sexta-feira, outubro 18, 2013

António Balduíno
JUBIABÁ

Episódio Nº 140

Juju apresentou o macaco e o urso. Lá em cima estavam trapézios. Fifi faria outro número para encher o espectáculo. Estava na hora e os mata – cachorros prepararam os trapézios que ficaram balançando no ar.

Todos olhavam para cima. Fifi apareceu de saiote verde, cumprimentou e subiu. Experimentava o trapézio quando uma figura invadiu o picadeiro vestida com uma roupa sovada de casimira e andando como um bêbedo.

Era Giusepe. Luigi se precipitou atrás dele mas, como a multidão aplaudia pensando que fosse outro palhaço, deixou-o correndo pela arena e gritando para os espectadores:

 - Ela vai cair! Ela vai cair!

O público ria. E riu mais quando ele afirmou:

 - Eu vou salvar a pobrezinha…

Ninguém conseguiu agarrá-lo mais. Subiu pela corda com uma agilidade que ninguém acreditaria possível nele, soltou o outro trapézio. Fifi do outro lado olhava assombrada, sem saber o que fazer.

Os espectadores não percebiam nada. Luigi e dois mata-cachorros subiam para o trapézio. Giusepe deixou que eles se aproximassem e quando se sentiu bem perto com o trapézio, se soltou no ar, deu o mais belo salto mortal de toda a sua carreira e procurou com as mãos aflitas o outro trapézio.

Caiu no picadeiro e as suas mãos angustiadas procurando o trapézio, pareciam dar adeus.

Mulheres desmaiavam, pessoas corriam para a porta, outras se aproximavam do corpo. As mãos pareciam dar adeus.


A B C  DE ANTÓNIO BALDUÍNO


INVERNO

O Inverno lavou tudo. Lavou até as manchas de sangue que ficaram no lugar que foi o picadeiro do Grande Circo Internacional.

Luigi vendeu as tábuas da arquibancada, o pano grande, o macaco a um dos alemães da das fábricas, distribuiu o dinheiro pelo pessoal e declarou o circo dissolvido.

Juju partiu para a cidade do Bonfim por onde andava outro circo. Talvez arranjasse trabalho… Antes de partir disse aos outros:

 - Nunca vi um circo tão sem dinheiro… Mas eu gostava dele.

Luigi juntou o leão e Fifi e foram peregrinar pelas cidadezinhas do interior, fazendo de barracões teatros, cobrando 500 reis de entrada.

O homem cobra deu um espectáculo em seu benefício no teatro local e desapareceu.

António Balduíno pensava que se ele fosse para as plantações de fumo seriam capazes de o tomar como a uma mulher. Ele às vezes parecia uma dama, outras vezes parecia um adolescente.

Mas é que o negro não vira em Cachoeira um homem que um dia apreciara a estreia do Circo em Feira de Sant’Ana.

Um homem viajado, já estivera no Rio e na Baía, e que se retirou do Circo mal acabara o número do homem cobra.

Fugiram num automóvel. Só depois é que se soube que a polícia procurava aquele homem que furtara todo o dinheiro de uma loja onde era empregado.

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