segunda-feira, setembro 09, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 106

Diriam isso também no seu a B C. Somente com uma navalha matou e atacou um jagunço que trazia uma repetição… atira fora o cigarro inútil. Diabo, a garganta está seca, o estômago dói e sente uma dor violenta no rosto.

Passa a mão e toca na ferida feita pelo espinho. Agora que o sangue deixou de correr, ela está doendo. É um talho grande, lanhou todo o seu rosto. Também os seus pés sangram, as mãos estão feridas.

E a sede que o tortura, os homens que o cercam, os grilos que fazem ruído… Vê novamente as estrelas agora no mato ralo. Se ainda houvesse água… se chovesse. Mas não há nuvens negras no céu. Somente farrapos de nuvens brancas que o vento carrega.

E a lua que saíu, a grande lua alva que está bonita como nunca. Que vontade que ele tem de estar no cais da Baía com o seu violão, com aquela mulher que tinha voz masculina, cantando uma valsa, uma coisa bem velha que falasse em amor… Depois rolariam na areia do cais, os corpos embolados…

Ah! como era bom. Aquela estrela até parece a luz da «Lanterna dos Afogados». Beberia um trago, ouviria a música do velho cego que canta ao violão, conversaria com o Gordo e o Joaquim. Talvez até Jubiabá aparecesse e ele lhe pediria a bênção.

Pai Jubiabá também não sabe que ele está encurralado na capoeira. Não sabe que ele matou Zéquinha. Mas Jubiabá compreenderia e passaria a mão na sua cabeça e depois falaria em nagô.

Não, ele não diria que o olho da piedade vazou, que houve somente o olho da ruindade… Por que ele havia de dizer isso? António Balduíno ainda tem bem aberto o olho da piedade.

Matou Zéquinha, matou… Mas foi porque ele estava andando com uma menina de doze anos… Uma menina não era mulher feita… que pergunte ao Gordo se quiser. Uma menina, tão menina que a mãe quando morreu tomava conta dela…

Pergunte ao Gordo, se quiser… Mas é inútil mentir a pai Jubiabá. Ele sabe tudo, que ele é pai de santo e tem força junto a Oxalá… Sabe tudo como a velha defunta…

Não, ele matou porque queria Arminda para ele… ela tinha doze anos mas já era mulher… O Gordo não entende destas coisas… Como é que alguém pode acreditar no Gordo… O Gordo não entende nada de mulheres, o Gordo só entende de rezas.

E, depois, o Gordo é muito bom, não tem olho da ruindade. Pai Jubiabá deve é fazer um feitiço para matar o negro Filomeno… O negro Filomeno é ruim, ele vazou também o olho da piedade…

Um feitiço para matar ele, um feitiço forte que tenha cabelo de sovaco de mulher e penas de urubu… Porque será que pai Jubiabá balança a cabeça? Ah! ele está dizendo em nagô que António Balduíno também vazou o olho da piedade… Ele está dizendo, sim…

António Balduíno puxa a navalha com a garganta seca de sede. Se Jubiabá repetir ele o matará também. E depois passará a navalha no próprio pescoço. Vê, no céu azul o negro velho. Não é a lua, não. É Jubiabá. Ele está repetindo, ele está repetindo…

E António Balduíno se precipita de navalha em punho e quase bate nos perseguidores que estão conversando na estrada.

Jubiabá desapareceu. Balduíno tem sede. E volta correndo para o mato cerrado, onde não vê a lua, não vê as estrelas, não vê o cais da Baía com a «Lanterna dos Afogados». Se estira no chão, estende as mãos para o lado onde está a estrada:

 - Amanhã eu mostro se não fujo… Eu sou é macho… O rosto dói e ele tem sede. Mas quando cerra os olhos dorme logo e não tem sonhos.

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