Episódio Nº 87
Ali quase só mulheres, pálidas e macilentas mulheres
de olhos compridos, fabricavam charutos caros para fins de banquetes
ministeriais.
Os homens não tinham jeito, possuíam as mãos grossas
demais para aquele trabalho que, no entanto, era pesado e difícil.
Na tarde chuvosa do dia da chegada, eles atravessaram
de canoa o rio Paraguaçu que separava as cidades. No fundo a ponte enorme. O
Gordo ia contando uma história, que o Gordo nascera mesmo para poeta e se
soubesse escrever e ler poderia ganhar a vida fazendo A B C e histórias em versos.
Mas o Gordo nunca fora à escola e se contentava em
narrar com a sua voz baixa e sonora os casos que ouvia, as velhas lendas que
aprendera na cidade, e as histórias que inventava quando bebia.
Se não fosse a sua mania de meter anjos em todas as
histórias, ainda seria melhor. Mas o Gordo era muito religioso também.
A canoa evitava as pedras. O rio estava seco e homens
de calças arregaçadas e dorsos nus pescavam o jantar. O Gordo ia contando:
- Então Pedro
Malazarte, que era um bicho sabido, disse ao homem: - é um rebanho enorme de
porcos… tem mais de qui nhentos… que qui nhentos que nada… tem mais de mil… dois mil… três
mil… de tantos que até já perdi a conta…
- O homem de
panela só via os rabos enterrados na areia. Era um mundo de rabos pretos que o
vento remexia. Eles ficava tudo bulindo que nem que tivesse porco mesmo, vivo
de verdade, enterrado na areia.
E Pedro Malazarte foi dizendo: - e esses porcos são
mágicos… quando eles obra sai é dinheiro. É tudo nota de cinco mil réis… Quando
vão crescendo só sai nota de dez e até nota de conto de réis eles bota quando
já estão velho. Eu troco tudo isso por sua panela…
- E o homem não
desconfiou? – interrompeu o canoeiro.
- Nada, o homem
era um tolo e estava com os olhos cheios de porcos. Pegou e trocou a panela com
carne e feijoada pelo rebanho.
Pedro Malazarte avisou: - Vosmecê deixe eles
enterrados até de manhã. De manhã eles sai e vão obrar dinheiro. E o homem
ficou esperando que os porcos aparecesse.
Passou a tarde, passou a noite, passou o outro dia e
até hoje o homem está lá esperando… Se qui ser
é só ir ver…
O canoeiro ria. António Balduíno queria agora ouvir a
aventura da panela. Amava as histórias de Pedro Malazarte, malandro que sabia enganar
os demais e levava uma vidinha gozada.
Imaginava-o vivo, correndo o mundo, sabendo coisas de
todos os países, pois até ao céu Pedro Malazarte já fora levar dinheiro para o
marido de viúva rica que estava passando miséria num hotel vagabundo do paraíso.
E tinha quase certeza que aquele homem calvo que
aparecera na macumba de Jubiabá, não era outro senão Pedro Malazarte,
disfarçado. Aquele homem não correra o mundo e não vira todas as coisas?
- Eu penso na
minha cabeça que aquele homem careca que foi na macumba de pai Jubiabá era Pedro Malazarte...
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