1 de Dezembro de 2013
Na minha cidade de Santarém
Na qualidade de reformado do Estado sou insuspeito.
Ainda no passado Domingo vos disse que o subsídio de Natal que o Tribunal
Constitucional obrigou o governo a pagar-me desapareceu praticamente todo no
acto do pagamento em taxas, descontos, impostos… cortes, em suma.
Julgo ser um cidadão honesto, fui funcionário público
por vocação e sendo uma pessoa poupada nunca me preocupei muito com o que me
pagavam… uma vez que me pagavam.
Subi na
carreira e reformei-me na categoria mais alta com uma pensão que era quatro
vezes maior do que ganhava uns qui nze
anos antes de me reformar beneficiando também das promoções em concursos que os
Serviços me proporcionaram.
Trabalhei para um Instituto Público, o do Emprego, que
tinha alguma autonomia financeira com liberdade para melhorar a situação dos
seus funcionários a quem atribuía determinadas funções internas (de Coordenação) que, no
fundo, correspondia ao que deveria ser prémios de competência de trabalho... mas
que nem sempre o eram.
Lembro-me, que quando arrumei a secretária pela última
vez, vivia já horrorizado com o “assalto” que a Administração Pública tinha
sofrido por gentes dos partidos que, em boa verdade, tinha começado muitos anos
antes. Que me desse conta, na segunda maioria de Cavaco Silva, princípios da
década de 90, num processo gradual e crescente até a terem transformado quase
numa qui nta.
Vim embora triste por deixar de trabalhar, satisfeito
por largar em definitivo o que estava transformado num ninho de grupinhos,
intrigas, suspeitas, invejas e medos.
O montante da reforma, se por um lado me assegurava um
resto de vida completamente desafogado, vinha, no entanto ensombrado por uma
sensação esqui sita e indefinida de
que ela era boa demais… mas então, no ano 2000, a relação de
confiança com o Estado ainda não se tinha rompido.
As pessoas são assim, quando as coisas correm bem, não
são levadas a pensar muito… para isso estão lá os políticos que têm toda a
informação, sabem o que nós não sabemos e, presume-se, serem inteligentes, os
mais inteligentes…
Contudo, de quando em vez, entram em desvario,
especialmente por altura das eleições, fazendo promessas que mais parecem
anúncios publicitários e não fossem os “descontos” que os cidadãos lhes dão
nessas fases em que as “promessas cor de rosa” sempre se repetem, bem podiam
ser acusados de desvario mental ou simplesmente do uso abusivo e criminoso da
boa fé dos outros.
José Sócrates, antes das eleições que ganhou em 2009,
aumentou-me quase 3% e eu fiquei apreensivo… No outro dia fui fazer um
mealheiro numa Companhia de Seguros… aquela gente se não era louca pelo menos
de confiança não era…
Nos últimos anos, já na inactividade, sempre que me
enviavam o recibo da reforma olhava para aqueles números e perguntava a mim
próprio, cada vez com mais apreensão: até quando... até quando?...
A principal função do Estado, para além de assegurar o
seu funcionamento, é proceder à redistribuição da riqueza: recolhe os impostos
e redistribui-os em benefícios pela população sob as mais variadas formas. Salazar não distribuía nada, tinha um país miserável e de analfabetos e os Orçamentos do Estado sempre equilibrados...
O caso das pensões é diferente porque os trabalhadores
(empregados) e o Estado (patrão) descontaram ao longo dos anos para poderem
receber a sua reforma mais tarde, mas o problema são os cálculos e os
pressupostos sobre os quais se baseiam e os portugueses sabem, por experiência
própria, do espírito optimista e megalómano dos nossos responsáveis e da sua
vocação para falharem cálculos.
E sabem,
também, que eles são maus administradores do dinheiro alheio e se fossemos pesqui sar a “vida” dos fundos resultantes desses
descontos ao longo dos anos provavelmente iríamos ter muito que contar…
As Caixas de
Previdência, algumas sectoriais, que existiam antes do 25 de Abril de 1974
foram nacionalizadas e o estado recebeu sem quaisquer custos esses fundos que
provinham directamente das contribuições dos trabalhadores e patrões e que eram
então depositadas obrigatoriamente na Caixa Geral de Depósitos, Banco do
Estado, mas que só as devolviam 4, 5 e 6 meses depois sem pagarem quaisquer
juros… e podíamos continuar.
Os verdadeiros proprietários desses dinheiros são os
trabalhadores e as entidades patronais sendo o governo um mero gestor de um
dinheiro que nunca foi seu e, portanto, não pode dispor dele a seu belo prazer.
A sua obrigação é protegê-lo criando emprego e
aumentando os salários pelo efeito que têm automaticamente no aumento das
contribuições e não esqueçamos que no acto da entrega dessas pensões é logo
deduzido o IRS pelo que o valor líqui do
efectivamente pago é bem menor do que aquele que se diz.
A nossa adesão à Comunidade Europeia trouxe regras
novas e importantes, moeda nova e o país abriu-se… todos percebemos essas novas
implicações e sentimos que finalmente íamos tirar a barriga de misérias…
Mas, afinal, o que sempre esteve em causa, o que era
mesmo importante, não era o dinheiro que entrava vindo da Comunidade, as obras
que se mandavam fazer, etc… era a riqueza que efectivamente produzíamos e essa
chegava cada vez menos para as despesas que o Estado fazia.
Vivíamos cada vez mais a credito, os governos
distribuíam riqueza que não tinha, pagava com dinheiro que pedia emprestado.
Mas não é isso que muitos países fazem?
– É, dentro dos
limites do endividamento de cada um, limites esses que são definidos pela taxa
de juros que os credores estão dispostos a emprestar.
Mas não só. Da
parte de quem pede emprestado é também um jogo entre o presente e o futuro,
entre a geração que hoje toma decisões e as futuras, as dos filhos e dos netos.
Entre uma que contrai dívidas e as outras que se lhe seguem e as hão-de pagar.
Para alegria minha, depois de falências de empresas de
calçado em série, há uns anos atrás, somos hoje o maior produtor de sapatos da
Europa, a seguir à Itália, competindo na qualidade e nos preços altos… é o que
se pode dizer:
-Reivindicar
menos, pedir menos e trabalhar mais e melhor, com empresários corajosos. A taxa
de cobertura do PIB pelas exportações, que em 2008 era de 28%, irá ultrapassar
os 40% no final deste ano. É uma boa reacção da economia num contexto europeu
desfavorável e com uma moeda muito forte como o euro que não ajuda nas vendas…
No entanto, dizia o nosso ministro Álvaro, especialista nestas coisas, que essa
percentagem deveria ser de 70 ou 80%.
Não nos falta exemplos de qualidade: temos um português
à frente de um dos maiores Bancos da Europa, em Inglaterra; outro assumindo a
liderança de uma das maiores fábricas de automóveis de França; a nossa fábrica
de automóveis, a Autoeuropa, empresa do grupo Volkswagen, em Setúbal, instalada
em 1991, é um exemplo de sucesso e de elogios dos próprios alemães… temos o
melhor jogador de futebol do mundo, Cristiano Ronaldo, que para além disso, com
a sua marca do R7 vende de tudo em qualquer parte do mundo, mas… infelizmente, não temos um
escole de políticos que se apresente aos portugueses e lhes ofereça um crédito
de competência e de responsabilidade, o que nos leva, inevitavelmente, aos
partidos que temos…
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