Eu também tenho um filho e não quero que ele seja escravo... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 176
Isso são sujeitos que
querem perturbar a ordem… Inventam coisas. Você vai acabar perdendo o emprego e
esse dinheiro que ganha. Quer muito acaba não tendo nenhum.
O operário se lembrou da
mulher reclamando do filho doente. Baixou a cabeça António Balduíno insultou o
homem do sobretudo:
- Quem lhe pagou para você contar essa
história?
- Você é um dos tais, não é?
- Sou é muito homem para lhe meter a mão no
focinho…
- Sabe com quem está
falando?
- Nem quero saber…
Para que saber se a cidade
era deles? Hoje ele podia dizer o que qui sesse
porque eles mandavam na cidade.
- Pois eu sou o doutor
Malagueta, ouviu?
- Médico da Circular, não é?
Quem disse isso foi
Severino que se aproximava. Vinham com eles vários outros operários. O negro
Henrique era gigantesco.
O homem do sobretudo
dobrou a esqui na. O operário que
conversara com ele se reuniu ao grupo. Severino explicou:
- Rapaz, greve é como estes colares que a
gente vê nas vitrinas. É preso por uma linha. Se cortar a linha lá caem todas.
É preciso não furar a greve…
O operário chamava-se
Mariano: fez que sim com a cabeça.
António Balduíno foi com
eles para o sindicato dos trabalhadores da Circular esperar a solução da
conferência do governo com os directores da companhia.
Na mesa da directoria do
Sindicato um negro acabava um discurso:
- «Meu pai foi escravo, eu também fui escravo,
mas não quero que meus filhos sejam escravos…»
Há homens sentados e
muitos estão em pé porque não há mais lugares vagos
Uma delegação de padeiros
vem prestar o seu apoio aos grevistas e lê um manifesto incitando todo o
proletariado à greve,
“Greve geral”, gritam na
sala. Um investigador da polícia fuma. Está encostado na porta e não é o único.
Mas nem prestam atenção a ele.
Agora fala um rapaz de
óculos. Diz que os operários são uma imensa maioria no mundo e os ricos uma
pequena minoria. Então porque os ricos sugavam o suor dos pobres? Porque esta
maioria trabalhava estupidamente para o conforto da minoria?
António Balduíno bate
palmas. Tudo aqui lo é novo para ele
e o que estão dizendo é certo. Ele nunca o soube, porém sempre o sentiu. Por
isso nunca qui sera trabalhar.
Ao A B C diziam também
aquelas coisas mas não diziam tão claramente, não explicavam. Como nas noites
do Morro do Capa Negro ele ouvia e aprendia.
O rapaz desceu da cadeira
de onde falou. O negro que falara antes ficou bem junto de António Balduíno que
o abraça:
- Eu também tenho um filho e não quero que ele
seja escravo…
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