(continuação)
Richard Dawkins – “A desilusão de Deus”
A este propósito, de sermos
bons por medo de castigo de Deus, ouçamos a desencantada experiência de uma
greve da polícia em Montreal descrita por Steven Pinker no seu livro The Blank
Slate.:
«Na minha época de jovem
adolescente, no Canadá orgulhosamente pacífico da romântica década de 1960, eu
acreditava verdadeiramente no anarqui smo.
Ria-me do argumento dos meus
pais de que, se o Estado algumas vez depusesse as armas, logo a vida se
transformaria num inferno.
As nossas previsões antagónicas
foram postas à prova às oito horas do dia 17 de Outubro de 1969, quando a polícia
de Montreal entrou em greve.
Às 11h20 foi assaltado o
primeiro banco. Por volta do meio-dia, a maior parte das lojas da baixa estava
fechada devido às pilhagens. Passadas poucas horas, os taxistas incendiaram a garagem
de um serviço de limusinas que competia com eles pelos fretes para os
aeroportos.
Um atirador furtivo colocado
num telhado matou um agente da polícia provincial, manifestantes amotinados
invadiram vários hotéis e restaurantes, e um médico abateu um ladrão na sua residência
dos subúrbios.
No final do dia havia seis
bancos assaltados, 100 lojas pilhadas, 12 incêndios ateados, estilhaços de
montras suficiente para encher 40 camiões e três milhões de dólares de prejuízos
materiais até que as autoridades da cidade tiveram que chamar o exército e, é
claro, a inevitável Polícia Montada para repor a ordem.»
Este teste decisivo deixou
em farrapos as minhas ideias políticas…
Talvez eu sofra de um
incorrigível optimismo por acreditar que as pessoas permaneceriam boas se não
fossem observadas e vigiadas por Deus mas, por outro lado, é de crer que a
maioria da população de Montreal acreditava em Deus.
Assim sendo, por que razão não
foi ela refreada pelo medo a Deus quando a polícia terrena se ausentou
temporariamente de cena?
A greve de Montreal não era
uma experiência natural boa para testar a hipótese de a fé de Deus nos tornar
bons?
Ou será que o cínico H. L. Menken
tinha razão quando observou, com mordacidade, que «as pessoas dizem que
precisamos da religião quando o que realmente querem dizer é que precisamos da
polícia».
É evidente que nem todas as
pessoas em Montreal se comportaram mal assim que a polícia saíu de cena. Seria
interessante saber se se verificou alguma tendência estatística, por ligeira
que fosse, que mostrassem se os crentes pilharam e destruíram menos do que os não
crentes.
A minha previsão, ajuizando
sem outros dados, teria sido ao contrário. É frequentemente dito com cinismo
que nas trincheiras não há ateus.
Inclino-me a pensar, com
base nalgumas provas, embora possa ser simplista tirar conclusões a partir
delas, que existem muito poucos ateus nas prisões embora, não esteja
necessariamente a defender que o ateísmo aumenta a moralidade, se bem que o
humanismo, - sistema ético frequentemente associado ao ateísmo – provavelmente o
faça.
(continua)
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