segunda-feira, junho 03, 2013

Jubiabá era o líder de todos os negrinho de rua da Baía.
JUBIABÁ

Episódio nº 32





Só ele é dono da cidade porque só ele a conhece toda, sabe de todos os seus segredos, vagabundeou em todas as suas ruas, se meteu em quanto barulho houve, em quanto desastre aconteceu em sua cidade.

Ele fiscaliza a vida da cidade que lhe pertence. Esse é seu emprego. Olha todos os seus movimentos, conhece todos os valentes da cidade, vai às festas líricas, recebe e embarca os viajantes de todos os navios.

Sabe o nome de todos os saveiros e é amigo dos canoeiros que pousam no Porto da Lenha. Come a comida dos restaurantes mais caros, anda nos automóveis mais luxuosos, mora nos mais novos arranha-céus. E pode se mudar a qualquer momento. E como é dono da cidade não paga a comida, nem o automóvel, nem o apartamento.

Solto na cidade dos sobrados enormes, ele a dominou e se tornou seu dono. Os homens que passam não sabem disso com certeza. Nem olham para o negrinho esfarrapado que fuma um cigarro barato e traz um boné em cima dos olhos.

As mulheres elegantes lhe dão um níquel, o evitam para não se sujarem ao seu contacto.

Mas na verdade o negro António Balduíno é o Imperador da cidade negra da Baía. Um Imperador de quinze anos, risonho e vagabundo. Talvez nem o próprio António Balduíno o saiba.


Traz um boné em cima dos olhos e fuma um cigarro barato. Uma calça de casimira preta, rasgada e cheia de manchas, e um paletó enorme, herdado de alguém muito mais alto do que ele, paletó que no inverno é transferido a sobretudo, tal é a vestimenta do Imperador da cidade.

E aqueles outros negros que o rodeiam são seus súbitos mais queridos, a sua guarda de honra. Guarda que não tem farda especial, veste trapos, calça chinelos abandonados nas latas de lixo, mas que sabe lutar como nenhuma outra guarda do mundo.

O Imperador tem uma grande figa amarrada ao pescoço. E ele e os moleques da sua guarda trazem escondido no cós da calça, navalhas, punhais e canivetes.


António Balduíno se adianta:

 - Uma esmola por amor de Deus…

O homem gordo mede o negro de cima a baixo com os olhos ávidos de um homem de negócios, abotoa o paletó, abana a cabeça ironicamente:

 - Um pedaço de homem desses a pedir esmola! Vai trabalhar, vagabundo… Não tem vergonha… Vá trabalhar…

António Balduíno primeiro passa os olhos pela rua. Está muito movimentada. Então diz:

 - Eu cheguei de fora, meu senhor… Vim me batendo por este sertão de Deus que está seco, sem um pingo de chuva. Estou aqui sem trabalho… Mas estou procurando… Quero um níquel para tomar café… Tá se vendo que o senhor é um homem direito…

Espia o efeito do homem. Mas o homem vai andando:

 - Já estou acostumado com essas mentiradas… Vá trabalhar…

 - Juro pelo sol que nos está alumiando que não é mentira. Vim debaixo de um solão de fazer medo… Se o senhor tem um trabalho eu pego. Não tenho medo do trabalho… Mas desde ontem que não como… Estou aqui caindo de fome. O senhor é um homem direito…

O homem faz um gesto aborrecido, mete a mão no bolso e joga um níquel.


 - Não me aborreça mais… Vá embora…

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