terça-feira, dezembro 24, 2013

A greve começou a tomar para o ex-boxeur um aspecto novo.
JUBIABÁ

Episódio Nº 197






Meia hora depois é lido entre palmas um manifesto. Os choferes de marinetis e autos de praça, os operários de duas fábricas de tecidos, os de uma fábrica de cigarros, se declararão em greve no dia seguinte se a questão dos padeiros e dos operários da Circular não for resolvida esta noite.

Pedro Corumba começa um discurso assim:

 - «Os operários unidos podem dominar o mundo» …

António Balduíno abraça um sujeito que nunca viu.


No palácio do governo, à meia-noite, os representantes da Circular e dos donos de padarias comunicam à comissão de grevistas que resolveram conceder o que eles pedem.

As novas tabelas vigoram do dia seguinte em diante. A greve está terminada com a vitória integral dos grevistas.

António Balduíno vai para casa de Jubiabá. Agora olha para o pai de santo de igual para igual. E lhe diz que descobriu o que os ABC ensinavam, que achou o caminho certo.

Os ricos tinham secado o olho da piedade. Mas eles podem na hora que quiserem secar o olho da ruindade. E Jubiabá, o feiticeiro, se inclina diante dele como se ele fosse Oxolufã, Oxalá velho, o maior dos santos.



HANS, O MARINHEIRO

António Balduíno aperta no bolso da calça os 120$00 que ganhou esta tarde jogando no jacaré. A noite se estende pouco a pouco sobre a cidade.

Há alguns dias as luzes não se acendiam. A greve paralisara tudo. Tudo, não. Porque – pensa António Balduíno – a sua vida é que estava paralisada. Com a greve ele enxergara outra estrada e voltara a lutar.

Passou-se mais de um mês. No entanto, ainda hoje, ele vai cantando baixinho um samba intitulado «A Vitória da Greve» que apareceu no dia seguinte ao triunfo dos operários.

António Balduíno vai cantando e se recordando dos acidentes daqueles dois dias:

                                 «Um sindicato
                                    De operários
                                    Se levantou em breve
                                    Para aumentar os seus salários
                                    Aderiu todas as classes
                                    Para reforçar
                                    E houve uma forte corrente
                                    Contra a Circular».


A letra é de Permínio Lírio. Canta-se com a música de «È de amargar». Foi vendido copiosamente na cidade, e, no dia seguinte ao do acabamento da greve, era só o que se cantava nas ruas onde os bondes novamente circulavam.

A greve fora novamente para o negro António Balduíno uma verdadeira revelação.


A princípio ele a amara como luta, como barulho e briga, coisas de que gostava desde criança. Porém, aos poucos, a greve começou a tomar para o ex – boxeur um aspecto novo.

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