Estava desmoralizado. Já não era o imperador da cidade... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 81
Que foi feito da velha
valsa triste que não enche mais o coração destes negros, que os deixa sozinhos
com a história de Jubiabá? Onde estava a voz do negro que cantava? Agora só o
cego geme no violão e todos o ouvem. O menino pálido e tísico recolhe num prato
de flandres moedas para o cego que é seu pai. Um homem diz:
- Não dou não. O velho não sabe tocar…
Porém todos o olham com
tais olhos que ele bota um níquel no prato:
- Tava brincando, meu bem…
A voz de Jubiabá:
- A macaca Catita matava galinhas, andava
pelas casas. O macaco levava nós para a roça e sentava no cepo. Quando negro
não trabalhava ele surrava negro. Às vezes surrava sem motivo. Ele matou negro
com chicote…
As luzes tremem na
“Lanterna dos Afogados”. O cego toca um baticum no violão.
- Senhor Leal gostava de soltar Catito em cima
das negras… Catito matava elas para gozar nelas…Um dia o senhor soltou Catito
em cima de uma negra nova, casada com um negro novo. Senhor Leal tinha visitas…
O Gordo está tremendo
todo. Volta ao longe a toada triste… Cessa o violão do cego que conta os
níqueis recolhidos.
- Catito se jogou em cima da negra e o negro
em cima de Catito…
Jubiabá olha ao longe a
noite. A lua está amarela.
- Senhor Leal atirou no negro que já tinha
dado duas facadas no macaco… A negra também morreu. Ficou um bocado de sangue
no lugar. As visitas ficou tudo rindo muito alegre. Menos uma mocinha branca,
que ficou doida de noite vendo o macaco e o negro…
A valsa triste canta
perto.
- Mas de noite um irmão do negro matou senhor
Leal. O irmão do negro eu conheci. Foi ele quem me contou a história…
O Gordo está junto de
Jubiabá. O cachimbo de mestre Manuel brilha como uma estrela. No escuro do mar
uma voz canta uma toada triste:
- «Mata-me esta dor
de eu não
vê-la mais…»
A voz canta alto, sonora,
saudosa.
Jubiabá diz:
- Eu conheci o irmão…
António Balduíno segura o
punhal na altura do peito.
Jubiabá dizia:
- Ôju ànun fó ti iká, li ôku.
Sim, António Balduíno, bem
sabia que o olho da piedade já vasara e que ficara somente o olho da ruindade.
Na noite misteriosa do cais, cheia de músicas diversas, ele qui s soltar a sua gargalhada alta, que era seu grito
de liberdade. Mas ele a havia perdido. Estava desmoralizado. Já não era
imperador da cidade, já não era Baldo, o boxeur.
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