Onde se viu operários quererem ser ricos?... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 174
Ao voltar declarou no
sindicato que o governo achara justas as pretensões dos operários e que iria
entrar em entendimentos com a direcção da Companhia. Houve muita palma.
O jovem advogado estendia
já as mãos e parecia colher os votos que o haviam de eleger deputado. Severino
disse em voz alta:
- Tapeação.
António Balduíno já estava
farto de ouvir tanto discurso. Mas gostava. Aqui lo
era uma coisa nova para ele, uma das coisas que amaria fazer.
Mas era bom. Ele tinha a
impressão que naquele momento eram donos da cidade. Donos da verdade. Não havia
luz, nem bondes, nem telefone para os namorados, o navio sueco não
descarregaria os trilhos para a estrada de ferro nem carregaria os sacos de
cacau que enchiam o armazém 3.
Os guindastes estavam
parados, vencidos pelos inimigos que eles sempre mataram. E os donos daqui lo tudo, os homens que mandavam neles, se
escondiam medrosos, sem coragem de aparecer.
António Balduíno sempre
tivera um grande desprezo pelos que trabalhavam. E preferiria entrar pelo
caminho do mar, de se suicidar numa noite no cais, do que trabalhar, se
Lindinalva não lhe houvesse pedido que tomasse conta do filho.
Mas o negro agora olhava
com outro respeito os trabalhadores. Eles podiam deixar de ser escravos. Quando
eles queriam ninguém podia com eles.
Aqueles homens magros que
vieram da Espanha e viviam nos estribos do bonde cobrando passagens, aqueles
negros hercúleos que carregavam fardos no cais ou manejavam as máqui nas nas oficinas de electricidade, eram fortes e
decididos e tinham a vida da cidade nas mãos.
No entanto passam rindo,
mal vestidos, os pés no chão muitas vezes e ouvem insultos dos que se acham
prejudicados pela greve.
Mas eles riem porque agora
sabem que são uma força. António Balduíno também descobriu isto e foi como se
nascesse de novo.
O homem do sobretudo se
levantou da mesa e interpelou o operário.
- Por quê esta greve?
- Para melhorar o salário…
- Mas de que é que vocês precisam?
- De dinheiro…
Querem ser ricos também?
O operário ficou meio
aparvalhado. Na verdade ele nunca pensara em ser rico. Queria era mais dinheiro
para que a mulher não reclamasse tanto, para poder pagar uma visita ao médico
(a filhinha estava doente), para comprar outra roupa aquela estava no fio.
- Vocês querem muita coisa. Onde se viu
operários precisar de tanta coisa?
O operário estava confuso.
António Balduíno chegou para perto deles. O homem de sobretudo continuava a
falar.
- Quer um conselho? Deixe essa besteira de
greve.
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