quinta-feira, setembro 26, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 121


 - E amanhã você vai ver dinheiro a rodo…

A mulher se confundia em desculpas:

 - Tem um chofer que é ver sua cara… igualzinho…

Da porta ainda sorria. António Balduíno olhou para Luigi:

- Aquela conversa do Rio não pegou, mano…

Luigi redigia o anúncio para circular no dia seguinte. Balduíno lia por cima dos ombros:

 - Meu nome eu quero em letras bem grandes…Aquelas deste tamanho…

E abria os braços mostrando o tamanho.


Giusepe quando ficava bom dos porres tornava-se activo e resoluto. Parecia que ia salvar tudo, resolver a situação difícil do circo, pagar os salários dos artistas e dos mata-cachorros. Mas a sua actividade ficava nos gestos, nas palavras que ele gastava com largueza:

 - Vamos ver isto! Isto não anda! Esse galinheiro já devia estar de pé. Eu que me abofe. Sem mim isso não vai para diante!

E quando um artista reclamava:

 - Também você só sabe pedir dinheiro… E a arte não vale nada? No meu tempo a gente trabalhava pela arte, pelos aplausos, pelas flores. Flores, está ouvindo? Flores… Eram as moças que jogavam flores. Lenços bordados… Eu podia ter uma colecção se quisesse… Mas eu não ligo para estas coisas.

Naquele tempo se pensava na arte. Um trapezista era um trapezista…

Virava-se para Fifi:

 - Uma trapezista era uma trapezista…

A trapezista ficava com raiva. Ele continuava:

 - Hoje o que é que se vê? Uma trapezista como você, que até dá para a coisa, só fala em dinheiro, como se as palmas não valessem nada.

 - Eu não como palmas…

 - Mas é a glória… Nem só de pão vive o homem… Foi Cristo quem disse…

 - Cristo não era trapezista…

 - Hoje… No meu tempo, não… Palmas, flores, lenços, compreendeu, tudo isso tinha o seu valor…Você quer dinheiro, não é? Pois bem, amanhã terá seu dinheiro… Pagarei tudo… Tudo…

Mas terminava sempre pedindo:

 - Você sabe, Fifi, a gente tá mal… Que é que eu posso fazer, desgraçado de mim… Eu sou um artista velho… Corri a Europa toda… Eu tenho os álbuns lá na barraca… Agora estou aqui mas me conformo… Você pensa que eu tenho dinheiro? Só tenho dívidas… Tenha paciência, Fifi. Você é uma menina boa…

 - Mas Giusepe, eu não tenho mais roupa. O saiote verde já está uma vergonha. Não posso aparecer mais com ele…

- Garanto que o primeiro dinheiro que arranjar é para você…


E saía para dar ordens inúteis, reclamar contra o serviço atrasado, olhar tudo o que Luigi tinha feito, discordar de tudo e terminar no botequim, contando aos desconhecidos que pagavam cachaça, as suas glórias de trapezista.

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