domingo, agosto 25, 2013

HOJE É DOMINGO
(Na minha cidade de Santarém)


Os portugueses vivem num "crucial dilema" de que não conseguem fugir:

 - Se não forem capazes de diminuir as Despesas do Estado não cumprem o Deficit mas se o fizerem dão cabo da economia, baixando o “poder de compra” dos portugueses e, consequentemente, diminuindo as Receitas e lá se vão, neste jogo de Receitas/Despesas, as vantagens para o déficit da diminuição das despesas… crucial , terrível dilema!

Todos nós temos tendência para pensar que a economia dos países se gere da mesma forma que a de uma família:

 - Se os rendimentos da família aumentam, por promoções, prémios, subsídios ou lucros da empresa, gasta-se mais e vive-se melhor: mais vezes ao restaurante, mais dias de férias, compra de mais umas roupitas, enfim, um comportamento normal.

 - Caso contrário, se lhe baixam o ordenado, retiram o subsídio e o prémio, ou diminuem os resultados da exploração da actividade, corta-se na despesa e lá vão as férias, as refeições no restaurante, etc…

Entre uma coisa e outra: o ganhar e o gastar, aquilo a que o povo chama: “chapa ganha, chapa gasta” temos ainda o poupar, que acontece quando interrompemos a lógica do “chapa ganha, chapa batida” e depositamos uma parte no Banco ou fazemos um seguro.

Regra essencial a respeitar será a do “equilíbrio das contas” ou seja, não se pode ou deve gastar mais do que se tem: viver dentro das receitas, das nossas “posses”… conselho das nossas avós… não for assim e as contas desequilibram-se e lá vêm as dívidas que, se forem bancárias, representam mais um prato à mesa, o dos juros, ao qual a comida nunca pode faltar…

Os meus patrícios têm pouca propensão para poupar, o que eles gostam mesmo é de gastar… o que é compreensível numa sociedade onde o apelo ao consumo nos “entra” por todo o lado e onde “o ter” se transformou em quase sinónimo de felicidade.

Durante muitos anos vivemos numa estabilidade enganadora, tentadora, que nos levou a confiar no dia de amanhã que, se “Deus quiser”, irá ser pelo menos igual ao de hoje.

 Para os verdadeiros imprevistos, teríamos sempre a protecção da Srª de Fátima, genuinamente uma santa portuguesa, reconhecida internacionalmente que até já terá salvo a vida de um Papa desviando, miraculosamente, a trajectória fatal de uma bala assassina.

Parecia, assim, que com um pouco de fé à mistura e estabilidade quanto baste, as dificuldade de gestão de uma família portuguesa não passavam de simples contas de somar e subtrair, tudo por baixo porque, é claro, sempre fomos para o pobrezinho.

Gerações atrás, num Portugal mais rural, década de 60, tínhamos a almofada familiar, a “voz do sangue” e em último caso a emigração... a “salto para Paris de França."  

Tivemos durante 13 anos cerca de 150.000 homens permanentemente no palco da guerra colonial - 1961 a 1973 -  e outros milhares em apoio a estes. O regime considerava essa guerra como uma missão de soberania sobre o solo pátrio e a oposição ao regime acusava-o de sacrificar a vida dos cidadãos à defesa dos interesses económicos de grupos ou famílias donos de grandes explorações de café, sisal, algodão, minérios, etc...aos quais se veio juntar, por fim, o "malfadado" petróleo que havia de fazer aumentar ainda mais a cobiça por aqueles territórios...

Entretanto, a família tradicional desagregou-se. Hoje tem mais dificuldades em responder em termos de apoio e os velhos, esquecidos e abandonados, são cada vez em maior número nos hospitais. Ninguém aparece para os levar… 

Cruel destino de uma vida!

E ao nível do país, como se passam as coisas?

O Estado, como uma grande família alargada, patrão de uma considerável percentagem de cidadãos, garante de reformas e pensões tem, como eles, Receitas e Despesas e também para ele a regra essencial é a do Equilíbrio das Contas.

Mas se um país durante muitos anos esteve numa espécie de marasmo, letargia, se o objectivo era viver de costas para o progresso, ele próprio considerado perigoso para a estabilidade política e paz social, atentatório de princípios e valores religiosos e tradicionais, como progredir, desenvolver e melhorar as condições de futuro sem receitas de petróleo ou minas de ouro, que senão seja pedir emprestado, criar dívida, a Soberana, que é do Estado e de todos nós?

Esta possibilidade que rompe o equilíbrio das Contas porque vamos gastar o que não temos, está prevista, é defensável e adoptada em grande parte dos países mas é sempre uma decisão de risco porque atiramos com responsabilidades para o futuro e, por isso, há pressupostos que devem ser respeitados, caso contrário o país pode ser conduzido a uma situação de banca rota em que para satisfazer as suas necessidades de dinheiro, numa situação em que não tenha moeda própria, vai ao mercado financeiro e já ninguém lhe empresta.

Aconteceu connosco, em princípios de 2011, no segundo governo de José Sócrates, o que nos obrigou a celebrar um Memorando de Entendimento em Maio desse ano, com representantes do Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia, a Troika, para um empréstimo de 78.000 milhões de euros a pagar em 3 anos e mediante a satisfação de compromissos a respeitar pelo país que agora são fonte de discórdia e contestação.

(continua no próximo Hoje é Domingo)

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