sábado, outubro 12, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 135

O urso ainda é feliz porque bebe, todas as noites em que trabalha, uma garrafa de cerveja. Luigi já pensou em substituir cerveja por água. Encheria a garrafa… Tapeou os espectadores mas não enganou o urso que se recusou a beber.

O número fora um fracasso. António Balduíno gozou quando Rosenda lhe contou esta história. Ela demora a se vestir. Rosenda Rosedá, que nome esquisito… Ela se chama mesmo Rosenda. O Rosedá é que foi invenção do Luigi.

Mulata despachada aquela, muito capaz de ir às fuças de qualquer um. Falava difícil, contava casos dos morros do Rio, morro da Favela, morro do Salgueiro, descrevia as festas de clubes de lá, o “Ameno Jasmineiro”, as “Caprichosas de Estopa”, o “Lírio do Amor”.

Tinha um jeito elegante de enrolar as ancas quando caminhava, coisa mesmo de carioca. A verdade é que António Balduíno gosta da negra. Ela é cheia de besteiras, de vaidades, se furtando sempre na hora em que António Balduíno pensa que a tem nas mãos, mas ele está gostando dela um pedaço.

Será que ela acaba de se vestir? Por que fechou a luz e abre a cortina que serve de porta? Apareceu na claridade da lua.

 - Tava lhe esperando…

 - A mim? Gentes, quem houvera de dizer…

Saíram passeando. Ele contando as suas aventuras por este mundão afora, ela escutando atenta. Ele se entusiasma quando conta a fuga através do mato, o cerco furado, os homens espantados de ele aparecer com uma navalha na mão.

Ela se encosta nele. Os seus seios estão tocando no braço do negro.

Noite bonita – diz ele.

- Quanta estrela…

- Negro valente quando morre vai ser estrela no céu…

 - Eu ainda quero dançar num teatro grande de verdade… como os do Rio…

 - Pra quê?

 - Gosto de dançar. Quando eu era menina juntava os retratos de artistas de teatro. Papai era português e tinha uma venda.

O cabelo de Rosenda Rosedá era espichado a ferro. Fica liso parecendo cabelo de branca. Fica mais liso até.

 - Eta, negra cheia de bobagem… - pensa António Balduíno. Mas como sente os seus seios no braço, diz que ela, dançando, é mesmo cutuba.

 - Você não viu? O pessoal parecia maluco… Era só palma…

Ela se encosta mais. Ele convence:

 - Eu gosto de um maxixe bem dançado…

 - Eu quis entrar pró teatro. Um homem que morava perto lá de casa conhecia o porteiro do teatro Recreio. Mas papai não deixou. Ele queria me casar com um caixeiro que ele tinha, um maroto fedorento.

 - Mas você não se amarrou?

 - Eu sou lá besta! Eu não gostava mesmo dele, não ta vendo? Um portuga…

Ficou como quem queria dizer qualquer coisa. António Balduíno perguntou:

 - O que é?


 - Depois veio Emanuel. Papai dizia que era um vagabundo, sem eira nem beira.

Site Meter