terça-feira, dezembro 31, 2013

OS VELHOS 

MARINHEIROS




Este é o próximo livro que vamos transcrever aqui, no Memórias Futuras, episódio a episódio, depois que o foram a “Gabriela, Cravo e Canela”, “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, “Teresa Baptista Cansada da Guerra” “Tieta do Agreste” “O País do Carnaval” e finalmente, “Jubiabá”.

É uma homenagem que presto a Jorge Amado, para mim, o melhor contador de histórias da língua portuguesa. Eu chamo-lhe histórias mas é mais uma realidade ficcionada pois quase tudo é arrancado à vida real brasileira, especialmente do nordeste, da Baía, cujos personagens nós conhecemos com outros nomes, em outros sítios…

No caso de Jorge Amado, são brasileiros, muitos deles eu também os conheci em Portugal mas eles estão aí, por todo o mundo: homens e mulheres, amores e desamores, ciúmes, traições, crimes e tudo aquilo que constitui a vida rica e complexa dos homens e mulheres em sociedade.

Vejamos, porém, o que sobre este livro sagaz, humaníssimo e rico de perspectivas nos diz outro grande brasileiro, poeta, e intérprete do povo, Vinícius de Morais:

 - «Eu acho francamente belo o crescimento de um escritor como Jorge amado, que vem de um livro cheio de defeitos como “O País do Carnaval” até essa obra – prima que é “A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua”.

Um crescimento verdadeiro como a vida, que vem debaixo para cima e sem se recusar às torpitudes; não um crescimento decorativo de araucária, mas de árvore que dá fronde e que dá frutos de polpa, que dá parasitas e dá passarinhos: uma gorda e resinosa mangueira.

Saí da leitura dessa extraordinária novela, eu, que andava no maior fastio de literatura, com a mesma sensação que tive, e que nunca mais se repetiu, ao ler os grandes romances e novelistas dos mestres russos do século XIX, Pushkin, Dostoievski, Tolstoi, Gogol especialmente.

Uma sensação de bem – estar físico e espiritual como só dão os prazeres do copo e da mesa quando se está com sede ou fome, (…).

Ela representa, dentro da novelística brasileira, onde já há cimos consideráveis, um cume máximo.»

Esperemos que os meus amigos, visitantes do Memórias Futuras, sintam ao longo da história uma sensação idêntica à de Vinícius de Morais.

“Os "Velhos Marinheiros" é um livro picaresco, fundamentalmente irónico e subtilmente satírico que ocupa um lugar absolutamente de destaque, pois é nele que o escritor baiano mais revela algumas das suas excelentes qualidades de grande criador de personagens arquetípicas do fresco latino – americano dos nossos dias.

Quincas Berro Dágua é uma das figuras de grande recorte da literatura contemporânea, personagem de romanceiro e da vida real, ilusão satírica e modelo de humanidade”.


Jorge Amado dedica a Zélia, sua esposa de sempre, “com a sua marinheiraria e sua cana de pesca”.

E ainda:

 - À memória de Carlos Pena Filho, mestre da poesia e da vida, Berrito Dágua na mesa do bar, comandante de fina palidez na mesa de pocker, hoje navegando em mar ignoto com suas asas de anjo, estas histórias que eu lhe prometi contar.

A narrativa de Os Velhos Marinheiros foi concluída no Rio de Janeiro no início de 1961. Originalmente, o texto foi publicado no volume Os Velhos Marinheiros, que tinha o romance “Os velhos Marinheiros” ou “O Capitão de Longo Curso” junto com a novela “A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua.
Jorge Amado vivia então uma fase de intensa produção literária e grande reconhecimento. Depois de se distanciar do Partido Comunista, em meados da década de 1950, publicou Gabriela, Cravo e Canela, livro que marca uma viragem na sua obra.
Em 1961, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. No mesmo ano, A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua era publicada em francês na revista “Temps Modernes”.

O autor recebeu então homenagens na Bahia e no Rio de Janeiro pelos trinta anos de sua estreia literária, ocorrida com a publicação do romance “O País do Carnaval”.

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