Episódio Nº 147
Ele nunca ouviu dizer. Mas
histórias sem anjos perdem a graça e o Gordo resolve dar um anjo ao urso,
quando Balduíno chega e repete o que ouvia Luigi dizer acerca do leão:
- Esse monstro que está aqui , respeitável público, foi pegado nas selvas
africanas. É três vezes assassino, já matou
três denodados domadores. Se lembra palavra por palavra do discurso que
Luigi repetia todas as noites. É um assassino… Pois ele irá trabalhar e todos
poderão observá-lo, porém com cuidado. Não se esqueçam que ele já matou três…
O Gordo olha para o
focinho do urso e descobre que ele tem uns olhos meigos de criança e é incapaz
de matar quem quer que seja.
Não é direito que António
Balduíno o chame de assassino. Mas o urso está andando de cabeça para baixo e o
grupo aumenta em torno.
Rosenda lê a mão dos
homens. Eles gostam porque ela faz uma cócega engraçada que dá uma comichão no
corpo. Rosenda sabe ganhar dinheiro. Diz rindo para um mulato pachola:
- Tem uma cabrocha que tá doidinha por você…
O mulato sorri para
Rosenda. Bem que podia ser ela mesmo… Ela vai guardando os níqueis de cruzado.
O Gordo recolhe dinheiro para o urso no chapéu de palha. António Balduíno,
muito elegante com sapatos vermelhos e camisa vermelha faz o elogio do bicho.
A feira se movimenta em redor deles.
Um automóvel está parado
na rua. Enguiçou. O chofer se mete debaixo do carro a procurar motivo da
encrenca. Um homem explica ao grupo.
- Não estou dizendo? Máqui na
não vale de nada… O cavalo Fogoso nunca encrencou. Vocês já viram um cavalo
encrencar?
Antes ele estava contando
a história do cavalo Fogoso que seu cunhado possuía. Ele é contra o cavalo
motor. Faz a apologia do cavalo animal, do carro de boi. Citava a Bíblia.
Jubiabá ouve encolhido. Os
outros cortam a conversa com sinais de aprovação.
Quando Jubiabá chegou eles
contaram o dinheiro que tinham ganho – cinquenta e nove mil reis, uma fortuna –
e ficaram divertindo-se na feira que estava animada.
O urso vai atrás deles. Em
frente à barraca onde Joaqui m bebe,
eles todos param. E ficaram ouvindo o homem que contava a história do cavalo
Fogoso:
- E naquele tempo, quando não tinha aqui lo – aponta o auto encrencado – os homens viviam
muito… Matusalém viveu novecentos anos… Tá na Bíblia.
Tá mesmo – apoia um mulato
claro e velho.
Todo mundo vivia duzentos
anos, trezentos anos. Cem, então, era besteira. Veja na Bíblia…
- Diz que papagaio vive
mais de cem anos…
O homem olhou zangado para
o aparteante. Mas quando viu que era Rosenda fez um sorriso.
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