quinta-feira, outubro 31, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 152


Não havia dinheiro que fizesse o Jazz ir tocar em outras festas nos dias em que o criouléu dava baile. Ali eles dançavam, vestiam uma roupa qualquer, estavam entre amigos e havia discursos. O “Liberdade na Baía” andava no auge e tinha tradições a zelar. Preparava-se o baile de São João.

Toda a vez que António Balduíno via o “Jazz dos 7 Canários” pensava em ser maestro de uma banda de música ou de um Jazz.

De uma banda de música seria melhor porque os seus componentes vão fardados e o maestro vai na frente, de costas, com uma batuta na mão.

António Balduíno amava as cores vistosas, as fardas rutilantes dos maestros das bandas de música. Os homens do Jazz vestiam uma roupa qualquer ou envergavam (nas festas ricas) smokings que não tentavam o negro.

Assim mesmo, na falta da banda de música ele se contentaria em ser o chefe do Jazz, aquele que canta e sapateia.

Há muito tempo que ele não fazia um samba. Também, nas plantações de fumo, ele não tinha tempo para nada. Porém, agora, mal voltara para a Baía, fizera dois sambas que até na rádio tinham sido cantados e, mais do que isso, fizera o a B C de Zumbi dos Palmares, onde cantava a vida que imaginava para o seu herói.

Pelo seu A B C nascera na África, brigara com leões, matara tigres, e, um dia, enganado pelos brancos, entrou num navio que o trouxe escravo para as plantações de fumo.

Mas ele não gostava de apanhar, fugiu, lutou junto com outros negros, matou muitos soldados e para não se deixar prender se jogou de uma montanha abaixo:

«África onde eu vi a luz
Eu me alembro de ti
Vivia solto, caçando
Comendo fruta e cuscus.

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Palmares onde eu briguei
Lutei conta a escravidão
Mil polícias aqui veio
E nenhuma não voltou.

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Zumbi dos Palmares então
Do morro abaixo se jogou
Dizendo: meu povo, adeus, vou morrer
Porque escravo eu não sou.

O Gordo decorara logo o A B C e o recitava nas festas acompanhando ao violão.

António Balduíno procurou aquele poeta que lhe comprava os sambas para ver se ele queria ficar com o ABC. Mas o poeta só quis os dois sambas, disse que o A B C não valia nada, que os versos estavam quebrados e outras coisas que Balduíno não entendia.


O negro se zangou porque achava o A B C muito bonito e, depois de ter recebido trinta mil réis pelos dois sambas, disse um bocado de desaforos ao poeta que não reagiu.

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