quarta-feira, novembro 27, 2013

António Balduíno leu o manifesto por entre aplausos....
JUBIABÁ

Episódio Nº 173


Mas Balduíno não vê nenhum soldado. O pálido explica:

 - Disfarçado…

Severino faz um discurso. Não são somente os operários da Circular que estão passando fome. Também eles, das docas não têm o que comer. E demais têm um dever de solidariedade para com os operários da circular. São todos irmãos. Eles devem aderir à greve.

Os discursos se sucedem. Um dos capatazes, (um homenzinho vermelho que nas horas de folga jogava dados com eles na “lanterna dos Afogados”) recita um discurso dizendo que tudo aquilo era uma besteira, que não via motivos para greve, que tudo estava muito bem.

Mas é aparteado e vaiado. O negro Henrique bate a mão na mesa e diz:

 - Eu sou um negro burro e não sei palavras bonitas. Mas sei que tem homens aqui que tem filhos com fome e mulher com fome. A gente é negro, eles são brancos, mas nesta hora tudo é homem com fome…

Foi votada a adesão à greve. A vitória foi dada pelo voto de António Balduíno. Só depois se descobriu que votaram contra pessoas que nem eram da estiva, quanto mais do sindicato.

Foi redigido um manifesto. E foi designada uma comissão para levar aos operários em greve a solidariedade dos estivadores.

António Balduíno fazia parte desta comissão e ia alegre porque ia brigar, entrar em barulho, gritar, fazer todas as coisas de que ele gostava.


«COMPANHEIROS DA CIRCULAR»

Os estivadores reunidos em Assembleia no seu sindicato de classe, resolveram aderir ao movimento grevista dos seus companheiros da Companhia Circular. Vêm assim trazer o seu apoio incondicional aos grevistas na luta pelas reivindicações. Os companheiros da Circular podem contar com os estivadores. Pelo aumento de salários! Por oito horas de trabalho! Pela abolição das multas!

         a)   A Directoria


António Balduíno leu o manifesto entre aplausos. Os condutores de bonde se abraçavam. Já os padeiros haviam aderido. Agora eram os estivadores. A greve seria, sem dúvida, vitoriosa.

Estavam parados todos os serviços de bondes e telefone. À noite não haveria luz eléctrica. Os operários haviam enviado à alta direcção da Companhia um memorial com as suas pretensões.

A directoria declarara que não concordava e recorrera ao governo. Por falta de energia eléctrica não circularam jornais.

Havia muita gente na rua e grupos de operários eram encontrados em todas as esquinas, conversando. Passavam patrulhas de cavalaria. Corriam boatos que a Circular estava contratando os desempregados a peso de ouro para que furassem a greve.


Um advogado – Dr. Gustavo Barreiras – presidente de uma associação de operários, procurou o governador e conversaram longamente sobre o assunto.

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