É meu filho.... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 172
António Balduíno sente inveja deles porque estão fazendo alguma coisa (daquelas coisas que António Balduíno gostava de fazer) e o negro não tem nada para fazer nesta manhã de tanto sol.
Os grupos passam. Vão todos para o sindicato que fica
numa rua ali atrás. Balduíno segue sozinho pela rua deserta. Ouve o ruído das
conversas na outra rua.
Parece que alguém está fazendo um discurso no
sindicato. Ele também é do sindicato dos estivadores. Por sinal que já lhe
falaram em ser candidato à directoria.
Devem saber que ele é um negro valente. Mas um homem
loiro, que mastiga um cigarro e que amanheceu bêbedo, se atravessa à sua
frente:
- Tu também vai
fazer greve, negro? Tudo por causa da princesa Isabel. Onde já se viu negro
valer de nada’ Agora o que é que se vê? Negro faz até greve, deixa os bondes
parados.
Devia era entrar tudo no chicote, que negro só serve
para escravo… Vai para a tua greve, negro. Os burros não livraram essa cambada?
Vai embora antes que te cuspa filho de cão…
O homem cospe no chão. Ele está bêbedo mas António
Balduíno o empurra com força e ele se estatela no cimento. Depois o negro limpa
as mãos e começa a pensar no motivo por que este homem insulta assim os negros.
A greve é dos condutores de bondes, dos operários das
oficinas de força e luz, da companhia telefónica. Tem até muito espanhol entre
eles, muito branco mais alvo que aquele. Mas todo o pobre agora já virou negro,
é o que lhe explica Jubiabá.
Do terreiro vem um rumor de brigas. São os
trabalhadores das padarias que aderiram á greve. E os entregadores de pão
derrubaram os cestos na rua. Os moleques caem em cima e até criadas de casas
ricas vêm apanhar pão de graça.
Vão encontrá-lo no quarto de Amélia, de gatinhas no
chão, brincando com Gustavinho:
- Eu sou o
lobisomem…
Se levanta de um pulo. Severino bota a mão no seu
ombro e avisa:
- A gente
precisa de você Balduíno…
- O negro pensa
logo em brigar.
- O sindicato
vai se reunir…
O negro Henrique enxuga o suor da cara.
- Deu trabalho
pra lhe achar…
Eles estão olhando o menino branco que está sentado no
chão. António Balduíno explica meio confuso:
- É meu filho…
- A gente quer
aderir à greve… A gente precisa de voto de você.
Ele deixa Gustavinho com o Gordo e sai rindo, alegre
porque também vai fazer a sua greve.
No Sindicato há uma barulheira horrível. Todos falam
ao mesmo tempo e ninguém se entende.
A directoria toma assento na mesa e pede silêncio Um
sujeito pálido diz a Balduíno:
- Tem polícia
aqui…
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