sexta-feira, setembro 27, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 122


Naquela noite quando voltava cambaleando para a barraca depois de ter marcado com um carvão a testa de vários meninos para que entrassem de graça no espectáculo, encontrou António Balduíno que aparentava olhar as estrelas enquanto espiava para a barraca onde estava Rosenda Rosedá, a bailarina negra, o número de maior sucesso do Grande Circo Internacional.

Era que à luz da vela a negra começava a mudar de roupa e mostrava umas costas que nem veludo. O negro cantava um dos seus sambas de maior sucesso:

«Minha mulata é de veludo
Chega até a arrepiar…»

Quando viu que Giusepe vinha, fez que olhava as estrelas. Qual seria Lucas da Feira. Uma vez haviam-lhe mostrado a estrela que Zumbi dos Palmares tinha virado. Mas ela não está brilhando aqui.

Só brilha na Baía, nas noites de macumba, quando os negros festejam, quando os negros festejam Oxossi, o deus da caça… Ele toma conta dos negros, brilha quando eles estão alegres, se apaga quando eles estão tristes.

Teria sido o Gordo que lhe contou aquela história? Não, foi pai Jubiabá, uma noite no cais. Se fosse o Gordo ele botaria um anjo na história. Pai Jubiabá é que sabia coisas de Zumbi dos Palmares e de outros negros grandes e valentes.

Bem que ele pode dar outra espiada, agora, para a barraca de Rosenda Rosedá, porque Giusepe vem cambaleando tanto que não chegará tão cedo. Mas não é que ela desapareceu e apagou a luz?

Se não fosse Giusepe – aquele bêbedo – ele a teria visto nua. Era um peixão… Podia não haver dinheiro, mas enquanto ela ficasse no circo, António Balduíno ficaria… que negra bonita…

Aquilo na “Lanterna dos Afogados” seria um sucesso danado. Ficariam todos de queixo caído…

Giusepe chegou. Quando quis cumprimentar o negro quase perde o equilíbrio.

 - Estou cansado. Esse trabalho aqui me mata. Trabalho como um cachorro…

 - Tá se vendo…

Ele passou. Levou quase meia-hora para chegar à sua barraca.

 - É capaz de tocar fogo na barraca quando riscar o fósforo para acender a vela – pensa António Balduíno que se aproxima. Mas ele já acendeu a vela e agora está sentado perto de uma mesinha de pé rebentado.

Em cima estão uns livros ricamente encadernados, mas estragados no tempo. A curiosidade absorve o negro que espia como um ladrão.

Que haverá naqueles livros para Giusepe acariciá-los com tanto amor? Está fazendo o mesmo que o negro faz com as coxas das mulatas. Passando a mão muito de leve, com cuidado, luxuriosamente.

Mas ele se virou e António Balduíno viu os olhos. Tem sujeitos que quando bebem ficam assim tristes. Outros ficam alegres, riem e cantam… Mas tem os que ficam tristes e dão para chorar. Giusepe é dos que ficam tristes. António Balduíno não resiste e entra para a barraca de Giusepe que ficou triste de tanto beber.

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