Episódio Nº 152
Não havia dinheiro que fizesse o Jazz ir
tocar em outras festas nos dias em que o criouléu dava baile. Ali eles
dançavam, vestiam uma roupa qualquer, estavam entre amigos e havia discursos. O
“Liberdade na Baía” andava no auge e tinha tradições a zelar. Preparava-se o
baile de São João.
Toda a vez que António Balduíno via o
“Jazz dos 7 Canários” pensava em ser maestro de uma banda de música ou de um
Jazz.
De uma banda de música seria melhor
porque os seus componentes vão fardados e o maestro vai na frente, de costas,
com uma batuta na mão.
António Balduíno amava as cores
vistosas, as fardas rutilantes dos maestros das bandas de música. Os homens do
Jazz vestiam uma roupa qualquer ou envergavam (nas festas ricas) smokings que
não tentavam o negro.
Assim mesmo, na falta da banda de música
ele se contentaria em ser o chefe do Jazz, aquele que canta e sapateia.
Há muito tempo que ele não fazia um
samba. Também, nas plantações de fumo, ele não tinha tempo para nada. Porém,
agora, mal voltara para a Baía, fizera dois sambas que até na rádio tinham sido
cantados e, mais do que isso, fizera o a B C de Zumbi dos Palmares, onde
cantava a vida que imaginava para o seu herói.
Pelo seu A B C nascera na África,
brigara com leões, matara tigres, e, um dia, enganado pelos brancos, entrou num
navio que o trouxe escravo para as plantações de fumo.
Mas ele não gostava de apanhar, fugiu,
lutou junto com outros negros, matou muitos soldados e para não se deixar
prender se jogou de uma montanha abaixo:
«África onde eu vi a luz
Eu me alembro de ti
Vivia solto, caçando
Comendo fruta e cuscus.
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Palmares onde eu briguei
Lutei conta a escravidão
Mil polícias aqui veio
E nenhuma não voltou.
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Zumbi dos Palmares então
Do morro abaixo se jogou
Dizendo: meu povo, adeus, vou
morrer
Porque escravo eu não sou.
O Gordo decorara logo o A B
C e o recitava nas festas acompanhando ao violão.
António Balduíno procurou
aquele poeta que lhe comprava os sambas para ver se ele queria ficar com o ABC.
Mas o poeta só qui s os dois sambas,
disse que o A B C não valia nada, que os versos estavam quebrados e outras
coisas que Balduíno não entendia.
O negro se zangou porque
achava o A B C muito bonito e, depois de ter recebido trinta mil réis pelos
dois sambas, disse um bocado de desaforos ao poeta que não reagiu.
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