terça-feira, novembro 26, 2013

É meu filho....
JUBIABÁ

Episódio Nº 172






António Balduíno sente inveja deles porque estão fazendo alguma coisa (daquelas coisas que António Balduíno gostava de fazer) e o negro não tem nada para fazer nesta manhã de tanto sol.

Os grupos passam. Vão todos para o sindicato que fica numa rua ali atrás. Balduíno segue sozinho pela rua deserta. Ouve o ruído das conversas na outra rua.

Parece que alguém está fazendo um discurso no sindicato. Ele também é do sindicato dos estivadores. Por sinal que já lhe falaram em ser candidato à directoria.

Devem saber que ele é um negro valente. Mas um homem loiro, que mastiga um cigarro e que amanheceu bêbedo, se atravessa à sua frente:

 - Tu também vai fazer greve, negro? Tudo por causa da princesa Isabel. Onde já se viu negro valer de nada’ Agora o que é que se vê? Negro faz até greve, deixa os bondes parados.

Devia era entrar tudo no chicote, que negro só serve para escravo… Vai para a tua greve, negro. Os burros não livraram essa cambada? Vai embora antes que te cuspa filho de cão…

O homem cospe no chão. Ele está bêbedo mas António Balduíno o empurra com força e ele se estatela no cimento. Depois o negro limpa as mãos e começa a pensar no motivo por que este homem insulta assim os negros.

A greve é dos condutores de bondes, dos operários das oficinas de força e luz, da companhia telefónica. Tem até muito espanhol entre eles, muito branco mais alvo que aquele. Mas todo o pobre agora já virou negro, é o que lhe explica Jubiabá.

Do terreiro vem um rumor de brigas. São os trabalhadores das padarias que aderiram á greve. E os entregadores de pão derrubaram os cestos na rua. Os moleques caem em cima e até criadas de casas ricas vêm apanhar pão de graça.


Vão encontrá-lo no quarto de Amélia, de gatinhas no chão, brincando com Gustavinho:

 - Eu sou o lobisomem…

Se levanta de um pulo. Severino bota a mão no seu ombro e avisa:

 - A gente precisa de você Balduíno…

 - O negro pensa logo em brigar.

 - O sindicato vai se reunir…

O negro Henrique enxuga o suor da cara.

 - Deu trabalho pra lhe achar…

Eles estão olhando o menino branco que está sentado no chão. António Balduíno explica meio confuso:

 - É meu filho…

 - A gente quer aderir à greve… A gente precisa de voto de você.

Ele deixa Gustavinho com o Gordo e sai rindo, alegre porque também vai fazer a sua greve.

No Sindicato há uma barulheira horrível. Todos falam ao mesmo tempo e ninguém se entende.

A directoria toma assento na mesa e pede silêncio Um sujeito pálido diz a Balduíno:

 - Tem polícia aqui…

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