quinta-feira, outubro 10, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 133


Robert era um dos sargentos, António Balduíno o outro. O grande equilibrista ficava elegantíssimo na sua farda de sargento francês. Porém a de António Balduíno ficava pequena, que fora feita para o engolidor de espadas que trabalhara no circo anos atrás.

Apertava o negro todo e o sabre ficava ridículo de tão pequeno. Mas se fosse isso só, tudo estaria bem. O pior é que Fifi queria receber os seus salários atrasados antes de começar a segunda parte, na qual seria representada a célebre pantomina «Os cinco Sargentos».

Luigi ainda não fizera as contas das despesas forçadas do Circo e não queria pagar, a não ser no dia seguinte, Fifi não ia nisso:

 - Ou paga agora ou não entro em cena…

Ela fazia o papel do terceiro sargento e ficava bela de roupa de homem. Vermelha de raiva, esticava o dedo, ameaçando. E fardada de sargento, berrando, gritando, acabou fazendo Luigi ter um ataque de riso.

 - A farda tomou conta de você… Você está pensando mesmo que é sargento.

 - Não deboche, ouviu?

Giusepe veio bêbedo lá de dentro falando em arte, em palmas e chorou. Luigi pediu a Fifi que esperasse, que ele ia fazer contas e pagaria esta noite mesmo. Que não demorasse a continuação do espectáculo. Ouvisse: o público, lá dentro, já reclamava, batia os pés, impaciente.

Luigi puxava os raros cabelos, num quase desespero. Rosenda Rosedá se comoveu.

 - Deixe de ser desmancha-prazeres, mulher. O espectáculo hoje correu tão bem…

Fifi sabia disso, sabia. E não gostava de ser estraga-prazeres tão pouco. Sim… o espectáculo correra bem, foram muitos os aplausos, havia muita gente na plateia. Todos estavam satisfeitos e ela também. Mas junto do seu seio estava a carta da directora do colégio.

E ela devia ser forte, devia resistir, devia brigar. Fazia dois meses que não pagava o colégio da filha. Se não pagasse dentro de dez dias, a directora mandaria a menina de volta para junto dela.

E ela não queria a sua filha no circo. Isso não. Devia ser forte, tinha que ser forte. Mas não pode espiar para os olhos de Luigi que roga.

Luigi sempre fora bom para ela, a ajudara mesmo. Mas se ela não exigisse, após o espectáculo, deixaria para o outro dia, no outro dia apareceriam as despesas forçadas e a menina viria se bater ali, e adeus todos os seus planos, todos os seus sonhos acalentados durante estes longos quatro anos em que pagara com tanto sacrifício o colégio de Elvira.

Quando a filha nasceu ela acabara de ler Elvira, a morta virgem. Agora nem dinheiro para comprar romances ela tinha. Mandava tudo para a directora do colégio e assim mesmo mal dava.


Já estava no fim. Se ela não fosse forte, se não resistisse, cairiam todos os seus castelos, alimentados à custa de tanto sacrifício.

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