DOMINGO
(2 de Fevereiro de 2014 na Minha cidade de Santarém)
No Hoje é Domingo deste fim-de-semana, vou abordar pela
última vez, em jeito de conclusão, o assunto das praxes académicas que
estiveram na origem da morte dos seis jovens na praia quando já tudo foi dito e
mostrado especialmente pela TVI que tomou a peito as averiguações.
Ficam “apenas” os pormenores das
circunstâncias das mortes que dependem da versão do sobrevivente, o “Dux
Veteranorum” que chefiava a reunião naquele fim-de-semana, ou do que mais se
vier a apurar através de outros testemunhos.
De qualquer maneira, apure-se o que se
apurar, as praxes foram julgadas e condenadas na opinião pública que
desconhecia a sua dimensão e complexidade.
Qualquer pai ou mãe, neste momento,
quando matricular um filho na Faculdade, vai sentir naturais e justificados
receios sem que possa fazer seja o que for para diminuir o perigo.
As praxes académicas estão em “roda
livre”, ninguém tem controle sobre elas. Entrevistaram-se dez dirigentes da
comissão de praxes da Universidade Lusófona e a conclusão é arrepiante: no universo
mental dos jovens daquela comunidade tudo é normal e ético para eles.
Reparem:
-
É normal as praxes funcionarem o ano inteiro apesar de elas serem apenas de
recepção ao caloiro;
-
É normal um regulamento com quase tantos artigos quantos os da Constituição da República;
- É normal prever um “tribunal” que
funciona à luz da vela;
- É normal assinar “termos de
responsabilidade” sobre actividades que, fora do seu universo mental, são
paranormais;
-
É normal tudo isto suplantar as obrigações escolares;
-
É normal esta comissão de praxes suplantar a Associação Académica;
-
É normal a comissão decidir fazer fins-de-semana na praia em pleno inverno,
para a preparação psicológica dos chefes.
No fim desta entrevista percebeu-se que
aqueles jovens já não vêm o mundo pelo lado de fora do universo mental da
comunidade à qual dedicam um amor semelhante ao de membro de uma seita.
A
segurança física e a estabilidade emocional dos jovens estudantes que entram
para a Faculdade vai depender dos membros desta seita que os vai convencer que
a submissão e a passividade perante as praxes é a forma correcta de se
integrarem na Universidade.
A aceitação voluntária da submissão
impossibilita uma proibição legal das praxes. Se o praxante e o praxado estão
de acordo, se todos acreditam que a prática de actos de violência constituem o
meio correcto para se entrar em qualquer outro mundo novo, como proibi-lo?
Um “dux vetaranorum, já depois de ter
saído da vida académica, terminados os estudos, dizia:
-
“Na minha qualidade de dux veteranorum era mais respeitado e temido que o
próprio Director da Faculdade, todos os privilégios me eram devidos.”
Aqui
temos um testemunho que vai ao âmago da questão:uma inversão dos valores em que a sociedade deve assentar.
Em lugar do mérito de ser bom aluno,
mais trabalhador, mais solidário, mais camarada, um estudante impõe-se aos
outros pelo medo, pelo poder que tem e lhe permite exercer sobre eles, de maneira
impune e autorizada, um qualquer acto de humilhação engendrado por mentes
sádicas.
Se isto não é o tirocínio para uma
sociedade de ditadores, então o que é?
As autoridades académicas têm que se
assumir, tomar nas suas mãos a responsabilidade do que se passa com os seus
alunos começando por garantir que todos os jovens tenham o direito de recusar
ser praxados sem nenhum tipo de consequências.
Em vez disso, numa outra entrevista, o
Director da Lusófona, mostrou-se alheado do que possa acontecer nas praxes,
insensível ás actividades paranormais dos seus estudantes comparando as mortes
dos seis alunos na praia do Meco às vítimas do trânsito nas estradas… uma
fatalidade inevitável, um azar.
É preciso desmistificar estas práticas, mostrar
à evidência que elas são indignas e imbecis e aceitar a submissão não é lição
de vida para ninguém.
A personalidade dos jovens forma-se
através do respeito, da lealdade, da camaradagem e é tão fácil perceber isto
que nem sequer se torna necessário apelar à inteligência, basta o bom senso e
os valores em que todos fomos criados.
Alguém se pode sentir mais homem ou
mulher por ser insultado, humilhado, agredido, violentado? Onde está a virtude?...
Perguntem isto, olhos nos olhos, a qualquer estudante.
E, já agora, não apelem à tradição para
justificar as praxes mas antes às “taradições”…
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