quinta-feira, novembro 28, 2013

Onde se viu operários quererem ser ricos?...
JUBIABÁ

Episódio Nº 174


Ao voltar declarou no sindicato que o governo achara justas as pretensões dos operários e que iria entrar em entendimentos com a direcção da Companhia. Houve muita palma.

O jovem advogado estendia já as mãos e parecia colher os votos que o haviam de eleger deputado. Severino disse em voz alta:

 - Tapeação.


António Balduíno já estava farto de ouvir tanto discurso. Mas gostava. Aquilo era uma coisa nova para ele, uma das coisas que amaria fazer.

Mas era bom. Ele tinha a impressão que naquele momento eram donos da cidade. Donos da verdade. Não havia luz, nem bondes, nem telefone para os namorados, o navio sueco não descarregaria os trilhos para a estrada de ferro nem carregaria os sacos de cacau que enchiam o armazém 3.

Os guindastes estavam parados, vencidos pelos inimigos que eles sempre mataram. E os donos daquilo tudo, os homens que mandavam neles, se escondiam medrosos, sem coragem de aparecer.

António Balduíno sempre tivera um grande desprezo pelos que trabalhavam. E preferiria entrar pelo caminho do mar, de se suicidar numa noite no cais, do que trabalhar, se Lindinalva não lhe houvesse pedido que tomasse conta do filho.

Mas o negro agora olhava com outro respeito os trabalhadores. Eles podiam deixar de ser escravos. Quando eles queriam ninguém podia com eles.

Aqueles homens magros que vieram da Espanha e viviam nos estribos do bonde cobrando passagens, aqueles negros hercúleos que carregavam fardos no cais ou manejavam as máquinas nas oficinas de electricidade, eram fortes e decididos e tinham a vida da cidade nas mãos.

No entanto passam rindo, mal vestidos, os pés no chão muitas vezes e ouvem insultos dos que se acham prejudicados pela greve.

Mas eles riem porque agora sabem que são uma força. António Balduíno também descobriu isto e foi como se nascesse de novo.


O homem do sobretudo se levantou da mesa e interpelou o operário.

 - Por quê esta greve?

 - Para melhorar o salário…

 - Mas de que é que vocês precisam?

 - De dinheiro…

Querem ser ricos também?

O operário ficou meio aparvalhado. Na verdade ele nunca pensara em ser rico. Queria era mais dinheiro para que a mulher não reclamasse tanto, para poder pagar uma visita ao médico (a filhinha estava doente), para comprar outra roupa aquela estava no fio.

 - Vocês querem muita coisa. Onde se viu operários precisar de tanta coisa?

O operário estava confuso. António Balduíno chegou para perto deles. O homem de sobretudo continuava a falar.

 - Quer um conselho? Deixe essa besteira de greve.

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