(continuação)
Richard Dawkins – “A Desilusão de Deus”
Uma panorâmica antropológica como a que
nos proporciona Frazer, em "Golden Bough", dá bem conta da diversidade de crenças
irracionais humanas.
Uma vez entrincheiradas numa cultura
perduram, desenvolvem-se e espalham-se de uma forma que faz lembrar a evolução
biológica.
No entanto, Frazer, distingue alguns
princípios gerais, como, por exemplo, a “magia homeopática” de acordo com a
qual os feitiços e encantamentos vão beber algum aspecto simbólico ao objecto
do mundo real que pretendem influenciar.
Um exemplo com consequências trágicas é
que o corno do rinoceronte, uma vez reduzido a pó, possui propriedades
afrodisíacas.
Completamente absurda, a lenda tem a
origem na suposta semelhança entre o corno e um pénis viril.
Presumo que as religiões, tal como as
línguas, vão evoluindo de uma forma bastante aleatória. Muitas delas, ensinam a
doutrina – subjectivamente aliciante – de que as nossas personalidades
sobrevivem à nossa morte física.
Esta ideia de imortalidade sobrevive e
alastra porque vai ao encontro dos que tendem a tornar os desejos por
realidade.
E esta ilusão tem o seu valor porque a
psicologia humana encerra uma tendência quase universal para permitir que a
crença se deixe colorir pelo desejo. («o teu desejo, Harry, foi pai desse teu
pensamento» disse Henrique IV ao filho).
Parece não haver dúvida nenhuma que
muitos dos atributos da religião estão ao serviço da sobrevivência da própria
religião.
Os líderes religiosos são perfeitamente
capazes de verbalizar os truques que ajudam à sobrevivência da religião.
Martinho Lutero tinha perfeita
consciência de que a razão era a arqui -inimiga
da religião e muitas vezes advertiu para os seus perigos:
-
«A razão é o maior inimigo da fé, nunca vem em auxílio das coisas espirituais,
e as mais das vezes luta contra o Verbo divino, tratando com desprezo tudo o
que emana de Deus».
E num outro passo acrescentou:
-
«Quem qui ser ser cristão deve
arrancar os olhos à sua própria razão». «A razão deve ser destruída em todos os
cristãos».
Este homem, aponta inteligentemente
aspectos inteligentes para ajudar a religião a sobreviver mantendo-se como um
astuto e feroz observador da sua eficácia.
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