Episódio Nº 141
Na divisão das coisas que
Luigi não conseguiu vender, o urso coubera a António Balduíno e a Rosenda.
Rosenda nem percebeu que aqui lo
tinha sido combinação entre António Balduíno e Luigi. O negro falou:
- A gente não pode dividir
o bicho… Para vender a gente não sabe quem dá um mil reis coado por ele.
- O que é que a gente faz?
- A gente leva para a Baía. Tou pensando na
minha cabeça que a gente pode ganhar dinheiro com ele na Feira da Água dos
Meninos…
- Ou no teatro… - arriscou Rosenda.
- Também – o negro apoiava porque não queria
discutir.
No cais souberam que o
saveiro de Mestre Manuel chegaria dois dias depois.
Esperaram o “Viajante sem
Porto”.
Mas o Inverno batia nas
águas do rio. Chuvas grossas enfarruscavam a face das águas. O rio descia
caudaloso e trazia troncos que arrancara nas plantações, cadáveres de animais,
e passou até uma porta que a água tirara de uma habitação.
As coroas de pedras haviam
desaparecido e os homens não entravam mais pelo rio para buscar o peixe do
almoço. O rio estava traiçoeiro e roncava como um animal dos matos. Grupos
ficavam a espiá-los de cima da ponte e ele passava em baixo como uma serpente.
De cima vinha cheiro doce
de fumo. O rio já engolira dois saveiros neste inverno. Havia uma operária
enlutada numa das fábricas.
Caem grandes cargas de
água durante a noite. Não há, por consequência, razão para Rosenda Rosedá sair
esta noite da pensão de Dona Raimunda e inventar esta história de passeio.
Foi para Cachoeira com
certeza. Ela queria era deixá-lo ali como uma besta, tomando conta do urso, que
andava impaciente com a chuva que desabava no telhado, com o ruído do rio, com
o cheiro do fumo.
Não podem deixar o urso
sozinho, isso é verdade. Mas para quê este passeio de noite? – e o negro
António Balduíno bate a mão fechada na mesa.
Se ela pensa que ele é
burro, que não entende, está enganada. Ela pensa que ele não viu aquele alemão
atrás deles desde a noite em
que Giusepe morreu? Nunca mais deixara de segui-los, de
procurar conversa, de dizer coisas.
Por duas vezes António
Balduíno qui sera interrogá-lo,
perguntar o que ele queria. Agora se lembra bem que uma tarde dissera a
Rosenda:
- Eu vou perguntar a este gringo se ele nunca
me viu…
Rosenda achou que não
valia a pena, que era besteira brigar, que com certeza o gringo nem estava
olhando para eles. E o arrastou dali.
Mulher quando quer tapa os
olhos da gente. Mas agora ele estava com os olhos bem abertos e compreendia.
Ela saíra para se encontrar com o branco.
Andariam por qualquer
parte, ela abrindo as coxas para ele. Negra sem vergonha aquela!
Que era gostosa era mesmo,
mas ele não era homem de ser enganado assim. Sempre se gabara de largar as suas
amantes e Rosenda queria brincar com ele. Onde andaria?
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