Episódio Nº 115
- Fugiu? Quando viu que você ia parir?
- Foi… Eu tinha deixado a vida pra morar com
ele, sabe… Eu ficava lavando roupa, a gente até parecia casada… Ele era bom…
Era bom mesmo… Podia estar num altar…
- Você gostava dele um pedaço…
- É verdade que eu tou dizendo… Era um santo…
Um dia eu falei muito alegre que ia ter um filho. Ele ficou assim feito besta
com a cara no ar… Depois riu muito, me beijou. Era tudo tão bom…
- Eu tenho uma namorada na minha terra – falou
o ex-soldado – ela é uma tentação. Nós vai se casar um dia destes…
Quem o visse agora diria
que ele estava morto. Com os olhos fechados, a boca sorrindo, o belo rosto
redondo feliz como o de um morto.
A mulher balançou a
cabeça. Ela viveu muito com certeza porque tem um ar de cansado no rosto ainda
jovem. E agora ela tem pena do ex-soldado. Ele é tão bonito e viveu tão pouco.
Ele vai casar… Mas António
Balduíno pergunta:
- E depois?...
- Ela continua:
- Foi porque ele era pobre… Mal a gente vivia
num buraco…O dinheiro dele, junto com o que eu ganhava lavando roupa, não dava…
Foi por isso…
Ela está com pena do
ex-soldado que levantou a cabeça no braço e escuta ansioso.
Ele numa noite arribou… Eu
nem vi… Deixou as coisas todas, soube que fugiu para ver depois o menino passar
fome…
- E agora?
- Diz que ele está em
Feira de Sant’Ana trabalhando… Eu vim pra junto dele…
O soldado está triste. Ele
agora pensa em dinheiro para sustentar a mulher quando casar e os filhos
depois.
- Mas ela é tão bonita… E depois eu trabalho…
Não tenho medo do trabalho.
A mulher o anima.
- É, sim…
Mas ele está duvidando,
todos vêem. António Balduíno diz à mulher:
- Eu vou ser padrinho do seu filho…
- Eu fiz uma touca para ele… Uma velha deu uns
cueiros velhos… é só o que ele tem… Já nasce sofrendo…
O ex-soldado falou:
- É melhor não casar… Tão bonita…
Aqui
é a estação de são Gonçalo. Saltam passageiros. A cidade dorme cheia de
jardins. O barulho do trem acordou uma criança numa casa próxima. Ouve-se o
choro. A mulher sorri feliz.
- Agora vai ser bom para
você – diz Balduíno – vai ter um… De noite chora…
- Quero que seja um menino…
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