(Prof. Luiz
Marins)
Nestes tempos em que estamos vivendo,
onde ninguém, em nenhum
lugar do mundo, está a salvo – tanto dos ataques dos terroristas de todos os
matizes quanto dos que a eles declararam guerra mundial – é importante
ressaltar que em qualquer análise que se faça do mundo contemporâneo, o Brasil
desponta como a “Capital
Mundial da Tolerância”.
O Brasil é um País visto e reconhecido como um lugar pacífico, de
um povo tolerante – até tolerante demais para os que gostariam de ver nosso
povo mais indignado com nossas mazelas. Aqui
convivem, na pureza ou na falsidade (pouco importa desde que convivam de
maneira tolerante e pouco violenta), brancos e negros, árabes e judeus,
católicos e protestantes, corintianos e palmeirenses, flamenguistas e
vascaínos.
O maior problema do mundo de hoje é a intolerância. Grupos
radicais, são exatamente “radicais” por não serem tolerantes com as diferenças,
com os opostos, com a opinião discordante. A intolerância faz com que o meu
“deus” seja o único verdadeiro. A minha opinião a única certa. A minha verdade,
a única verdade.
A intolerância é radical. A intolerância é violenta pela própria
natureza da não-aceitação a não ser do que considero certo, do que entendo como
justo, do que acredito como verdadeiro, da minha e somente minha verdade.
Podemos criticar com veemência a passividade do brasileiro.
Podemos nos indignar pela falta de reação às condições de desigualdade social e
distribuição de renda de nosso País. Podemos até concluir que esse excesso de
tolerância das camadas mais oprimidas do Brasil seja um grande fator limitante
em nossas conqui stas sociais. Mas só
essa constatação é prova em si mesma de nossa tolerância. Se ela é demais ou de
menos não quero discutir neste texto. Se ela é o que faz do brasileiro um povo
que se diz feliz ou se ela é um ópio que anestesia o espírito de luta de nosso
população mais carente, também não quero discutir aqui .
O fato é que a tolerância é uma marca registrada do brasileiro. Das “diretas
já!” ao “apagão”, o povo “se conforma” e segue a vida, acreditando mais um vez
e colaborando com autoridades e governos.
E só mesmo quem já viveu em países onde a intolerância predomina
para dar valor à tolerância. Quem não viveu, quem não experimentou, não sabe o
que é ser eternamente marcado por sua origem étnica, sua crença religiosa, seus
valores mais íntimos e até pelo que pensa no mais íntimo de seu ser. Quem não
viveu em países onde a intolerância impera, não sabe o que é conviver com o
medo de ser diferente, de falar diferente, de vestir-se diferente, de olhar
diferente. Há inúmeras formas de violência dirão muitos. Há a violência física,
mas há também a violência da exclusão social e econômica. Há a violência da
indiferença e tantas outras. É verdade. Mas nenhuma violência é mais violenta
do que o medo e nenhum medo é maior do que o da morte violenta.
Se no Brasil,
temos a violência nas grandes cidades, fruto das desigualdades, incendiadas
pelo narcotráfico, maximizadas pelo descaso das camadas mais privilegiadas, a
verdade é que ainda assim temos a marca da tolerância. A violência urbana no
Brasil é fruto da desigualdade social e econômica e não da intolerância
religiosa, das diferenças de cor da pele, do amendoado dos olhos, do tecido que
envolve o corpo. Isso faz uma grande diferença, porque a desigualdade social e
econômica pode ser resolvida ou minorada com programas e projetos sérios, com
vontade política. A intolerância étnica, religiosa, política ou ideológica que
seja, parece não ter solução, nem teórica. Que falem os conflitos na Irlanda do
Norte, nos Balcãs, na Espanha, no Oriente Médio.
Sendo a “Capital
Mundial da Tolerância” o
Brasil pode fazer do limão que é mundo em vivemos a possível limonada que
poderá tirar a sede de nossas desigualdades internas.
Distante do fundamentalismo radical, o Brasil pode e deve
colocar-se para o mundo como o melhor e seguro destino turístico, por exemplo.
Segundo todas as análises, o sector terciário da economia (comércio e serviços)
será o grande gerador de emprego e renda neste Século XXI. E no sector
terciário, o turismo desponta como principal gerador de
riquezas. A indústria do turismo é ecologicamente correta, gera empregos em
todas as camadas – do arqui tecto ao
garçom – desloca a riqueza para regiões distantes dos grandes centros fixando o
homem em sua região, estimula a produção – desde alimentos a supérfluos –
gerando assim um círculo virtuoso e uma cadeia produtiva das mais ricas e
complexas. Um grande resort ou hotel emprega desde a manicure e o
jardineiro, até o especialista em tratamento de esgotos e o engenheiro de
manutenção. Da simples camareira ao sofisticado “chef” de cozinha não há no
setor do turismo ninguém dispensável, nenhuma função que não seja essencial.
