DOMINGO
(22 de Dezembro de 2013 na minha cidade de Santarém)
Foi o facto político mais importante dos
tempos recentes no meu país esta decisão tomada pelo Tribunal Constitucional e
comunicada rente á noite na última 5ª Feira da semana que agora termina: o
chumbo da proposta do governo de cortar 10% nas pensões dos reformados da Caixa
Geral de Aposentações.
Na qualidade de pensionista sou
directamente beneficiado mas na situação em que nos encontramos
financeiramente, com os compromissos que assumimos com a troyka, outras
medidas, sejam elas quais forem, irão resultar em idênticas perdas de
rendimento para mim e para os meus colegas reformados da Caixa Geral de
Aposentações.
O próprio Tribunal Constitucional, que lá
no fundo sabe que não consegue inventar dinheiro, não fecha as portas a uma
diminuição retroactiva das pensões dos reformados, não obstante toda a
fundamentação doutrinária da quebra do contrato de confiança entre os cidadãos
e o Estado.
Exige, no entanto, que esses cortes
sejam integrados em medidas mais amplas de reestruturação de todo o sistema de
segurança social, pública e privada.
Os nossos credores apressaram-se logo a
dizer que para eles nada mudou. O problema é do governo que tem de se entender
melhor com o Tribunal Constitucional de forma a que os objectivos sejam
atingidos de acordo com o que estava assumido.
Lembrem-se do que disse Einstein a
propósito da crise: “não há saídas fáceis”… e os portugueses vão continuar a
provar do veneno do reajustamento que nos foi imposto como uma fatalidade a que
não podem fugir…até emergir qualquer coisa de novo e de melhor não sabemos quando.
O actual governo defende a uniformidade
dos dois sistemas contributivos, público e privado e este corte de 10% era para
fazer essa aproximação, baixando as pensões dos funcionários públicos para os
aproximar dos privados mas, na verdade, era para arranjar
dinheiro rápido porque essa aproximação, relativamente à qual não há desacordo,
já se vem fazendo há anos de uma forma progressiva e vai continuar a fazer-se.
Mas a média do valor das pensões dos
funcionários Públicos terá que ser sempre superior às do sector Privado porque
não é este que paga as reformas dos generais, dos políticos, dos juízes, dos
diplomatas, médicos, quadros superiores do Estado, etc...
Simplesmente, os nossos credores não nos
dão tempo. Eles exigem o nosso sacrifício, já, mesmo que isso seja estúpido,
mesmo que não ajude a nossa economia, mesmo que dificulte a nossa capacidade para
lhes pagar…
Os ditos “mercados” não pensam de
forma inteligente e muito menos humana. No máximo, tentarão manter-nos vivos
para sugarem, não só o que lhes devemos, o que era aceitável, mas todos aqueles
juros de agiotas que contraímos com a corda no pescoço...
Não sei se sairemos “vivos” de tudo isto
porque não vejo que as forças políticas tenham competência e valor para dar o
exemplo e unir os cidadãos nas medidas que são necessárias tomar.
O que acabou de acontecer com a decisão
do Tribunal Constitucional é o exemplo e a comprovação da minha enorme
desconfiança.
Há uma mensagem para o governo por
detrás da tomada da decisão: - … “nós aprovaremos o que for preciso mas façam
as coisas como deve ser. Os cortes têm que obedecer a uma estratégia, a um
plano integrado de reforma do Estado e em vez disso, os senhores tomam medidas
pontuais, levam tudo a eito como se um corte de 10% para todas as pensões acima
de 600 ou 1.300 euros fosse justo, equi tativo
e proporcional”…
E porquê só para as pensões dos
funcionários públicos? Se estamos perante uma emergência de carácter nacional
por que não todos os cidadãos, especialmente os mais poderosos?
A decisão do Tribunal Constitucional
baseada num princípio tão elementar como o da quebra do contrato de confiança que
deve existir entre todos os Estados civilizados e respectivos cidadãos - como
seja o de se atribuir hoje uma pensão a um servidor que trabalhou e descontou
ao longo de 40 anos, por um determinado valor, publicada até em Diário de Governo
e, não sei quantos anos mais tarde, no meu caso teriam sido 13, vir dizer-lhes
que afinal não é como então lhe dissemos mas sim como agora lhe vamos dizer parece ser uma paródia de mau gosto, com a agravante de que aberto o
precedente, amanhã não possam dizer outra coisa ainda e, nestas condições, a
vida destes cidadãos fica como que a “flutuar” ao sabor de caprichos da
situação do país na última fase da sua vida quando já nada podem fazer - .
O
que havia, então, o Tribunal de decidir senão o que decidiu se a proposta do governo era
a da mais elementar quebra de confiança traduzida no velho ditado popular de
que “quem dá e tira vai parar ao inferno”?
O
que se estranha, e é sintomático do estado de desânimo e pessimismo em que
todos nos encontramos, reside no facto de ter sido possível chegarmos até aqui com a dúvida instalada no nosso espírito sobre
qual seria a decisão do Tribunal Constitucional.
Treze (13) juízes, a totalidade, não
tiveram dúvidas: esta proposta quebra a confiança que deve existir entre
cidadãos e Estado e antes de decidirem até se aconselharam na magna Alemanha
onde uma reforma, uma vez atribuída, é como uma propriedade privada que não
pode ser retalhada e o próprio Tribunal Europeu dos Direitos do Homem segue a
mesma linha.
No entanto, no dia anterior, a dúvida
pairava em todos os analistas tendo um deles falado mesmo numa tripla como
prognóstico.
Este grau de dúvida e de incerteza de
cidadãos e comentadores sobre uma decisão tomada, afinal, por unanimidade dos
Juízes, faz-me pensar que a sociedade portuguesa já está por tudo… afundada
numa espiral de abismo, tendo sido preciso virem 13 senhores, que até nem
necessitavam de ser juízes, dizer o que estava à vista como na história do “rei
vai nu”.
As dúvidas do Presidente da República
eram de outra natureza, “imposto encapotado”, pelo que, para ele, também não
havia quebra de confiança…
Nem para ele nem para todos os autores
dos estudos de que o governo fez acompanhar a proposta para que ela passasse no
Tribunal, o que permite concluir que os estudos servem para provar tudo desde
que haja alguém que os pague…
O facto de voluntariamente o governo se
ter colocado na situação de incumpridor assumido e repetido da Constituição, -já
vai no 9º chumbo - significa que a sua rota política é outra não obstante as
justificações que têm a ver com as dificuldades de natureza financeira que são,
infelizmente verdadeiras.
A troyka, os credores e a Europa não
querem saber de direitos, de quebras de confiança, de tribunais constitucionais
e o governo vai a direito, à bruta, sem imaginação, sem respeito, sem diálogo, sem
plano nem estratégia, forte com os fracos, fraco com os fortes, hostilizando…
enfim, nesta fase difícil das nossas vidas não era desta “gente” que precisávamos…
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