DOMINGO
(Na minha cidade de Santarém em 10/11/2013
(Na minha cidade de Santarém em 10/11/2013
Para
nós, reformados, os Domingos já não são Domingos. O que tinham eles de mais
importante que não fosse a folga no trabalho, a pausa nas relações do dia-a-dia
com os colegas, o arrumar do despertador na noite de sábado?
Pagam-me o mesmo sem
eu fazer nada – (é certo que agora cada vez menos…) - por “obra e graça” do
Estado Social, das conqui stas da
Social-Democracia em vias de desaparecimento.
Como diz Boaventura Sousa
Santos “o capitalismo
financeiro não tolera economias com distribuição social”.
Não é
possível distribuir riqueza que não se produza… e este princípio nunca deve ser
esquecido, exactamente como princípio. Viver a crédito encerra sempre um grande
risco: de um dia os credores dizerem: “basta”!
Consultam-se agora os sábios,
ouvem-se as iminências do costume: economistas, políticos, ex- governantes,
comentadores, mas das suas doutas palavras apenas se retiram ténues esperanças.
Ninguém tem soluções, a problemática é tão intrincada que não se vê saída que
não seja “para os qui ntos do
inferno…”. O destino parece ser pagar... mas como e quando?
Erros, todos apontam, críticas,
então, quem não as faz, as queixas, essas, não têm fim, mas de que servem?
Os governos estão
encurralados, impotentes, incapazes, dependentes de uma entidade que tem muitos
nomes a começar por “mercados”, agências de Rating, “troika”, senhora Merkel… e
por todas as forças que na luz difusa dos gabinetes, no cimo dos arranha-céus,
gerem silenciosamente, de forma não democrática, os destinos da humanidade…
Longe vão os tempos em que tínhamos nas nossas casas um décimo
das coisas que temos hoje mas em contrapartida as preocupações para o dia seguinte
era se fazia sol ou chuva ou se aquela dor chata na coluna iria melhorar...
Percebe-se, por
isto, que em 2011 tenham sido vendidas por mês, em média, 564.000 embalagens de
anti-depressivos e desde a última década, quando a taxa de desemprego era
então de 4%, o aumento destes psico-fármacos tenha disparado 177%.
Em média, por dia, até Agosto
de 2013, mais de 75 mil embalagens de anti-depressivos, estabilizadores de
humor, tranqui lizantes, hipnóticos e
sedativos, um aumento de 1,9% face ao mesmo período do 2012, revelam dados da
consultora IMS Health.
No total, entre Janeiro e Agosto deste ano,
foram vendidas 18 milhões de embalagens destes medicamentos, mais 339.961
caixas (1,9%) relativamente ao período homólogo de 2012, indicam os dados
divulgados à agência Lusa a propósito do Dia Europeu da Depressão, que se
assinala no dia 01 de Outubro.
É o fim de um ciclo e o caminho irá agora ser longo e doloroso como sempre acontece nos períodos de transição mas dele irá nascer um novo Portugal, forçosamente diferente do anterior, mais selectivo, mais rigoroso, mais especializado e competitivo, com mais futuro, integrado numa Europa que nos limitará cada vez mais a independência, obrigando-nos a gerir os dinheiros com disciplina orçamental em contradição comum passado de excessos que já vêm de longe.
As lideranças
políticas dos dois partidos de centro, PS/ PSD, o “centrão”, no dizer dos
comentadores, que têm governado este país em democracia, por duas vezes
conduziram-nos a uma situação de falência financeira. Primeiro em 1983, com
Mário Soares do PS e a intervenção do FMI, e em 2011 com José Sócrates, aos pés
da Troika.
Por eles, PSD/PS,
passaram o BPN, o BPP, as PPP (Parecerias Públicas Privadas), os Contratos
Swaps (que ninguém percebeu muito bem o que eram), etc…, etc…
Mas muito antes,em 1892, já tinha sido declarada falência. Antero de
Quental, poeta e filósofo, afirmava então que Portugal se desmoronava desde o
Século XIX. Era um pedinte do exterior.
Desta
vez, não há muletas: nem o ouro do Brasil, especiarias da Índia, comércio de
escravos, matérias-primas das colónias a preço de saldo, não, desta vez terá
que ser totalmente por mérito nosso, dos portugueses e da sua juventude muito
mais culta e preparada e, esperamos, mais honesta politicamente.
Nada está escrito
nas estrelas, tudo vai depender do que fizermos no dia a dia, e da política da
Comunidade Europeia da qual fazemos parte e que também tem fortes
responsabilidades, tal como a desregulamentação do sistema financeiro
internacional, na situação a que chegámos.
Receio que a Constituição tenha que ser adaptada aos novos tempos e a estrutura dos partidos políticos, fechados, cujos interesses facilmente se sobrepôem aos do país, transformando a democracia portuguesa em partidocracia, uma espécie de tirania dos partidos, tenha que ser mexida.
As últimas eleições autárquicas com vitórias significativas de candidatos independentes e a indisciplina de outros que não cumpriram as orientações partidárias candidatando-se e vencendo à rebeldia destes é o sintoma de que algo está profundamente errado.
O que resta saber são os custos sociais do que vier a acontecer se essas alterações resultarem de rupturas na sociedade que podem ser violentas. Os partidos estão fortemente estribados no poder e não se vão abrir facilmente fragilizando as suas actuais estruturas.
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