Episódio Nº 121
- E amanhã você vai ver dinheiro a rodo…
A mulher se confundia em
desculpas:
- Tem um chofer que é ver sua cara…
igualzinho…
Da porta ainda sorria.
António Balduíno olhou para Luigi:
- Aquela conversa do Rio
não pegou, mano…
Luigi redigia o anúncio
para circular no dia seguinte. Balduíno lia por cima dos ombros:
- Meu nome eu quero em letras bem
grandes…Aquelas deste tamanho…
E abria os braços
mostrando o tamanho.
Giusepe quando ficava bom
dos porres tornava-se activo e resoluto. Parecia que ia salvar tudo, resolver a
situação difícil do circo, pagar os salários dos artistas e dos mata-cachorros.
Mas a sua actividade ficava nos gestos, nas palavras que ele gastava com
largueza:
- Vamos ver isto! Isto não anda! Esse galinheiro
já devia estar de pé. Eu que me abofe. Sem mim isso não vai para diante!
E quando um artista
reclamava:
- Também você só sabe pedir dinheiro… E a arte
não vale nada? No meu tempo a gente trabalhava pela arte, pelos aplausos, pelas
flores. Flores, está ouvindo? Flores… Eram as moças que jogavam flores. Lenços
bordados… Eu podia ter uma colecção se qui sesse…
Mas eu não ligo para estas coisas.
Naquele tempo se pensava
na arte. Um trapezista era um trapezista…
Virava-se para Fifi:
- Uma trapezista era uma trapezista…
A trapezista ficava com
raiva. Ele continuava:
- Hoje o que é que se vê? Uma trapezista como
você, que até dá para a coisa, só fala em dinheiro, como se as palmas não
valessem nada.
- Eu não como palmas…
- Mas é a glória… Nem só de pão vive o homem…
Foi Cristo quem disse…
- Cristo não era trapezista…
- Hoje… No meu tempo, não… Palmas, flores,
lenços, compreendeu, tudo isso tinha o seu valor…Você quer dinheiro, não é?
Pois bem, amanhã terá seu dinheiro… Pagarei tudo… Tudo…
Mas terminava sempre
pedindo:
- Você sabe, Fifi, a gente tá mal… Que é que
eu posso fazer, desgraçado de mim… Eu sou um artista velho… Corri a Europa
toda… Eu tenho os álbuns lá na barraca… Agora estou aqui
mas me conformo… Você pensa que eu tenho dinheiro? Só tenho dívidas… Tenha
paciência, Fifi. Você é uma menina boa…
- Mas Giusepe, eu não tenho mais roupa. O
saiote verde já está uma vergonha. Não posso aparecer mais com ele…
- Garanto que o primeiro
dinheiro que arranjar é para você…
E saía para dar ordens
inúteis, reclamar contra o serviço atrasado, olhar tudo o que Luigi tinha
feito, discordar de tudo e terminar no botequi m,
contando aos desconhecidos que pagavam cachaça, as suas glórias de trapezista.
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