E é importante ressaltar que o turismo do Século XXI é o turismo
ambiental, o eco-turismo, o turismo da natureza. Americanos, europeus,
japoneses – afinal o povo rico do mundo e que pode gastar com turismo – não
quer ver cidades grandes e pouco vem se interessando por museus e igrejas
velhas. Tudo isso eles já possuem. Querem sentir a natureza, andar nas trilhas
rústicas de uma montanha ensolarada. E nisso, mais uma vez, o Brasil é
imbatível.
Nenhum País do mundo tem Cataratas
do Iguaçu, Pantanal, Chapadas do Centro Oeste, Floresta Amazônica, 7.000 km de praias
ensolaradas. Tudo isso fora a
beleza natural de um Rio de Janeiro, das possibilidades do turismo rural no
interior de São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, etc. e
das oportunidades do turismo de negócios, eventos e gastronómico de uma cidade
como São Paulo.
Agora é a hora de enxergar a oportunidade na crise. Com dólares
nos bolsos, o turista estrangeiro tem no Brasil um destino dos mais baratos do
mundo e com qualidade similar a outros destinos “perigosos” pela intolerância e
pela guerra declarada que estamos vivendo.
Pense ser você um europeu. Imagine-se um
americano. Acredite ser um japonês. Para onde irá? Onde escolherá para passar suas
férias? Oriente Médio? Sudeste Asiático? Nova
York? Londres?Paris? Tóqui o? África
do Sul?
Não me
parecem destinos seguros. Talvez os únicos destinos que se comparem ao Brasil
hoje sejam a Austrália e a Nova Zelândia e estes são muito distantes da Europa
e dos EUA, com passagens aéreas caríssimas se comparadas ao Brasil. E como a
grande massa de turistas do primeiro mundo é composta por pessoas da chamada
“terceira idade”, mais ainda o custo da passagem, a segurança, o sol e o calor
da tolerância, fazem a diferença.
E o
turismo interno? Para onde iremos nós brasileiros?
Sem
dúvida o Brasil se apresenta como a melhor opção externa e interna. As
convenções e viagens de incentivo programadas para o exterior, serão feitas no
Brasil. A viagem comemorando aquelas bodas de prata não serão mais na Europa,
menos ainda nos EUA. Iremos para o nosso Bonito no Pantanal, Fortaleza, Manaus,
Foz do Iguaçu, Salvador, Maceió, Porto Seguro, Chapada Diamantina. Podemos
escolher. Temos beleza e natureza às mancheias.
E a
verdade, é que, embora, muitas vezes simples, o atendimento, a cortesia, a atenção,
a alegria e mais uma vez a tolerância do brasileiro faz com que o turista
sinta-se no Brasil como se estivesse num outro mundo – diferente, encantador,
privilegiado pela própria natureza.
Agora
é, pois, hora de autoridades, associações, sindicatos, agências, companhias de
aviação, hotéis, restaurantes, enfim, todos os agentes da indústria do turismo,
se unirem. Agora é a hora de vender o Brasil e o Brasil todo como um destino
global de qualidade. Assim, é preciso que façamos uma acção coordenada do Sul,
Sudeste, Centro Oeste, Norte, e Nordeste, governos federal, estaduais e
municipais, conselhos de turismo, etc., para
que o turista sinta-se num País só, com qualidade e segurança, já que preço
baixo, por certo ele já terá.
Agora é
a hora de motivar os brasileiros dentro e fora do turismo, mostrando a todos e
fazendo-os compreender as vantagens estratégicas competitivas do Brasil no
sector turístico. Para que passem a encarar com seriedade absoluta esse grande
gerador de emprego e renda, que poderá tornar-se a grande redenção da população
mais simples, do homem excluído, das regiões mais distantes que até hoje parece
que só Deus olhou. A oportunidade passa uma vez só ou poucas vezes. Se
soubermos agarrá-la venceremos. Se a perdermos continuaremos chorando a falta
de sorte; desunidos, continuaremos culpando-nos uns aos outros e continuaremos
deitados neste berço, realmente esplêndido, chamado Brasil.
NOTA - Por três vezes estive no Brasil. De uma delas passei uma semana em João Pessoa onde o meu falecido sobrinho tinha uma casa.
Uma das outras vezes, no final do ano de 1995, passei o fim de ano no Rio de Janeiro, na praia de Copacabana com mais de um milhão de cariocas que em quinze minutos "caíram" da marginal no areal em abraços e festejos. Um deles me abraçou como se fosse meu irmão! Foi surpreendente a sinceridade e espontaneidade do gesto...
Finalmente, uma excursão a várias cidades do Nordeste e aí, na minha qualidade de português, fiquei rendido à cidade da Baía que na parte antiga parecia a minha velha Lisboa. Quase me senti em casa...
Dos nordestinos, conheço-os bem através de Jorge Amado, o meu escritor de eleição, como já devem ter percebido... aqueles coronéis e os nossos morgados...
Dos brasileiros, aquilo que mais me apetece dizer é que nos contactos, é um povo de pessoas doces, alegres, dadas, com uma identidade muito própria e a grande vantagem de falarem a mesma língua que eu.
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