quarta-feira, setembro 18, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 114


 - Foi minha mãe que me disse quando eu era de colo. Outra máquina, uma grande que carregava muito carro, fazia diferente. Era assim:

 - «Café com leite, pão com manteiga» Igualzinho, não é?

Ficou se recordando.

 - Você tem mãe? – perguntou a mulher.

 - Vou ficar com ela… Ela chorou quando eu engajei…

 - Você sabe como é mulher… A velha pensa que eu ainda sou menino… - e retorcia um bigode que não existia.

 - Tudo é o mesmo – disse a mulher – você viu – se dirigia a António Balduíno – aquela que estava na estação pedindo ao homem para escrever?

 - Eu ouvi conversando…

 - Nunca mais ela vê ele… Eu também – e calou-se.

 - O quê? – o velho abriu os olhos.

 - Nada… Besteira… - começou a assobiar uma música.

 - Esse mundo é ruim – cuspiu o velho com raiva – Nós nasce para sofrer…

 - A vida é boa, velho. Você fala porque está incongruado… - o ex – soldado riu.

A vida é boa para quem tem dinheiro – afirmou a mulher.

 - Então tu tem uma mãe? - perguntou António Balduíno virando-se para o soldado. – Eu nunca vi minha mãe. Minha tia maluqueceu … E o Gordo tem uma avó…

 - Quem é esse Gordo?

 - Um sujeito que você não conhece. Um sujeito bom…

 - Bom? – escarneceu o velho – Não há ninguém bom… Quem é que é bom nesse mundo…

 - O Gordo é bom…

Mas o velho parecia dormir novamente. Foi a mulher quem respondeu:

 - Tem gente boa, sim… Pobre é que é desgraçado de nascença… A pobreza faz a gente ruim…

O trem vai rápido. O ex – soldado se estendeu no vagão. Ele está espiando o rosto da mulher. Ela está muito envelhecida e a barriga já está feia.

Mas assim mesmo. António Balduíno percebe o sorriso nos seus lábios. Ela olha o céu pela frincha da porta:

 - É a pobreza, sabe?...  É por isso que eu não amaldiçoo ele… Ele me deixou de barrigão…

 - Seu marido? – perguntou o ex-soldado gentil.

 - Eu sou mulher da vida… Nunca fui casada…

 - Pensei…

 - O que é que ele podia fazer? Ele não tinha dinheiro mesmo… Como ia criar o filho… Fugiu de noite como um ladrão… Deixou as coisas todas lá em casa… E eu sei que ele gostava de mim…

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