DOMINGO
(Na minha cidade de Santarém 29/12/2013)
ANO DE 2014
De partida está o ano de 2013. Vai sem deixar saudades, sem um olhar terno de despedida, com um adeus furtivo, com alívio…
De bom, apenas o facto de que acabou. De
mau, é que tudo vai continuar em Portugal e no mundo como no ano anterior, uma
incógnita, uma ameaça…
Cá dentro, há uma nova economia
(calçado, têxteis, vestuário, design, produtos fruto - hortícolas) que contra
ventos e marés parece ressuscitar para uma vida nova, competitiva, desafiadora,
difícil de pensar há uma dúzia de anos atrás pondo em evidência as qualidades
de muitos portugueses… uma boa ajuda mas insuficiente. Mas nada de
verdadeiramente bom se consegue de um dia para o outro.
Lá fora, na Europa, a Alemanha fecha-se,
egoísticamente, nos seus interesses de curto prazo, indiferente aos destinos
dos países do Sul que com ela formam uma Comunidade, cuja situação presente ela
influenciou e cujas populações, no desespero de uma gravíssima crise onde
avulta o desemprego, se agitam e manifestam cada vez mais ameaçando a estabilidade
social e a democracia.
A preocupação com a recuperação dos Deficits Orçamentais, correcta em si
mesmo, virou obsessão com uma austeridade que confunde disciplina das contas
com um cego “apertar de cinto”.
Na realidade, o que parece, é um doente,
em alguns casos moribundo, a contas com aves de rapina, os chamados “mercados”, do mundo financeiro que pensa, isto, se pensasse, que tudo vai acabar
amanhã e por isso é indiferente o que fizerem hoje…
Ainda na Europa, a Ucrânia, vacila e
hesita entre o regresso aos braços de Putin e os da Srª Merkel, sendo certo que se de um
lado chove do outro faz vento. Da Europa sopra a liberdade, a democracia, os direitos humanos, o primado da Lei, da
Rússia, gás mais barato e dinheiro para comprar dívida… já derrubaram uma estátua
porque não se pode viver em liberdade hoje a olhar para os ditadores de ontem…
Lá fora, no mundo, pasmamos com o que
aconteceu com as primaveras árabes, especialmente na Síria onde a situação é
pior do que tudo aqui lo que de pior
se poderia ter pensado três anos atrás… pedra sobre pedra.
Na raiz, o “pecado original” da ruptura
entre sunitas e xiitas, simples questão de direitos de herança hoje agravado
pela diferença entre fundamentalistas e não fundamentalistas, os primeiros
tendo como braço armado a alkaeda… Nada confere mais volúpia como matar e morrer
gritando por um Deus… para mal do povo Islão e de todos os povos.
Como era esperado, morreu Mandela,
espécie de estrela de raro brilho que iluminou a África e o mundo. Quando
voltaremos a ter um igual?
De bom, a mensagem do Papa Francisco que
não só rompe com comportamentos enraizados de luxo, riqueza, requi ntes, privilégios a fazer lembrar um “elefante em
loja de cristais”a partir a loiça toda...
Especialmente importante a sua exortação
“Evangelii Gaudium”, na qual fala e apela a mudanças a sério na sociedade
contemporânea denunciando com toda a frontalidade as injustiças de um
capitalismo desenfreado e desgovernado.
Infelizmente, não me parece que vá
importunar muito os senhores que comandam o sistema que gere o mundo, mas o
exemplo e a palavra deste Papa Franciscano é uma autêntica pedrada no charco no
seio da Igreja Católica do Vaticano.
Anda tudo ao contrário: quando os Papas
tinham poder efectivo aliaram-se aos senhores que lhes conferiram prestígio e
riqueza. Quando, pela primeira vez, aparece um que se alia aos pobres, prega a
justiça e denuncia as enormidades do poder, é ele que não tem poder nenhum…
Que mais nos resta que não sejam os
votos do costume:
Um Feliz e Próspero Ano Novo
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