quarta-feira, novembro 13, 2013


JUBIABÁ

Episódio Nº 161

O Comendador faliu (as mulheres comeram a casa – diziam os comerciantes). O noivo foi de uma dedicação rara. Trabalhou muito mas não conseguiu nada. O comendador começou a viver nas casas das mulheres mais baratas da vida e o noivo vinha ver Lindinalva toda a tarde. Um dia se mudaram do sobrado que ficou para os credores.

Foram morar muito longe e era o noivo que sustentava a casa. Num dia de temporal dormiu lá. O Comendador andava na casa das mulheres.

A porta do quarto de Lindinalva estava apenas encostada. Gustavo entrou. Ela se escondeu no lençol. Sorrindo.

Porém Lindinalva não pensou que tudo mudasse assim tão de repente. Dormiram juntos várias vezes e no princípio tudo era muito bom. Noites doces de amor, beijos que magoavam os lábios, mãos que machucavam os seios como se desfolhassem papoilas.

Mas aos poucos foi-se afastando, se queixando dos negócios que não prosperavam, das dificuldades do casamento próximo que foi adiado três vezes.

O Comendador morreu na casa de uma mulher da vida. Os jornais deram. Gustavo se sentiu ofendido com aquilo, declarou que a sua carreira estava irremediavelmente comprometida e no dia do enterro não apareceu.

Dias depois enviou duas notas de cem mil reis. Lindinalva mandou dizer que queria vê-lo. Passou-se uma semana e ele veio. Veio tão sombrio e com tanta pressa que ela não chorou nem disse que estava grávida.


CANTIGA DE AMIGO


Foi Amélia que disse a António Balduíno que Lindinalva estava na vida. Amélia ficara maternal e terna desde que a desgraça se abatera sobre a casa do Comendador.

Fora pai e mãe para Lindinalva. Mas quando se mudaram, Lindinalva fez questão que ela procurasse outro emprego, que não os acompanhasse.

Ela bem que quisera ir. Mas Lindinalva não deixara, se zangara mesmo. Amélia tivera que ir para casa de Manuel das Almas, português rico que possuía uma confeitaria na cidade.

Por esta época António Balduíno andava pelas plantações de fumo.

Quando Lindinalva dera à luz fora Amélia que a ajudara, que era como ela chamava a Lindinalva. Fora dela o dinheiro para o parto, ela fora enfermeira dedicada e boa. Tão boa que Lindinalva não sentia humilhação.

Gustavo, que casara com a filha de um deputado, mandara cem mil reis para a criança e um pedido angustioso de silêncio.

Lindinalva respondeu que ele podia ficar descansado que ela nunca revelaria nada.

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