sábado, dezembro 28, 2013

Baía, cidade onde António Balduíno foi rei e senhor...
JUBIABÁ

Episódio Nº 200

(Último Episódio)


Um dia ele dará adeus e agitará um lenço do tombadilho de um navio. A música do realejo chora uma despedida. Mas ele não dará adeus como estes homens e mulheres da primeira classe, que dão adeus para os amigos, para os pais e irmãos, para esposas chorosas, para noivas tristes.

Ele dará adeus como aquele marinheiro louro que está no fundo do navio e agita o boné para a cidade toda, para as prostitutas do Taboão, para os operários que fizeram a greve, para os malandros que estão na “Lanterna dos Afogados”, para as estrelas onde está Zumbi dos Palmares, Para o céu claro e a lua amarela, para o velho italiano do realejo, para António Balduíno também.

Ele dará adeus como marinheiro. Adeus para todos, que ele fez a greve e aprendeu a amar a todos os mulatos, todos os negros, todos os brancos, que na terra, no bojo dos navios sobre o mar, são escravos que estão rebentando as cadeias.

E o negro António Balduíno estende a mão calosa e grande e responde ao adeus de Hans, o marinheiro.


A B C DE ANTÓNIO BALDUÍNO


«Este é o A B C de António Balduíno
Negro valente e brigão
Desordeiro sem pureza
Mas de bom coração.
Conquistador de natureza
Furtou mulata bonita
Brigou com muito patrão
…………………………….
……………………………..

Morreu de morte matada
Mas ferido à traição»

(Do ABC de António Balduíno)

O A B C de António Balduíno, trazendo na capa vermelha um retrato do tempo em que o negro era jogador de boxe, é vendido no cais, nos saveiros, nas feiras, no Mercado Modelo, nos botequins, pelo preço de duzentos réis, a camponeses moços, marinheiros alvos, a jovens carregadores do cais do porto, a mulheres que amam os camponeses e os marinheiros, e a negros tatuados, de largo sorriso, que trazem ora uma âncora, ora um coração e um nome gravados no peito.


Pensão Laurentina (Conceição da Feira), 1934.


FIM DA HISTÓRIA


Para os que acompanharam a história do Jubiabá e não estão familiarizados com as expressões brasileiras segue um glossário com o significado de palavras caracteristicamente da cultura tradicional brasileira:

 Abacaxi – Espécie de ananás.

Abará – Pastéis de feijão com pimenta e outros condimentos.

Acarajé – Pastéis de massa de feijão cozido

Agogô – Ferrinho que os negros percutem com uma banqueta, durante as cerimónias de feitiçaria.

Auçá – Carne seca, cortada aos bocadinhos, com molho de pimenta.

Baticum – Falatório, altercação.

Batuta – Bonita. Festa batuta, festa de arromba.

Beiju – Espécie de filó feita de tapioca.

Bóia – Comida, refeição.

Bolinar – Acariciar, apalpar.

Bodoque – Funda de elástico.

Bonde – Carro eléctrico.

Bruaca – Mulher velha, marafona.

Caçuá – Seirão – Espécie de rede.

Cafuné – Estalido que se dá com as unhas, na cabeça.

Camisu – Espécie de blusa ou camisa, sem fralda.

Candomblé – Batuque, ligado à macumba.

Carona – grátis, entrada de favor, bpleia.

Cutuba – Excelente.

Dobrado – Marcha militar.

Esculhambação – Desarranjo, desordem, pândega, desmoralização.

Frege – Tasca – conflito.

Fumo – Tabaco.

Jagunço – Valentão.

Lapo – Lenho, golpe.

Macumba – Rito espiritualista do negro brasileiro, que participa do catolicismo, do feiticismo e da tradição tupi.

Massapé – Terra fértil.

Molecote – Moleque taludo.

Molecagem – Garotice, partida própria de moleque.

Munguzá – Papas de ilhó inteiro.

Nagô – Nome genérico de várias tribos africanas que deram maior contingente de escravos. A língua falada por elas.

Ogan – Autoridade honorária, no candomblé.

Orixá – Divindades negras.

Oxalá – O supremo Orixá, que se divide em duas divindades: Oxaliã, o deus jovem e Oxolufã, o deus velho.

Oxossi – O deus da caça na mitologia afro-brasileira.

Pai de Santo – Espécie de iluminado e director religioso em quem descem as divindades no candomblé.

Pitar – Fumar.

Pongar – Pular

Porre – Bebedeira.

Porre Mãe – Bebedeira tremenda.

Remeleixo – Dança desenfreada.

Repetição – Arma automática, espingarda de repetição.

Sarabá – Mulato ruivo.

Sopapo – Murros – Reboco de barro atirado à mão.

Tapear – Enganar, iludir.

Tira – Agente da polícia.

Torcer – Manifestar-se a favor de alguém.

Torcedor – Partidário acérrimo.

Trem – Comboio

Turumbamba – Altercação, desordem.

Xingar – Insultar com palavras.

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