sexta-feira, novembro 29, 2013

Eu também tenho um filho e não quero que ele seja escravo...
JUBIABÁ

Episódio Nº 176


Isso são sujeitos que querem perturbar a ordem… Inventam coisas. Você vai acabar perdendo o emprego e esse dinheiro que ganha. Quer muito acaba não tendo nenhum.

O operário se lembrou da mulher reclamando do filho doente. Baixou a cabeça António Balduíno insultou o homem do sobretudo:

 - Quem lhe pagou para você contar essa história?

 - Você é um dos tais, não é?

 - Sou é muito homem para lhe meter a mão no focinho…

- Sabe com quem está falando?

 - Nem quero saber…

Para que saber se a cidade era deles? Hoje ele podia dizer o que quisesse porque eles mandavam na cidade.

- Pois eu sou o doutor Malagueta, ouviu?

 - Médico da Circular, não é?

Quem disse isso foi Severino que se aproximava. Vinham com eles vários outros operários. O negro Henrique era gigantesco.

O homem do sobretudo dobrou a esquina. O operário que conversara com ele se reuniu ao grupo. Severino explicou:

 - Rapaz, greve é como estes colares que a gente vê nas vitrinas. É preso por uma linha. Se cortar a linha lá caem todas. É preciso não furar a greve…

O operário chamava-se Mariano: fez que sim com a cabeça.

António Balduíno foi com eles para o sindicato dos trabalhadores da Circular esperar a solução da conferência do governo com os directores da companhia.

Na mesa da directoria do Sindicato um negro acabava um discurso:

 - «Meu pai foi escravo, eu também fui escravo, mas não quero que meus filhos sejam escravos…»

Há homens sentados e muitos estão em pé porque não há mais lugares vagos

Uma delegação de padeiros vem prestar o seu apoio aos grevistas e lê um manifesto incitando todo o proletariado à greve,

“Greve geral”, gritam na sala. Um investigador da polícia fuma. Está encostado na porta e não é o único. Mas nem prestam atenção a ele.

Agora fala um rapaz de óculos. Diz que os operários são uma imensa maioria no mundo e os ricos uma pequena minoria. Então porque os ricos sugavam o suor dos pobres? Porque esta maioria trabalhava estupidamente para o conforto da minoria?

António Balduíno bate palmas. Tudo aquilo é novo para ele e o que estão dizendo é certo. Ele nunca o soube, porém sempre o sentiu. Por isso nunca quisera trabalhar.

Ao A B C diziam também aquelas coisas mas não diziam tão claramente, não explicavam. Como nas noites do Morro do Capa Negro ele ouvia e aprendia.

O rapaz desceu da cadeira de onde falou. O negro que falara antes ficou bem junto de António Balduíno que o abraça:


 - Eu também tenho um filho e não quero que ele seja escravo

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