(continuação)
Richard Dawkins “A Desilusão de Deus”
Outra boa possibilidade é
que o ateísmo esteja correlacionado com um terceiro factor, como seja a
formação universitária, a inteligência, ou a actividade reflexiva, que pode
contrariar eventuais impulsos criminosos.
As provas decorrentes da
investigação em nada corroboram a opinião comum de que a religiosidade tem uma
correlação positiva com a moralidade.
As provas de índole
correlacional nunca são conclusivas, mas os dados que se seguem, descritos por
Sam Harris no livro “Letter to a Christian Nation, não deixam de ser
surpreendentes:
- «Apesar da filiação num partido político,
nos Estados Unidos, não ser um indicador perfeito do factor religiosidade, não
é segredo nenhum que os estados “vermelhos”, -
republicanos – são vermelhos, antes de mais devido à esmagadora
influência política dos cristãos conservadores.
Se houvesse uma correlação
forte entre o conservadorismo cristão e a saúde da sociedade, poderíamos esperar
ver algum sinal disso mesmo na América dos estados «vermelhos».
Mas não. Das 25 cidades com
os mais baixos índices de crimes violentos, 62% estão situados em estados
«azuis» (democratas) e 38% pertencem a estados «vermelhos».
- Das 25 cidades mais perigosas,
76% são de estados «vermelhos» e 24% pertencem a estados azuis. Na verdade,
três das cinco cidades mais perigosas do E.U. situam-se no devoto estado do
Texas.
- Os 12 estados com índices de
assalto mais elevados são «vermelhos» e 24 dos 29 com os índices de furto mais
elevados são «vermelhos».
- Finalmente, dos 22 estados
com índices de homicídio mais elevados, 17 são vermelhos.»
Se a investigação
sistemática alguma coisa nos diz, é no sentido de corroborar estes dados
correlacionais.
No “Journal of Religion and
Society (2005), Gregory S. Paul levou a cabo um estudo comparativo sistemático
de 17 nações economicamente desenvolvidas, chegando à devastadora conclusão de
que «nas democracias prósperas, índices mais elevados de crenças e adoração de
um criador, correlacionam-se com índices mais elevados de homicídio,
mortalidade juvenil e precoce, índices de contágio de doenças sexualmente
transmissíveis, gravidez na adolescência e aborto».
No livro Breaking The Spell,
Dan Dennett comenta com sarcasmo este tipo de estudos em geral:
«Escusado será dizer, estes
resultados atingem tão profundamente as propaladas propensões da superior
virtude moral por parte das pessoas religiosas que se assistiu a um acréscimo considerável
de investigações desencadeadas por organizações religiosas que os tentam
refutar… uma coisa da qual podemos ter a certeza é de que, se existe uma
relação positiva significativa entre o comportamento moral e a filiação, a
prática ou a crença religiosa, essa relação em breve será descoberta, dado serem
tantas as organizações ansiosas por confirmar cientificamente as suas crenças
tradicionais sobre estas questões. (Essas organizações deixam-se impressionar bastante pelo poder que a ciência tem para descobrir a verdade, quando esta corrobora aquilo em que já acreditam...)
Cada mês que passa sem uma
dessas demonstrações acentua a suspeita de que tal não irá acontecer.
(continua)
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