António Balduíno leu o manifesto por entre aplausos.... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 173
Mas Balduíno não vê nenhum
soldado. O pálido explica:
- Disfarçado…
Severino faz um discurso.
Não são somente os operários da Circular que estão passando fome. Também eles,
das docas não têm o que comer. E demais têm um dever de solidariedade para com
os operários da circular. São todos irmãos. Eles devem aderir à greve.
Os discursos se sucedem.
Um dos capatazes, (um homenzinho vermelho que nas horas de folga jogava dados
com eles na “lanterna dos Afogados”) recita um discurso dizendo que tudo aqui lo era uma besteira, que não via motivos para
greve, que tudo estava muito bem.
Mas é aparteado e vaiado.
O negro Henrique bate a mão na mesa e diz:
- Eu sou um negro burro e não sei palavras
bonitas. Mas sei que tem homens aqui
que tem filhos com fome e mulher com fome. A gente é negro, eles são brancos,
mas nesta hora tudo é homem com fome…
Foi votada a adesão à
greve. A vitória foi dada pelo voto de António Balduíno. Só depois se descobriu
que votaram contra pessoas que nem eram da estiva, quanto mais do sindicato.
Foi redigido um manifesto.
E foi designada uma comissão para levar aos operários em greve a solidariedade
dos estivadores.
António Balduíno fazia
parte desta comissão e ia alegre porque ia brigar, entrar em barulho, gritar,
fazer todas as coisas de que ele gostava.
«COMPANHEIROS DA CIRCULAR»
Os estivadores reunidos em
Assembleia no seu sindicato de classe, resolveram aderir ao movimento grevista
dos seus companheiros da Companhia Circular. Vêm assim trazer o seu apoio
incondicional aos grevistas na luta pelas reivindicações. Os companheiros da
Circular podem contar com os estivadores. Pelo aumento de salários! Por oito
horas de trabalho! Pela abolição das multas!
a)
A Directoria
António Balduíno leu o
manifesto entre aplausos. Os condutores de bonde se abraçavam. Já os padeiros
haviam aderido. Agora eram os estivadores. A greve seria, sem dúvida,
vitoriosa.
Estavam parados todos os
serviços de bondes e telefone. À noite não haveria luz eléctrica. Os operários
haviam enviado à alta direcção da Companhia um memorial com as suas pretensões.
A directoria declarara que
não concordava e recorrera ao governo. Por falta de energia eléctrica não
circularam jornais.
Havia muita gente na rua e
grupos de operários eram encontrados em todas as esqui nas,
conversando. Passavam patrulhas de cavalaria. Corriam boatos que a Circular
estava contratando os desempregados a peso de ouro para que furassem a greve.
Um advogado – Dr. Gustavo
Barreiras – presidente de uma associação de operários, procurou o governador e
conversaram longamente sobre o assunto.
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