quinta-feira, outubro 17, 2013

COMO A RELIGIÃO

 TRATA A MULHER


Um Relato Muito Escandaloso

Conhecem, com certeza, o relato do Novo Testamento do encontro entre Jesus e a jovem adúltera que embaraçou a doutrina da Igreja a tal ponto que, dos quatro Evangelhos, só aparece no de João e mesmo neste, não em todos os manuscritos.

Alguns especialistas nesta matéria explicam esta supressão nos restantes Evangelhos porque a posição de Jesus perante a “pecadora”, a sua flexibilidade, o seu desafio à lei religiosa que ordenava o apedrejamento, foi considerada excessiva e até escandalosa para as primeiras comunidades judaico-cristãs, educadas numa cultura discriminadora das mulheres.

 A violência contra as mulheres tem as suas raízes mais profundas nas religiões patriarcais e o Judaísmo do tempo de Jesus era totalmente patriarcal. Por isso, a atitude de Jesus para com as mulheres resultaram num escândalo. Não esqueçamos que, etimologicamente, a palavra “escândalo” significa a “pedra em que se tropeça”.


Jesus terá ensinado a igualdade entre as pessoas e, logicamente, entre homens e mulheres, mas à época estas ideias eram demasiado avançadas e portanto as desigualdades prevaleceram.



Lembremo-nos que a força da tradição judaica era muito forte neste capítulo. Para se perceber da força dessa tradição eles rezavam diariamente uma oração que dizia assim:


  - “Bendito sejas, Senhor, por me teres feito judeu e não gentio, por me teres feito livre e não escravo, por me fazeres homem e não mulher.”

Actualmente, o cristianismo continua a descriminar as mulheres mesmo quando faz de forma elogiosa. Para se perceber essa descriminação na Igreja Católica, o Papa Bento XVI, em 2004, então Cardeal Ratzinger, na qualidade de Perfeito da Doutrina e da Fé, sob o pretensioso título “Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a colaboração do homem e da mulher na igreja e no mundo” dizia o seguinte referindo-se à mulher:


- “É ela que, nas situações mais desesperadas, possui uma capacidade única para resistir às adversidades de tornar a vida, todavia, possível, incluindo em situações extremas, conservando um tenaz sentido do futuro e, por último, de recordar com lágrimas o preço de dar a vida humana.”


Como se vê, nem uma palavra ou uma linha de reflexão ou condenação à violência contra as mulheres, um tema que é hoje objecto de preocupação, debate, investigação e acção em todo o mundo. Em vez disso, o Papa ressaltou o papel da mulher na sociedade actual como suporte do sofrimento à custa da sua própria vida e de aguentar sem desesperar… ou seja, as mulheres devem continuar a suportar em silêncio a violência contra elas. Em vez de denunciar, devem aguentar, em vez de libertarem-se, devem ter paciência.


- Como todos os seres humanos, Jesus foi filho do seu tempo e do seu meio. O seu país, estava então submerso numa cultura e costumes patriarcais profundamente discriminatórios das mulheres e uma das suas grandes originalidades, de todas a maior, foi a de revoltar-se contra essa cultura que ofendia a sua sensibilidade e sentido de justiça.


No seu tempo teve a coragem de pensar diferente e melhor, o que só está ao alcance dos homens de excepção. Por esse arrojo pagou com a própria vida.

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