domingo, outubro 20, 2013

Santarém - Largo do Seminário
Hoje é Domingo


(20 de Outubro de 2010)

(Na Minha cidade de Santarém)


A austeridade, a forma pela qual os pobres pagam os desmandos dos ricos, é hoje uma verdade tão evidente que toda a gente percebe, simplesmente, nunca como hoje a uma escala quase global que baralha um pouco as coisas.

Os Estados Unidos espirram e o mundo fica engripado. Um japonês tosse e um brasileiro fica com dores nas costas. Um Banco em Nova York abre falência porque negociava com “produtos tóxicos” e todos os outros na Europa entram em colapso porque também estavam intoxicados, de tal forma que foi preciso injectar 4,5 biliões de euros dos contribuintes para salvar o sistema bancário europeu. Grande parte dos mais de quinhentos milhões de chineses que tinham bicicletas substituíram-nas por automóveis e todo o mundo treme...

Os erros de alguns milhares levou centenas de milhões à austeridade com sacrifícios que nunca são sentidos igualmente por todos porque é mesmo assim, uns estão mais desprotegidos que outros, ou têm mais azar ou as famílias não podem ajudar a todos da mesma maneira, etc…

A CGTP promoveu uma greve geral em Lisboa para protestar contra o Governo e as medidas previstas no Orçamento de 2014 mas, rigorosamente falando, este não é o Orçamento do governo, coitado…ele não tem poder para isso!

A discussão que agora vai haver na Assembleia não passa de um jogo de sombras, de uma simulação. O Governo vai fingir que fez o Orçamento e a oposição vai fingir que acredita e tudo não passa de um teatro, de um faz de conta.

A CGTP tem muita razão na greve que promoveu, em Roma também houve manifestações contra a austeridade, mas o desfile de protesto não se devia ter ficado por Lisboa até porque a nossa voz é a mais débil, está mais longe do centro da europa, a que menos se houve.

Este Orçamento foi desenhado ao detalhe pela troika mas não só por ela, também pelas imposições do novo Regulamento da União Europeia Nº 472/2013 que determinou, no seu Artigo 6º, a sua apresentação em Bruxelas até ao passado dia 15, na reunião do Eurogrupo. Até 30 de Novembro a Comissão Europeia emitirá um parecer e será este “instrumento” que lhe dará ou não validade. Ela apenas teme o Tribunal Constitucional…

Seria portanto aqui, na sede da Comissão Europeia, que a CGTP, juntamente com as intersindicais dos restantes países europeus que como nós se sentem atingidos pela austeridade, deveriam desfilar.

Mas onde está esse unir de vozes? Porquê gritar contra um governo que apenas elaborou uma proposta de Orçamento no plano formal, sem capacidade para alterar ou melhorar seja o que for que tenha alguma importância?

Como disse um dos nossos políticos mais sinceros, em fugaz aparição na televisão, relativamente à meta do deficit: …“mas isto já estava combinado com a troika, nós ainda pedimos mas eles não acederam…”

Porque não têm, então, os nossos políticos a coragem de dizer aos cidadãos, claramente, olhos nos olhos, que estamos privados da nossa soberania, recordar-lhes que assinámos um documento, Memorando de Entendimento, que fomos nós próprios que chamámos os credores, que temos um deficit que eles não aceitam e nos obrigam a baixar mesmo que isso não seja virtuoso no curto espaço de tempo que nos dão?

Porquê não nos capacitarmos de que a realidade é esta e que as rivalidades partidárias deveriam agora, nesta situação, dar lugar a entendimentos o mais alargados possível, para concertar a estratégia na procura de uma solução, em vez dos nossos políticos se odiarem cada vez mais, atacarem-se reciprocamente, tornando mais difícil o momento em que vão ter de se sentar todos à mesma mesa?

Entretanto, vamos persistir no jogo de sombras, no “faz de conta”, discutindo um orçamento que embora seja para nós não é nosso, é da troika.

Se quisermos dizer mal deste Orçamento, algo que seja mesmo autêntico e mergulhe na realidade, no sentir de todos os portugueses, digamos que ele é uma humilhação.

Mais uma humilhação ao nível de outras históricas que sofremos ao longo da nossa vida de oito séculos, como a ocupação espanhola, no domínio dos Filipes, das Invasões Francesas cujas tropas entraram por aqui dentro e nos espoliarem e roubarem de muita coisa boa e valiosa das nossas casas e dos nossos palácios. Depois, os ingleses, com o seu Ultimato em 1890, por causa daquela história do Mapa cor-de-rosa em África que, de tão humilhante, vinda do nosso velho aliado, até inspirou a letra do hino nacional: “… contra os canhões marchar… marchar!

Finalmente, o Orçamento de Estado para 2014 remata a última das grandes humilhações que só não é sentida tanto no espírito porque nos vai demasiado aos bolsos…

 Contudo, se através dele, pudermos recuperar um pouco da nossa independência perdida, do nosso orgulho e da nossa dignidade, colocando, em meados do próximo ano, a troika no aeroporto com as malas aviadas, então, nem tudo terá sido perdido.

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