Episódio Nº 139
Fifi resmungava que a
sorte é Deus que a dá. António Balduíno escapava para a barraca de Rosenda onde
esquecia Bolão. Fifi que queria ter uma velhice risonha. Giusepe que queria
morrer. Luigi que fazia contas e Robert que não dizia nada nem reclamava o
salário.
Para o Circo viajar para
Santo Amaro venderam o cavalo Furacão e parte das tábuas das arqui bancadas. Luigi fazia contas.
Ninguém queria comprar o
leão e o leão comia muito. Uma noite Robert desapareceu ninguém sabe para onde.
Luigi pensou que ele tivesse roubado algum dinheiro, do pouco que o italiano
tinha guardado na barraca para as despesas do dia seguinte.
Mas Robert não tinha
levado nada. Devia ter ido no navio que partira naquela noite para a Baía.
Apareceu um homem para lutar com Balduíno, foi vencido no primeiro round e foi
às custas desta luta que o Circo se locomoveu para Cachoeira, passando
novamente por Feira de Sant’Ana em dois caminhões.
Quando chegara ocupava
sete e assim mesmo por sovinice de Luigi que apertara tudo para caber tanta
coisa em tão poucos carros. Agora iam em dois caminhões e chegava com sobra.
Giusepe se recordava que
quando viajaram para França possuíam uma verdadeira frota, pois tinham dois
barcos e por terra iam trinta e quatro carros enormes que levavam o pessoal.
Giusepe bebeu e fez toda a
viagem pensando nos grandes dias do Grande Circo Internacional. Luigi deposita
esperanças em Cachoeira e São Félix.
São duas cidades vizinhas
e São Félix possui duas fábricas de charutos. Talvez até ele arme o Circo em São Félix. Mas
é interrompido por Fifi que pergunta como irá mandar dinheiro para o colégio da
filha este mês. Luigi encolhe os ombros.
- Nem sei como se vai comer…
Bolão conta mais uma vez
ao homem cobra a sua vida. O homem cobra ouve indiferente. No outro caminhão
António Balduíno e Rosenda Rosedá riem às gargalhadas.
António Balduíno pega no
violão e canta um samba que começa assim:
«A vida é boa mulata…»
Fifi pensa que não. Bolão
também. Giusepe chora. Luigi se irrita. Somente o homem cobra vai indiferente.
Armaram o circo em São Félix. Circo
é divertimento de gente pobre e São Félix uma cidade de operários. Apareceu um
homem para lutar com António Balduíno.
O palhaço percorreu a
cidade toda, os homens comentaram, as mulheres riram. Na noite de estreia a
frente do circo estava iluminada, veio a orquestra com os moleques atrás,
pretas venderam mungunzá na porta.
As pessoas importantes
trouxeram cadeiras e chegou muita gente de Cachoeira. Primeiro entrou Fifi
(como a companhia estava reduzida, sem Robert e o cavalo Furacão, Luigi não fez
apresentações) que andou no arame.
Depois o palhaço divertiu
os espectadores. Veio Rosenda Rosedá e dançou desta vez sem a companhia de
António Balduíno ao violão porque ele esta noite era Baldo, o gigante negro.
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