DOMINGO
(27/10/2013)
(Na minha cidade de Santarém)
Faz hoje oito dias, no “Hoje é Domingo”,
comparei o Orçamento para 2014
a mais um processo de humilhação nacional idêntico a
outros que já vivemos.
Mas essa humilhação não tem propriamente
a ver com os cortes previstos nos salários dos funcionários públicos ou nas
pensões dos reformados e viúvos, tudo com efeitos retroactivos que é algo de
perverso e destruidor da confiança que a minha geração criou pelo Estado e cuja
perda tanto nos choca.
Não, o que é verdadeiramente humilhante,
é que todos esses cortes não foram decididos por nós num gesto de coragem
heróica e sábia decisão, mas imposta por uma entidade estrangeira que nos
tutela e de quem dependemos.
Perdemos a direcção do leme do nosso
barco, deixámos de ser os autores do nosso destino, somos repreendidos no
silêncio dos gabinetes, deixados sem alternativa… com a corda no pescoço. Foi
ao que chegámos!
Para trás, ficaram anos seguidos de
deficits públicos gastando sempre acima das nossas possibilidades, com
histórias rocambolescas pelo meio de negociatas de Bancos com privados e de
partidos que gerem bancos, e de banqueiros que assaltam e roubam descaradamente
os próprios bancos, ou de forma sofisticada através de engenharias
financeiras, todos enriquecendo de maneira fraudulenta no sono profundo do
Banco de Portugal… e o país sobrevivendo sempre à custa de empréstimos,
hipotecando o futuro com juros cada vez mais altos e dívida soberana a
descontrolar-se.
Os governos entregaram-se à volúpia das
grandes obras com os estímulos e orientações em 2008 da Comunidade Europeia –
leia-se Alemanha e França - a propósito de que havia uma crise na economia e
era preciso criar emprego, como se os nossos políticos precisassem de ser
empurrados para fazer despesas de investimento…
Estádios de futebol, auto estradas
pleonásticas, Institutos Públicos sobrepostos de utilidade mais que duvidosa,
Fundações Público Privadas para gáudio de senadores, Cartões de Crédito de
valor ilimitado, etc…, etc… tudo numa esqui zofrenia
esbanjadora.
Dois anos depois, em 2010, as
orientações mudaram e começou a austeridade…
Alberto Nogueira Pinto, Procurador
Geral-Adjunto, num artigo certeiro que magoa os nossos “corações” de povo, intitulado
a «Broa dos Pobres», fala da “mendicidade em que a República tem vivido de uma
forma crónica afirmando que já era assim no Século XVIII quando a monarqui a reinava com sumptuosidade, luxos e luxúrias.
Por volta do Século XX, Antero de
Quintal, poeta e filósofo, acordava em que Portugal se desmoronava desde o Século XVII.
Era um pedinte do exterior com a côrte a sacar dos cofres públicos para
alimentar nobrezas, caçadas, festanças e por aí fora. Entrou em bancarrota, declarou
falência em 1892.
A 1ª República herdou uma terra falida e
incumbiu-se de se auto destruir com lutas fratricidas e partidárias. Em poucos
anos desbaratou princípios democratas e republicanos que a inspiraram.
Seguiu-se o autoritarismo de Salazar a favor
das elites e com um pensamento: O Estado Sou Eu. Retrocedeu-se ao poder
absoluto. A pobreza e a miséria dissimularam-se no Fado, Futebol e Fátima. As
liberdades públicas foram extintas e o Pensamento foi abolido, triturado.
O povo sofreu a repressão e a guerra e o
governo durou 40 anos com votos dos vivos e dos mortos. Entretanto, com a
Revolução de 1974, a
II República recuperou os princípios fundamentais de 1910 que tinham sido
destruídos em 1928 e acreditou-se que com o reforço Constitucional de 1976 se
iria fazer justiça ao povo.
Ingenuidade… Os partidos logo capturaram o
Estado, as Autarqui as, as Empresas Públicas
e depois de termos falido em 1983, aos pés FMI, quase 30 anos depois, em 2011,
estávamos novamente falidos, desta vez aos pés da Troika.
Nada aprenderam com a história, ignoraram-na,
desprezaram-na. Penhoraram a Nação.”
A
proposta de Orçamento para 2014 é isso mesmo, um documento de penhora:
entregamos parte dos salários e das reformas à troika para recebermos mais um
balão de oxigénio… até nova penhora.
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