António Balduíno |
JUBIABÁ
Episódio Nº 140
Juju apresentou o macaco e o urso. Lá em
cima estavam trapézios. Fifi faria outro número para encher o espectáculo.
Estava na hora e os mata – cachorros prepararam os trapézios que ficaram
balançando no ar.
Todos olhavam para cima. Fifi apareceu
de saiote verde, cumprimentou e subiu. Experimentava o trapézio quando uma
figura invadiu o picadeiro vestida com uma roupa sovada de casimira e andando
como um bêbedo.
Era Giusepe. Luigi se precipitou atrás
dele mas, como a multidão aplaudia pensando que fosse outro palhaço, deixou-o
correndo pela arena e gritando para os espectadores:
-
Ela vai cair! Ela vai cair!
O público ria. E riu mais quando ele
afirmou:
-
Eu vou salvar a pobrezinha…
Ninguém conseguiu agarrá-lo mais. Subiu
pela corda com uma agilidade que ninguém acreditaria possível nele, soltou o
outro trapézio. Fifi do outro lado olhava assombrada, sem saber o que fazer.
Os espectadores não percebiam nada.
Luigi e dois mata-cachorros subiam para o trapézio. Giusepe deixou que eles se
aproximassem e quando se sentiu bem perto com o trapézio, se soltou no ar, deu
o mais belo salto mortal de toda a sua carreira e procurou com as mãos aflitas
o outro trapézio.
Caiu no picadeiro e as suas mãos
angustiadas procurando o trapézio, pareciam dar adeus.
Mulheres desmaiavam, pessoas corriam
para a porta, outras se aproximavam do corpo. As mãos pareciam dar adeus.
A B C
DE ANTÓNIO BALDUÍNO
INVERNO
O Inverno lavou tudo. Lavou até as
manchas de sangue que ficaram no lugar que foi o picadeiro do Grande Circo
Internacional.
Luigi vendeu as tábuas da arqui bancada, o pano grande, o macaco a um dos alemães
da das fábricas, distribuiu o dinheiro pelo pessoal e declarou o circo
dissolvido.
Juju partiu para a cidade do Bonfim por
onde andava outro circo. Talvez arranjasse trabalho… Antes de partir disse aos
outros:
-
Nunca vi um circo tão sem dinheiro… Mas eu gostava dele.
Luigi juntou o leão e Fifi e foram
peregrinar pelas cidadezinhas do interior, fazendo de barracões teatros, cobrando
500 reis de entrada.
O homem cobra deu um espectáculo em seu
benefício no teatro local e desapareceu.
António Balduíno pensava que se ele
fosse para as plantações de fumo seriam capazes de o tomar como a uma mulher.
Ele às vezes parecia uma dama, outras vezes parecia um adolescente.
Mas é que o negro não vira em Cachoeira
um homem que um dia apreciara a estreia do Circo em Feira de Sant’Ana.
Um homem viajado, já estivera no Rio e
na Baía, e que se retirou do Circo mal acabara o número do homem cobra.
Fugiram num automóvel. Só depois é que
se soube que a polícia procurava aquele homem que furtara todo o dinheiro de
uma loja onde era empregado.
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