Episódio Nº 135
O urso ainda é feliz
porque bebe, todas as noites em que trabalha, uma garrafa de cerveja. Luigi já
pensou em substituir cerveja por água. Encheria a garrafa… Tapeou os
espectadores mas não enganou o urso que se recusou a beber.
O número fora um fracasso.
António Balduíno gozou quando Rosenda lhe contou esta história. Ela demora a se
vestir. Rosenda Rosedá, que nome esqui sito…
Ela se chama mesmo Rosenda. O Rosedá é que foi invenção do Luigi.
Mulata despachada aquela,
muito capaz de ir às fuças de qualquer um. Falava difícil, contava casos dos
morros do Rio, morro da Favela, morro do Salgueiro, descrevia as festas de
clubes de lá, o “Ameno Jasmineiro”, as “Caprichosas de Estopa”, o “Lírio do
Amor”.
Tinha um jeito elegante de
enrolar as ancas quando caminhava, coisa mesmo de carioca. A verdade é que
António Balduíno gosta da negra. Ela é cheia de besteiras, de vaidades, se
furtando sempre na hora em que António
Balduíno pensa que a tem nas mãos, mas ele está gostando dela
um pedaço.
Será que ela acaba de se
vestir? Por que fechou a luz e abre a cortina que serve de porta? Apareceu na
claridade da lua.
- Tava lhe esperando…
- A mim? Gentes, quem houvera de dizer…
Saíram passeando. Ele
contando as suas aventuras por este mundão afora, ela escutando atenta. Ele se
entusiasma quando conta a fuga através do mato, o cerco furado, os homens
espantados de ele aparecer com uma navalha na mão.
Ela se encosta nele. Os
seus seios estão tocando no braço do negro.
Noite bonita – diz ele.
- Quanta estrela…
- Negro valente quando
morre vai ser estrela no céu…
- Eu ainda quero dançar num teatro grande de
verdade… como os do Rio…
- Pra quê?
- Gosto de dançar. Quando eu era menina
juntava os retratos de artistas de teatro. Papai era português e tinha uma
venda.
O cabelo de Rosenda Rosedá
era espichado a ferro. Fica liso parecendo cabelo de branca. Fica mais liso
até.
- Eta, negra cheia de bobagem… - pensa António
Balduíno. Mas como sente os seus seios no braço, diz que ela, dançando, é mesmo
cutuba.
- Você não viu? O pessoal parecia maluco… Era
só palma…
Ela se encosta mais. Ele
convence:
- Eu gosto de um maxixe bem dançado…
- Eu qui s
entrar pró teatro. Um homem que morava perto lá de casa conhecia o porteiro do
teatro Recreio. Mas papai não deixou. Ele queria me casar com um caixeiro que
ele tinha, um maroto fedorento.
- Mas você não se amarrou?
- Eu sou lá besta! Eu não gostava mesmo dele,
não ta vendo? Um portuga…
Ficou como quem queria
dizer qualquer coisa. António Balduíno perguntou:
- O que é?
- Depois veio Emanuel. Papai dizia que era um
vagabundo, sem eira nem beira.
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