.
Ateísmo – Que agrupa os que recusam a existência de uma
entidade sobrenatural e não utilizam a palavra Deus para designar o que quer
que seja para que não se preste a confusões.
Agnósticos - Aparecem no fim do século XIX e
representam uma corrente de pensamento que, em síntese, afirma o seguinte:
- Se o que determina a crença em Deus é a fé e
esta não é baseada na razão logo, do ponto de vista racional, não se pode
demonstrar a existência ou inexistência de Deus.
Há, no entanto, ainda, uma outra categoria de pessoas
que se afirmam como crentes e seguidores desta ou daquela religião mas que, no
fundo, não fazem mais do que “mentir” à sociedade por uma questão de
conveniência pessoal. São os falsos religiosos.
O actual presidente da Royal Society confessou a
Richard Dawkins que vai à Igreja como “anglicano descrente…por lealdade com a
tribo.”
Mas não será só por uma questão de “lealdade com a
tribo” mas também por medo das represálias da sociedade como se pode deduzir
pelos resultados de uma sondagem efectuada em 1999 pela Gallup e na qual se
perguntava aos americanos se eles votariam numa pessoa bem habilitada e que
fosse mulher:
- 95% Responderam
afirmativamente; se fosse católica 94%; se fosse judia, 92%; se fosse negra,
92%; se fosse homossexual, 79%; se fosse ateu, 49%.
A mentira está, portanto, explicada e justificada como
igualmente se percebe melhor os cuidados e a atenção, por vezes demasiada, com
que os candidatos à Casa Branca se referem e tratam o tema religião nas suas
campanhas eleitorais.
Consequentemente, os não crentes têm muita dificuldade
em assumirem-se, sobretudo entre a elite mais instruída e não é só de hoje.
John Stuart Mill, já no sec. XIX afirmava: "O mundo
ficaria espantado se soubesse quantos dos seus melhores ornatos, dos que mais
se distinguem pelo apreço popular, sabedoria e virtude são completamente
cépticos”.
Aqui, neste ponto, levanta-se a questão de saber se
para sermos bons precisamos de Deus ou se uma crença religiosa é necessária
para que tenhamos preceitos morais.
Vale a pena transcrever, a propósito da razão de sermos
bons, este notável pensamento de Albert Einstein:
- “Estranha é a
nossa situação aqui na Terra. Cada um de nós vem para uma curta visita, sem
saber porquê, por vezes parecemos adivinhar um objectivo. No entanto, do ponto
de vista do quotidiano, há uma coisa que sabemos: que o homem está aqui pelos
outros homens – acima de tudo por aqueles de cujos sorrisos e bem-estar depende
a nossa própria felicidade”.
Há pessoas religiosas que têm dificuldade em imaginar
como é que alguém sem religião pode ser bom e para que há-de querer ser bom.
E depois, há outras ainda, que desenvolvem ódio contra
aqueles que não partilham a sua fé, um ódio violento, de morte sem contemplações
e isto na defesa da religião que professam!
Por que é que se acredita que para se defender Deus é
preciso ser-se tão feroz?
Há estudos e experiências efectuadas com ateus e
crentes religiosos que permitem concluir não existirem diferenças estatísticas
significativas entre uns e outros quanto a juízos morais pelo que não
precisamos da religião para sermos bons ou maus.
Mas então se Deus não existe para quê ser bom?
A este propósito dizia Einstein: “Se as pessoas são só
boas porque temem o castigo e esperam a recompensa, então somos mesmo uma
triste cambada.”
O grande filósofo Emanuel Kant, embora religioso, como
era quase inevitável à época, baseou toda a moralidade no dever pelo dever e
não em função de Deus.
É verdade que a filiação num partido político nos EUA
não é um indicador perfeito do factor religiosidade mas não é segredo nenhum
que os estados republicanos são fortemente influenciados pelos cristãos
conservadores pelo que seria de esperar uma sociedade mais saudável
relativamente aos estados democratas onde a influencia do conservadorismo
cristão não se faz tanto sentir.
Essa não é, no entanto, a realidade. Das 25 cidades
com mais baixos índices de crimes violentos 62% acontecem nos estados
democratas e 38% nos republicanos. Das 25 cidades mais perigosas 76% estão em
estados republicanos e 24% nos democratas.
Na verdade, 3
das 5 cidades mais perigosas do EUA situam-se no devoto estado do Texas e dos
22 estados com índices de homicídio mais elevado, 17 são republicanos.
No jornal of Religion and Society (2005), Gregory S.
