quarta-feira, setembro 25, 2013

JUBIABÁ

Episódio nº 120



 - Mas tem que ter luta senão o pessoal fica danado…

 - Mas quem disse que não tem? A gente contrata um sujeito qualquer por vinte mil réis. Não falta quem queira. Você dá uma surra mestre…

 - E se aparecer um sujeito metido, disposto mesmo a brigar?

 - Aparece nada…

 - E se aparecer?

Luigi apontou o retrato na parede:

 - Você não é mais lutador, rapaz?

António Balduíno fez que sim com a cabeça. Passou a mão sobre o retrato, assobiou. Luigi comentou:

 - Você já tem saudades? Então está envelhecendo…

 - Naquele tempo eu não tinha esse talhe no rosto…

 - Isso é bom para impressionar.

Batiam na porta. Luigi abriu. Era uma mulherzinha que viera reclamar o salário atrasado de mês e meio:

 - Assim não trabalho… Não conte comigo amanhã.

 - Amanhã você recebe, mulher de Deus…

 - Todo dia isso, todo dia isso… «Amanhã você recebe…» Há dois meses que não ouço outra coisa… Tou cansada… não conte comigo amanhã…

 - Nas amanhã recebe mesmo… Você não sabe o que vai acontecer… Virou para Balduíno: - esta é a Fifi, a trapezista…

Ela está um pouco zangada…

A mulherzinha olhou para o negro.

 - Este aqui é o célebre Baldo… Você já ouviu falar nele com certeza…

A mulher nunca tinha ouvido mas balançou a cabeça dizendo que sim. Luigi falava depressa para impressionar a mulher:

 - Pois é… O maior lutador do Brasil… No Rio não teve homem que se aguentasse com ele… Chegou hoje da Baía que eu mandei contratar… Tomou um automóvel, se bateu para aqui

 A mulher desconfiava:

 - Com que dinheiro você contratou este fenómeno, Luigi? Está me cheirando que é falso… Como coisa que eu já não vi este negro guiando camião aqui… Olhe aqui rapaz, se você deixou o caminhão pensando que vai ganhar dinheiro está enganado… Dinheiro é coisa que não tem aqui

Deu um repelão no corpo e se dirigiu para a porta. Mas António Balduíno foi mais rápido e pegou-lhe pelo braço, com raiva:

 - Pêra aí dona… Eu sou lutador mesmo… Fui campeão baiano de todos os pesos… Tá vendo aquele ali na parede? É esse seu criado…

A mulher olhou e se convenceu:

 - Se é assim… Mas porque veio se meter aqui? Aqui não tem dinheiro…

 - Vim para servir um amigo… - bateu no ombro de Luigi – um amigo certo…

 - Ah! só se for assim…

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