Largo do Seminário ou do Marquês Sá da Bandeira |
Hoje é Domingo
(Na Minha Cidade de
Santarém)
Finalmente, depois de um muito
atribulado mês político de Julho, chegou o Agosto, o tradicional e verdadeiro
mês de férias, dos emigrantes, dos políticos e dos "chefes-zinhos" da Administração
Pública que, por uma questão de estatuto e de classe (a dos chefes), escolhiam este mês para
se demarcarem dos subalternos e conviverem, hipocritamente, uns com os outros. Lembro-me, há muitos anos, um novo rico, provavelmente da "caliça", com ataques de snobismo, que nas férias, escrevia um postal de Nice a encomendar um saco de carvão. Pelo menos era
assim…
Mas o Agosto era um mês especial porque
quando os chefes estão de férias os subalternos também não trabalham ou
trabalham menos. Toda a gente, de certa maneira, entra de férias…o país quase que parava. Bem vistas as
coisas era burrice escolher-se aquele mês para ir de férias a não ser que se
fosse chefe, claro. Quem ficava ao serviço em Agosto tinha dois meses de
férias…um deles mesmo longe das praias que, de resto, nos restantes meses do Verão eram bem mais agradáveis e
com menos bichas (eu continuo a dizer bichas) …
As aldeias do interior voltam agora a
encher-se de gente, emigrantes, com direito a entrevista de televisão à chegada
à fronteira (esperam-se 25.000 automóveis em dois dias). As festas e romarias
fazem ainda com que esses dias sonhados passem mais depressa... e que precisados
estamos de um pouco de alegria num país triste e descrente.
Mas, quem pode ir de férias? Os
desempregados? Os do subsídio de desemprego? Os trabalhadores do salário
mínimo? Os pensionistas e reformados dos 600 euros, aqueles que o governo
garante que não vão sofrer cortes?...
Mas vamos pensar nos outros, no que
resta da classe média, empregados e pensionistas. Com que estado de espírito
vão eles de férias, já a bailar-lhes na cabeça os cortes que vão sofrer para equi librar o Orçamento para o próximo ano dentro dos deficits impostos pela
troika? Será que em 2014, muitos dos que foram este ano ainda poderão ir de férias?
As respostas dadas pelos portugueses às
perguntas das sondagens feitas na semana revelam bem o seu estado de espírito,
cada vez mais distante dos partidos e dos políticos, convencidos de que nenhum cidadão, verdadeiramente honesto, isento e competente, virá um dia a alcançar o
poder para defender os seus interesses.
Parece que Portugal pertence a um grupo
de cerca de 200 pessoas que rodam entre si os lugares onde se tomam as
decisões, na Banca Pública (CGD e Banco de Portugal – a mais privilegiadas das
subcastas onde um par de anos de gestão dá direito a uma reforma milionária
para o resto da vida), a Banca Privada, as Empresas Públicas, Grandes
Escritórios de Advogados, onde se traficam influências, o Governo e em escala
menor nas Autarqui as.
Saiu agora um livro da autoria de
Gustavo Sampaio, denominado “Os Privilegiados”. O
autor é jornalista e pós graduado em Direitos Humanos
e Ciência Política e que trata, exactamente, desse “Clube” de pessoas, as tais
cerca de 200, que dominam o país porque, de facto, são donas dele.
Algumas devem esse poder a mérito pessoal com a ajuda de uma rede de contactos e influências que está sempre presente mas, muitos outros, chegaram onde estão à custa dos piores métodos de selecção abrindo caminho à custa do Estado, fazendo negócios com o Estado, sob a protecção do Estado, em suma, roubando o Estado.
Algumas devem esse poder a mérito pessoal com a ajuda de uma rede de contactos e influências que está sempre presente mas, muitos outros, chegaram onde estão à custa dos piores métodos de selecção abrindo caminho à custa do Estado, fazendo negócios com o Estado, sob a protecção do Estado, em suma, roubando o Estado.
No seu livro, Gustavo Sampaio, compila
minuciosamente as actividades públicas destes senhores e senhoras.
Miguel Sousa Tavares, que esta semana
nos fala do livro no seu artigo do Expresso, refere mesmo que os dados
mencionados nos mostram à evidência que nada acontece por acaso:
“Há, de facto, uma mão
invisível que tece uma programada rede de interesses cruzados entre a política,
as empresas públicas e os grandes negócios privados, cujo resultado mais
evidente é roubar os portugueses, roubando o Estado.
Se os contratos das PPP são
ruinosos para o erário público e de lucro garantido para os privados; se os dos
“swaps” custam a acreditar que tenham sido feitos de tão escandalosos que são;
se pagamos rendas excessivas nas estradas, na energia, nas comunicações; se se
privatizam empresas indispensáveis e rentáveis como a EDP, a TAP, os CTT
enquanto outras, geridas pela nata dos nossos gestores públicos, acumulam
prejuízos sem fim; se à luz do dia acontecem os BPN, BPP, ou BANIF e os seus
responsáveis são sempre recicláveis como governantes ou gestores públicos; se
se lançam gigantescas obras públicas desnecessárias a benefício exclusivo da banca
e das grandes construtoras; se as prometidas contrapartidas da aqui sição de material militar nunca são cumpridas; se
os contratos assinados pelo Estado nunca o defendem e se não ganha nenhuma
decisão nas arbitragens, nada disto acontece por acaso, por azar ou por
sistemática incompetência.
Podemos, por cansaço ou
depressão, deixarmos-nos iludir de vez em quando; podemos indignar-nos apenas
caso a caso, não querendo ver as coisas como um todo, mas leiam o livro: ele
desfaz as ilusões que ainda pudéssemos ter."
Esta situação no país faz-me lembrar Al Capone que teria dito:
- "Não entendo quem escolhe o caminho do crime quando há tantas maneiras legais de ser desonesto."
Esta situação no país faz-me lembrar Al Capone que teria dito:
- "Não entendo quem escolhe o caminho do crime quando há tantas maneiras legais de ser desonesto."
Quem nos protege desta gente?... Como
irá acabar isto? Que espécie de resposta poderemos dar?
Passos Coelho ou Seguro, nesta tragédia
nacional, não passam de simples figurantes…
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