Largo do Seminário |
HOJE É
DOMINGO
(Na minha cidade de Santarém)
Referi-me, no último “Hoje é Domingo” à
inadmissível legalidade da candidatura de Isaltino Morais à Presidência da
Assembleia Municipal da Câmara de Oeiras.
Não me admirou, pois, que o Tribunal de
Oeiras a tivesse julgado inelegível. Qualquer pessoa de normal bom senso não
pode deixar de concordar com esta decisão que impede um sujeito, Presidente da
Câmara, que está preso por ter sido condenado por crimes de branqueamento de
capitais, fraude fiscal e abuso de poder, de recandidatar-se a um cargo de
governação autárqui ca como é o de
Presidente da Assembleia Municipal.
Até aqui
tudo bem, ou melhor, tudo normal.
O que é estranho e preocupante é que o
fundamento da decisão seja uma questão material. O referido senhor não pode
candidatar-se porque estando na prisão a cumprir pena não pode ausentar-se para
tomar posse se, eventualmente, fosse eleito… - as sondagens colocam à frente a sua lista!!!…
É uma razão meramente formal, nada de
substancial: -“simplesmente, não pode estar presente para tomar posse”….
E, não fosse este "pequeno e irritante
pormenor", o douto Tribunal não teria visto qualquer outro impedimento…
Se o Tribunal tivesse fundamentado a sua
decisão na circunstância deste senhor ser um vigarista, condenado em Tribunal
depois de múltiplos recursos, por ter enganado e roubado o Estado e manipulado
os cidadãos, corria o risco, provavelmente, de “ofender” o Sr. Isaltino Morais
e ser por ele acusado, em mais um processo, devido a ofensas pessoais…
Os cidadãos deste país estão a ser
vítimas de uma situação em que os valores e os princípios de honestidade,
seriedade e cidadania deram lugar aos aspectos legais ou "legalistas" das
questões.
A fundamentação desta decisão revela que
somos governados pela manipulação das leis ao sabor dos interesses partidários
e, naturalmente, também económicos.
Vamos tomando conhecimento que grande
parte dos políticos são formados em Direito, alguns até constitucionalistas e,
portanto, todos muito à vontade para concertarem entre si questões de leis, ora
apelando para a “letra” da lei ou para o seu “espírito” ou “espíritos” consoante
mais convier.
Veja-se, por exemplo, que a Assembleia
da República decide que o número máximo de mandatos dos autarcas é de três, num
total de doze anos de exercício de poder. E di-lo claramente com o fundamento
de evitar as consequências negativas da perpetuação e acomodação ao poder com
riscos de fenómenos de caciqui smo e
corrupção.
A letra da lei é clara: não mais que
três mandatos e ponto final. Letra e espírito da lei conferem e coincidem um
com o outro, nada mais a acrescentar.
Mas aí aparece a tal manipulação das
leis dos muitos juristas que sempre encharcaram a nossa sociedade… que a lei
não proíbe a candidatura à Câmara vizinha.
Por
exemplo, Vila Nova de Gaia e Porto, separadas pelas águas do Douro. Mesmo que
isso represente a subversão da lei que qui s
acabar com os autarcas “dinossauros” mergulhados, por força das suas funções
executivas, no mundo dos interesses empresariais que são exactamente os mesmos
deste ou do outro lado do rio, lá teremos o Dr. Filipe Menezes a saltar ou a querer saltar, de uma margem para a outra,..
Estes senhores autarcas que manifestam
tanto apego ao poder a troco de remunerações que nada têm de sedutoras dão que
pensar…
Será
apenas a volúpia do mando, da autoridade, da “chapelada” ao Sr. Presidente, ou
o amor à terra que ninguém é capaz de amá-la como nós? … Mas não, esta razão
bonita, qui çá romântica, não cola
porque o que eles querem é o poder pelo poder, na Câmara onde foram presidentes
ou noutra qualquer, pouco importa, tanto faz… Espírito de missão? … Qual
missão?...
Não nos basta já o triste e deprimente
espectáculo de Alberto João Jardim, pendurado no seu charuto, há 35 anos na cadeira do poder, à
frente do Governo da Madeira?
Ele teve alguma dificuldade em fazer
reverter a democracia em favor da sua perpetuação no poder?
Alguém tem dúvidas que a Madeira é já,
de há uns anos a esta parte, de um conjunto alargado de amigos e dependentes seus
empregados na máqui na do governo
Regional, mais do que do que da sua competência e dotes de oratória?
Percebem o porquê da Lei de Limitação
dos Mandatos que irá agora ser desembrulhada pelos Juízes do Tribunal
Constitucional onde, mais uma vez, as opiniões se vão dividir… ou não fossem
eles de Direito!
Pessoalmente, quase que aposto, a favor
dos “dinossauros” da política autárqui ca
e partidária…
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