Paul levou a cabo um estudo comparativo sistemático de 17 nações economicamente
desenvolvidas, chegando à devastadora conclusão que:
- “Nas
democracias prósperas, índices mais elevados de crença e adoração de um criador
correlacionam-se com índices mais elevados de homicídio, mortalidade juvenil e
precoce, índices de contágio de doenças sexualmente transmissíveis, gravidez na
adolescência e aborto”.
Estes resultados atingiram tão profundamente as
propaladas pretensões de superior virtude moral por parte das pessoas
religiosas que se assistiu de imediato a um acréscimo da investigação
desencadeada por organizações religiosas que os tentaram refutar…mas até à data
ainda nada apareceu que desmentisse os dados do estudo referido e as conclusões
a que eles conduzem.
Mas, regressemos de novo à pergunta inicial acerca da
existência de Deus e sobre ela vamos abrir um leque de probabilidades de 0 a 100%.
1º -Ateu convicto - “Sei que Deus não existe com o
mesmo grau de convicção com que Carl Gustav Jung “sabe” que ele existe;
2º -Ateu de Facto – Uma probabilidade muito baixa mas
acima do zero. “Não tenho a certeza, mas acho muito improvável Deus existir e
vivo a minha vida no pressuposto de que ele não existe”.
3º-Tecnicamente Agnóstico – Abaixo dos 50% mas não
muito, tende para o ateísmo. “Não sei se Deus existe, mas inclino-me para o
cepticismo”.
4º- Agnóstico Completamente – Exactamente 50%. “A
existência ou a não existência de Deus são igualmente incomprováveis.
5º- Tecnicamente Agnóstico - Acima dos 50% mas não
muito elevado a tender para o teísmo. “Estou muito indeciso, mas inclinado a
acreditar em Deus”.
6º- Teísta de Facto – Grande probabilidade mas aquém
dos 100%. “Não posso ter a certeza, mas acredito firmemente em Deus e vivo a
minha vida no pressuposto de que ele existe”
7º- Teísta Convicto – 100% de probabilidades da
existência de Deus. Nas palavras de C. G. Jung, “Eu não acredito, eu sei”.
Reflectindo sobre este leque de hipóteses sobre a
existência de Deus, e embora admita que existem pessoas para cada uma das sete
hipóteses, a primeira e a última são, para mim, as mais credíveis e as mais
sinceras.
Acreditar ou não acreditar em Deus tem a ver com uma
questão de fé que não é possível existir em pequenas, médias ou grandes doses,
ou se tem fé ou não se tem.
Se sim, acredita-se em Deus a 100%, na modalidade
teísta ou deísta.
Se não se tem fé, coerentemente, só se pode ser ateu.
As hipóteses intermédias têm a ver com a delicadeza do
tema:
Todos nascemos em sociedades mais ou menos religiosas
e há um grau de religiosidade que, diria, nos é insuflado logo após o primeiro
choro e que cada um de nós desenvolve em maior ou menor grau em função das
características da nossa própria personalidade e do contexto social em que a
nossa vida decorre.
E, em certos contextos sociais, não é fácil, muitas
vezes é impossível, que alguém se consiga libertar totalmente de um elemento
que insuflado à nascença é como se fosse constitutivo de si próprio e por isso
aquele limbo de incerteza, de cepticismo, de dúvida tão difícil de quebrar e
que não é mais do que um refúgio onde escondemos todos os “diabinhos” que nos
assaltam.
Eu penso que a fragilidade do ser humano, este nosso
intelecto que nos superioriza tão claramente aos restantes animais mas que não
chega para fazer de nós deuses, este ficar a meio caminho, nem animal nem deus,
se traduz, de facto, numa fragilidade.
- Ser ateu, é um acto de coragem, é regressar
definitivamente à terra e aos animais a que pertencemos e cuja evolução
encabeçamos.
- Ser ateu, é um acto de humildade para com a vida, é
deixar de ser pretensioso e “convencido” sobre aquilo que, de facto, não somos
por muito que gostássemos de o ser.
- Ser ateu, é perceber que a vida desenrola-se à nossa
volta e é nela que temos de concentrar todas as nossas energias e capacidades.
- Ser ateu é respeitar a natureza como um legado dos
nossos antepassados a transmitir aos nossos descendentes com o máximo respeito
por todas as formas de vida.
- Ser ateu é respeitar todas as pessoas
independentemente de elas o serem ou não.
- Ser ateu, é amar a vida e os outros muito em especial
“aqueles de cujos sorrisos e bem-estar a nossa felicidade depende (Einstein)”
Richard Dawkins
Richard Dawkins
OBS - Nesta perspectiva, é capaz de haver mais ateus do que julgamos...
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