Episódio Nº 162
Novamente fez Amélia procurar emprego. E
aceitou um convite de Lulu, numa cafetina que possuía a pensão mais cara da
cidade, para ir fazer a vida na pensão Monte Carlo.
António Balduíno ouviu tudo isso de
cabeça baixa, passando a mão no talho da cara. A noite lá fora era chuvosa.
A criança, um menino forte como o pai e
triste como a mãe, seguiu Amélia. Lindinalva naquela noite fez a sua estreia na
pensão Monte Carlo com um vestido de baile bem decotado.
Lulu lhe havia dado instruções: pedir
bastante bebida e bebida cara. Procurar de preferência os gordos coronéis que
vinham das plantações de cacau, de fumo, da cana do açúcar.
Ela tinha um tipo esguio de virgem que
devia agradar aos velhos. E que explorasse o mais que pudesse. Era a vida…
A música era uma valsa lenta quando ela
entrou na sala da pensão. No seio levava a chave do quarto que devia entregar
ao homem que a convidasse para a mesa.
Com aquela chave abririam os segredos do
seu corpos… Lindinalva não está com vontade de chorar. A música é que é triste.
Pares se arrastam pela sala. Ainda é
cedo e não tem muita gente na pensão. Apenas duas mulheres estão ocupadas na
mesa de rapazes que bebem cerveja.
Lindinalva sente-se numa mesa de
mulheres… Uma loira explica:
-
É a novata.
As mulheres olham com indiferença para
Lindinalva. Só a mulata que bebe um cálice de cachaça pergunta:
-
O que é que você veio fazer aqui ?
A música se arrasta com tristeza. A voz
de Lindinalva treme:
-
Não encontrei trabalho…
Uma francesa oferece cigarros:
-
Quem me dera que o coronel Pedro viesse hoje… Preciso de dinheiro.
A mulata espia o cálice e de súbito
solta uma gargalhada. As outras não se preocupam, pois já estão acostumadas com
as maluqui ces de Eunice. Mas
Lindinalva se assusta.
Porque a música é tão triste? Bem que
podiam tocar um samba alegre. Da rua vem um ruído confuso de vozes e bondes. Um
ruído de vida. A pensão parece um cemitério onde houvesse música. É o que
Eunice está dizendo:
-
Nós tamos mortas e não sabemos. A vida acabou para a gente. Mulher dama é quase
defunto.
A francesa espera o Coronel Pedro. Ela
precisa de dinheiro, recebeu uma carta dos parentes que estão numa província da
França. O irmãozinho está quase morto. E pedem que ela, que vai tão bem com a
casa de modas no Brasil, mande mais algum dinheiro. Ela bate os dedos na mesa:
-
Casa de modas… Casa de modas…
Eunice emborca o cálice:
-
Tudo morta… Tudo… Cemitério…
-
Eu estou bem viva… - retruca uma morena nova. Essa Eunice tem cada ideia… - e
sorri.
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