terça-feira, agosto 13, 2013

Se Deus não existe, porquê ser bom?
(continuação)

Richard Dawkins – “A desilusão de Deus”

A este propósito, de sermos bons por medo de castigo de Deus, ouçamos a desencantada experiência de uma greve da polícia em Montreal descrita por Steven Pinker no seu livro The Blank Slate.:

«Na minha época de jovem adolescente, no Canadá orgulhosamente pacífico da romântica década de 1960, eu acreditava verdadeiramente no anarquismo.

Ria-me do argumento dos meus pais de que, se o Estado algumas vez depusesse as armas, logo a vida se transformaria num inferno.

As nossas previsões antagónicas foram postas à prova às oito horas do dia 17 de Outubro de 1969, quando a polícia de Montreal entrou em greve.

Às 11h20 foi assaltado o primeiro banco. Por volta do meio-dia, a maior parte das lojas da baixa estava fechada devido às pilhagens. Passadas poucas horas, os taxistas incendiaram a garagem de um serviço de limusinas que competia com eles pelos fretes para os aeroportos.

Um atirador furtivo colocado num telhado matou um agente da polícia provincial, manifestantes amotinados invadiram vários hotéis e restaurantes, e um médico abateu um ladrão na sua residência dos subúrbios.

No final do dia havia seis bancos assaltados, 100 lojas pilhadas, 12 incêndios ateados, estilhaços de montras suficiente para encher 40 camiões e três milhões de dólares de prejuízos materiais até que as autoridades da cidade tiveram que chamar o exército e, é claro, a inevitável Polícia Montada para repor a ordem.»

Este teste decisivo deixou em farrapos as minhas ideias políticas…

Talvez eu sofra de um incorrigível optimismo por acreditar que as pessoas permaneceriam boas se não fossem observadas e vigiadas por Deus mas, por outro lado, é de crer que a maioria da população de Montreal acreditava em Deus.

Assim sendo, por que razão não foi ela refreada pelo medo a Deus quando a polícia terrena se ausentou temporariamente de cena?

A greve de Montreal não era uma experiência natural boa para testar a hipótese de a fé de Deus nos tornar bons?

Ou será que o cínico H. L. Menken tinha razão quando observou, com mordacidade, que «as pessoas dizem que precisamos da religião quando o que realmente querem dizer é que precisamos da polícia».

É evidente que nem todas as pessoas em Montreal se comportaram mal assim que a polícia saíu de cena. Seria interessante saber se se verificou alguma tendência estatística, por ligeira que fosse, que mostrassem se os crentes pilharam e destruíram menos do que os não crentes.

A minha previsão, ajuizando sem outros dados, teria sido ao contrário. É frequentemente dito com cinismo que nas trincheiras não há ateus.

Inclino-me a pensar, com base nalgumas provas, embora possa ser simplista tirar conclusões a partir delas, que existem muito poucos ateus nas prisões embora, não esteja necessariamente a defender que o ateísmo aumenta a moralidade, se bem que o humanismo, - sistema ético frequentemente associado ao ateísmo – provavelmente o faça.

(continua)

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