Nunca mais voltou ao tablado.... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 73
- Dou os outros cinquenta
depois…
- Assim não…
- Não tenho agora, é sério…
- Se qui ser
é agora…
Recebeu os cinquenta que
faltavam e foi para a mesa do Gordo. Quando o empresário saíu, António Balduíno
riu até ficar com a barriga doendo.
No dia seguinte, depois da
luta e da sensacional derrota do campeão carioca, o empresário veio procurar
António Balduíno na “Lanterna dos Afogados”. Vinha com uma cara dos diabos:
- Você é um tratante…
António Balduíno ria.
- Eu quero o meu dinheiro…
- Quem rouba ladrão tem
cem anos de perdão…
- Vou aos jornais, vou à polícia…
- Vá…
- Você é um ladrão… Um
ladrão…
António Balduíno botou
também o empresário no chão. O pessoal do botequi m
que não esperava esta luta aplaudia.
- Ele qui s
me comprar, gente… Me deu cem mil réis para eu perder para aquele raquítico… Eu
disse que perdia… Engoli o dinheiro dele e derrubei o homem dele hoje… É pra
ele não querer comprar homem… Eu só me vendo por amizade, gente…
Agora vamos beber o
dinheiro dele…
A “Lanterna dos Afogados”
ria. António Balduíno saíu e foi levar para a Zefa, uma cabrocha que viera do
Maranhão e trouxera um beijo da dos Reis para o amante (em vez de um dera muitos),
o colar de contas vermelhas que comprara naquele dia com o dinheiro do empresário
do campeão carioca.
Luigi falava seriamente em
ir para o Rio.
Sua carreira de boxeur
terminou no dia em que
Lindinalva ficou noiva. Nos jornais que anunciavam a sua luta
com o peruano Miguéis, António Balduíno leu a notícia do noivado de “Lindinalva
Pereira, filha do capitalista comendador Pereira, desta praça, com o jovem
advogado Gustavo Barreiras, rebento glorioso de uma das mais ilustres famílias
baianas, poeta de versos rutilantes, orador primoroso.
Tomou um porre mãe, foi
derrotado no terceiro round porque já não podia lutar, apenas recebia os socos
que Miguez, o peruano, lhe aplicava.
Correu que ele estava
comprado. Ele não explicou a ninguém o seu fracasso. Nem a Luigi que chorava
nessa noite, arrancando os cabelos e praguejando, nem ao Gordo que olhava com
aqueles olhos de quem espera sempre uma desgraça:
- Nunca mais voltou ao tablado.
- Nunca mais voltou ao tablado.
<< Home