terça-feira, junho 25, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 51


Já vai? – perguntou Joaquim

 - Vou pegar a saída do cinema.

Saiu se arrastando na bengala, curvo, coberto de farrapos.

- Ele já se acostumou a andar assim – disse Joaquim.

 - Por que é que ele só conversa coisas tristes? – o Gordo não sabia, mas tinha pena porque era muito bom.

 - Ele sabe mais do que a gente – afirmou António Balduíno.

Na outra mesa um mulato de pastinha explicava a um negro:

 - Moisés mandou para o mar e atravessou com os cristãos todos…

 - Eu converso para me divertir – falou Joaquim.

O Gordo se queixou:

 - Ele não devia ter feito isso hoje que era dia do meu aniversário…

 - O quê?

 - Contar coisa triste… Tirou toda a graça.

 - Nada. Vamos fazer uma farra na casa de Zé Camarão. A gente arranja umas morenas – convidou António Balduíno.

O Gordo pagou as despesas. Na outra mesa o mulato contava a história do rei Salomão que tinha seiscentas mulatas.

 - Macho bom – disse António Balduíno soltando uma gargalhada.

Fizeram a farra, se entupiram de cachaça, amaram umas cabrochas bem bonitas, mas não conseguiram esquecer Viriato, o Anão, que não tinha ninguém para tratar sua maleita.

Joana fazia cenas por causa de outras mulatas, que eram amadas igualmente por António Balduíno. Mulata que aparecesse na sua frente era mulata amigada com ele.

Na força dos seus dezoito anos, fortes e malandros, criara um grande prestígio entre as cabrochas da cidade, empregadas, lavadeiras, negrinhas que vendiam acarajé e abará.

Ele sabia conversar com elas e terminava sempre por levá-las para o areal, onde se enroscavam, sem sentir a areia que entrava pela carapinha.

Ele as amava e não as via mais. Passavam pela sua vida como aquelas nuvens que passavam pelo céu e que serviam para ele fazer as comparações com elas:

 - Os olhos de você de tão pretos parecem aquela nuvem…

 - Chi! Vai chover…

 - Então vamos para casa… Eu sei de um lugar onde a gente fica bem abrigado.

Porém Joana tinha aquele perfume no cangote. Se agarrava a ele, brigava quando sabia que o negro dera em cima de uma cabrocha qualquer, dizem até que fez feitiço para que ele não a abandonasse.


Tinha amarrado numa cueca do amante penas de galinha preta, e uma farofa de azeite de dendê onde cinco vinténs de cobre apareciam. Pôs tudo isso na porta de António Balduíno numa noite de lua cheia.

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