quarta-feira, outubro 30, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 150


Os negros esqueceram tudo, as raízes de inhame, os montes de tangerina, os abacaxis e os beijus. Querem agora é brigar, que brigar é bom como cantar, como ouvir uma história, como mentir, como contemplar o mar na noite de cais.

O Gordo furta uma garrafa de cerveja para o urso. Alguém grita:

 - Lá vem a cavalaria.

Rápido como começou o barulho acaba. Os homens voltam às suas barracas, aos seus montes de frutas e beijus. A cavalaria não encontra mais nada, apenas um pouco de sangue no local.

Um homem tapa o talho que tem no rosto com o lenço. As navalhas desapareceram. E os negros riem satisfeitos porque nesta noite já se divertiram.

O homem do charuto diz a António Balduíno:

- Foi uma turumbamba dos diabos.

Oferece cerveja, alisa a cabeça do urso. A chuva cai molhando os negros.


                                       CRIOULÉU


O “Liberdade na Baía” ficava na rua do Cabeça, num segundo andar servido por uma escada estreita. É uma sala ampla, cadeiras em redor das paredes para as damas, um estrado onde ficava o jazz.

Há ainda um pátio de cimento com meses, onde é servida a bebida, pois é rigorosamente proibido beber na sala de baile. Ao lado a latrina.

O quartinho onde as damas arranjam o cabelo é bem pequeno, mas tem um espelho grande e um banquinho para elas se sentarem. Tem também um pente e uma lata de brilhantina.

Nos dias dos grandes bailes – quando o carnaval se aproxima ou se aproximam as festas do Bonfim – a sala fica engalanada com flores e com fitas de papel de todas as cores.

Mas agora o que está próximo é o São João e do teto pendem balões inúmeros e inúmeras bolas cheias de vento. Vai ser uma festa de arrocho a de São João.

“O Liberdade na Baía” tem tradições a zelar e o seu baile de Junho reunirá, sem dúvida, toda a criadagem das casas mais ricas, todas as mulatas que vendem doces na rua, os soldados do 19, os negros que estão espalhados na cidade.

É o criouléu mais célebre da cidade. Na Baía não são muitos os criouléus. Os negros preferem ir dançar nas macumbas a dança religiosa dos santos e só vêm aos criouléus nos dias de grande baile.

Mas “O Liberdade na Baía” conseguiu o apoio de Jubiabá que ficou sendo presidente honorário e assim prosperou.

Demais tinha um jazz de barulho, que formara ali, mas que andava ganhando dinheiro nas festas da cidade. Festa de gente rica sem o «jazz dos 7 Canários” não prestava. E os negros até já vestiam smoking.


Porém eles davam tudo na festa do “Liberdade na Baía”. 

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