Já a
Nessa operação que se desenrolava no
terreno com os militares em “bicha de pirilau”, uns atrás dos outros, eu
ocupava a 4ª ou 5ª posição a seguir ao soldado da frente.
Observávamos um silêncio religioso, nada
se ouvia para além do sussurrar de uma aragem ligeira sobre o capim, até que o
soldado que liderava a coluna estancou e a “bicha de pirilau” imobilizou-se.
Troquei um olhar interrogativo e, num
gesto discreto, ele apontou para o chão, uns metros mais à frente.
Eu não levava o meu galão de alferes,
era uma das elementares regras de defesa dos oficiais em combate mas eles, os
soldados, sabiam que eu era o comandante e esperavam que desse o exemplo… e eu
avancei.
Entendi
que era essa a minha obrigação de líder, de comandante, de chefe, mesmo sendo
miliciano, não militar por vocação, tal como eles, também eu ali estava por obrigação.
Dar o exemplo foi aqui lo que não fizeram nem o nosso Presidente da República,
Cavaco Silva, nem tão pouco a Presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves.
Ambos recebem, não os ordenados
correspondentes às funções que exercem mas as suas reformas – a da Presidente
da Assembleia foi-lhe atribuída aos 42 anos de idade (!...) – porque, nos termos da Lei, puderam optar, entre ordenado e reforma, pela de valor mais alto.
Na actual conjuntura de crise, de cortes
de ordenados e reformas, de sacrifícios generalizados, entendeu o legislador, e
bem, que este privilégio não justificava manter-se e daí uma norma, discutida e
aprovada no Domingo, a propósito do Orçamento de Estado para 2014, em que o seu
Artigo 76º dispõe que no exercício de funções remuneradas os pensionistas ou
beneficiários de qualquer subvenção mensal vitalícia, verão a sua pensão ou
subvenção suspensa enquanto durar o exercício da função.
No entanto, ao contrário do que
acontecerá com os restantes pensionistas, ela não terá efeitos retroactivos
para os actuais Presidentes da República e da Assembleia da República que poderão continuar a receber a reforma, bastante superior aos ordenados correspondentes às funções que exercem.
Eles “recusaram-se” a dar o exemplo,
mandaram avançar para o sacrifício o soldado anónimo que vinha lá atrás, na “bicha
de pirilau”…e, no entanto, esta que hoje estamos a travar é que é a nossa guerra a sério, onde todos estamos envolvidos, e não a de Angola em que participei há 50 anos.
Se numa situação destas, de guerra em curso para toda a população, em que se decide o futuro do país, as duas figuras máximas do Estado não conseguem dar o exemplo aos cidadãos, então, devem ser despromovidos e condenados no Tribunal das nossas consciências já que eles não as devem ter, pelo menos consciência de justiça social.
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