sexta-feira, agosto 09, 2013

O Por Quê das Religiões
(continuação)

Richard Dawkins – “A Desilusão de Deus”



Uma panorâmica antropológica como a que nos proporciona Frazer, em "Golden Bough", dá bem conta da diversidade de crenças irracionais humanas.

Uma vez entrincheiradas numa cultura perduram, desenvolvem-se e espalham-se de uma forma que faz lembrar a evolução biológica.

No entanto, Frazer, distingue alguns princípios gerais, como, por exemplo, a “magia homeopática” de acordo com a qual os feitiços e encantamentos vão beber algum aspecto simbólico ao objecto do mundo real que pretendem influenciar.

Um exemplo com consequências trágicas é que o corno do rinoceronte, uma vez reduzido a pó, possui propriedades afrodisíacas.

Completamente absurda, a lenda tem a origem na suposta semelhança entre o corno e um pénis viril.

Presumo que as religiões, tal como as línguas, vão evoluindo de uma forma bastante aleatória. Muitas delas, ensinam a doutrina – subjectivamente aliciante – de que as nossas personalidades sobrevivem à nossa morte física.

Esta ideia de imortalidade sobrevive e alastra porque vai ao encontro dos que tendem a tornar os desejos por realidade.

E esta ilusão tem o seu valor porque a psicologia humana encerra uma tendência quase universal para permitir que a crença se deixe colorir pelo desejo. («o teu desejo, Harry, foi pai desse teu pensamento» disse Henrique IV ao filho).

Parece não haver dúvida nenhuma que muitos dos atributos da religião estão ao serviço da sobrevivência da própria religião.

Os líderes religiosos são perfeitamente capazes de verbalizar os truques que ajudam à sobrevivência da religião.

Martinho Lutero tinha perfeita consciência de que a razão era a arqui-inimiga da religião e muitas vezes advertiu para os seus perigos:

 - «A razão é o maior inimigo da fé, nunca vem em auxílio das coisas espirituais, e as mais das vezes luta contra o Verbo divino, tratando com desprezo tudo o que emana de Deus».

E num outro passo acrescentou:

 - «Quem quiser ser cristão deve arrancar os olhos à sua própria razão». «A razão deve ser destruída em todos os cristãos».

Este homem, aponta inteligentemente aspectos inteligentes para ajudar a religião a sobreviver mantendo-se como um astuto e feroz observador da sua eficácia.


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