Baía, cidade onde António Balduíno foi rei e senhor... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 200
(Último Episódio)
Um dia ele dará adeus e
agitará um lenço do tombadilho de um navio. A música do realejo chora uma
despedida. Mas ele não dará adeus como estes homens e mulheres da primeira
classe, que dão adeus para os amigos, para os pais e irmãos, para esposas
chorosas, para noivas tristes.
Ele dará adeus como aquele
marinheiro louro que está no fundo do navio e agita o boné para a cidade toda,
para as prostitutas do Taboão, para os operários que fizeram a greve, para os
malandros que estão na “Lanterna dos Afogados”, para as estrelas onde está
Zumbi dos Palmares, Para o céu claro e a lua amarela, para o velho italiano do
realejo, para António Balduíno também.
Ele dará adeus como
marinheiro. Adeus para todos, que ele fez a greve e aprendeu a amar a todos os
mulatos, todos os negros, todos os brancos, que na terra, no bojo dos navios
sobre o mar, são escravos que estão rebentando as cadeias.
E o negro António Balduíno
estende a mão calosa e grande e responde ao adeus de Hans, o marinheiro.
A B C DE ANTÓNIO BALDUÍNO
«Este é o A B C de
António Balduíno
Negro valente e brigão
Desordeiro sem pureza
Mas de bom coração.
Conqui stador
de natureza
Furtou mulata bonita
Brigou com muito patrão
…………………………….
……………………………..
Morreu de morte matada
Mas ferido à traição»
(Do ABC de António Balduíno)
O A B C de António Balduíno,
trazendo na capa vermelha um retrato do tempo em que o negro era jogador de
boxe, é vendido no cais, nos saveiros, nas feiras, no Mercado Modelo, nos botequi ns, pelo preço de duzentos réis, a camponeses
moços, marinheiros alvos, a jovens carregadores do cais do porto, a mulheres
que amam os camponeses e os marinheiros, e a negros tatuados, de largo sorriso,
que trazem ora uma âncora, ora um coração e um nome gravados no peito.
Pensão Laurentina (Conceição da Feira),
1934.
FIM DA HISTÓRIA
Para os que acompanharam a história do
Jubiabá e não estão familiarizados com as expressões brasileiras segue um
glossário com o significado de palavras caracteristicamente da cultura
tradicional brasileira:
Abacaxi – Espécie de ananás.
Abará – Pastéis de feijão com pimenta e
outros condimentos.
Acarajé – Pastéis de massa de feijão cozido
Agogô – Ferrinho que os negros percutem com
uma banqueta, durante as cerimónias de feitiçaria.
Auçá – Carne seca, cortada aos bocadinhos,
com molho de pimenta.
Baticum – Falatório, altercação.
Batuta – Bonita. Festa batuta, festa de
arromba.
Beiju – Espécie de filó feita de tapioca.
Bóia – Comida, refeição.
Bolinar – Acariciar, apalpar.
Bodoque – Funda de elástico.
Bonde – Carro eléctrico.
Bruaca – Mulher velha, marafona.
Caçuá – Seirão – Espécie de rede.
Cafuné – Estalido que se dá com as unhas,
na cabeça.
Camisu – Espécie de blusa ou camisa, sem
fralda.
Candomblé – Batuque, ligado à macumba.
Carona – grátis, entrada de favor, bpleia.
Cutuba – Excelente.
Dobrado – Marcha militar.
Esculhambação – Desarranjo, desordem,
pândega, desmoralização.
Frege – Tasca – conflito.
Fumo – Tabaco.
Jagunço – Valentão.
Lapo – Lenho, golpe.
Macumba – Rito espiritualista do negro
brasileiro, que participa do catolicismo, do feiticismo e da tradição tupi.
Massapé – Terra fértil.
Molecote – Moleque taludo.
Molecagem – Garotice, partida própria de
moleque.
Munguzá – Papas de ilhó inteiro.
Nagô – Nome genérico de várias tribos
africanas que deram maior contingente de escravos. A língua falada por elas.
Ogan – Autoridade honorária, no candomblé.
Orixá – Divindades negras.
Oxalá – O supremo Orixá, que se divide em
duas divindades: Oxaliã, o deus jovem e Oxolufã, o deus velho.
Oxossi – O deus da caça na mitologia
afro-brasileira.
Pai de Santo – Espécie de iluminado e
director religioso em quem descem as divindades no candomblé.
Pitar – Fumar.
Pongar – Pular
Porre – Bebedeira.
Porre Mãe – Bebedeira tremenda.
Remeleixo – Dança desenfreada.
Repetição – Arma automática, espingarda de
repetição.
Sarabá – Mulato ruivo.
Sopapo – Murros – Reboco de barro atirado à
mão.
Tapear – Enganar, iludir.
Tira – Agente da polícia.
Torcer – Manifestar-se a favor de alguém.
Torcedor – Partidário acérrimo.
Trem – Comboio
Turumbamba – Altercação, desordem.
Xingar – Insultar com palavras.
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