sábado, agosto 10, 2013

Estava desmoralizado. Já não era o imperador da cidade...
JUBIABÁ

Episódio Nº 81


Que foi feito da velha valsa triste que não enche mais o coração destes negros, que os deixa sozinhos com a história de Jubiabá? Onde estava a voz do negro que cantava? Agora só o cego geme no violão e todos o ouvem. O menino pálido e tísico recolhe num prato de flandres moedas para o cego que é seu pai. Um homem diz:

 - Não dou não. O velho não sabe tocar…

Porém todos o olham com tais olhos que ele bota um níquel no prato:

 - Tava brincando, meu bem…

A voz de Jubiabá:

 - A macaca Catita matava galinhas, andava pelas casas. O macaco levava nós para a roça e sentava no cepo. Quando negro não trabalhava ele surrava negro. Às vezes surrava sem motivo. Ele matou negro com chicote…

As luzes tremem na “Lanterna dos Afogados”. O cego toca um baticum no violão.

 - Senhor Leal gostava de soltar Catito em cima das negras… Catito matava elas para gozar nelas…Um dia o senhor soltou Catito em cima de uma negra nova, casada com um negro novo. Senhor Leal tinha visitas…

O Gordo está tremendo todo. Volta ao longe a toada triste… Cessa o violão do cego que conta os níqueis recolhidos.

 - Catito se jogou em cima da negra e o negro em cima de Catito…

Jubiabá olha ao longe a noite. A lua está amarela.

 - Senhor Leal atirou no negro que já tinha dado duas facadas no macaco… A negra também morreu. Ficou um bocado de sangue no lugar. As visitas ficou tudo rindo muito alegre. Menos uma mocinha branca, que ficou doida de noite vendo o macaco e o negro…

A valsa triste canta perto.

 - Mas de noite um irmão do negro matou senhor Leal. O irmão do negro eu conheci. Foi ele quem me contou a história…

O Gordo está junto de Jubiabá. O cachimbo de mestre Manuel brilha como uma estrela. No escuro do mar uma voz canta uma toada triste:

                                   - «Mata-me esta dor
                                     de eu não vê-la mais…»

A voz canta alto, sonora, saudosa.

Jubiabá diz:

 - Eu conheci o irmão…

António Balduíno segura o punhal na altura do peito.

Jubiabá dizia:

 - Ôju ànun fó ti iká, li ôku.


Sim, António Balduíno, bem sabia que o olho da piedade já vasara e que ficara somente o olho da ruindade. Na noite misteriosa do cais, cheia de músicas diversas, ele quis soltar a sua gargalhada alta, que era seu grito de liberdade. Mas ele a havia perdido. Estava desmoralizado. Já não era imperador da cidade, já não era Baldo, o boxeur. 

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