Santarém - Largo do Seminário |
HOJE É
DOMINGO
(Na minha cidade de Santarém em 16/2/14)
Fala-se agora muito de corrupção ou, pelo menos, fala-se dela como “coisa” qualitativamente mais grave, especialmente nestes tempos em que depois de anos de prosperidade, que se percebe agora que era falsa, porque episódica, sem sustentação, o Governo para e
Em momentos como este e como é natural, as pessoas ficam mais
sensíveis, mais irritáveis, mais alertas porque quando está bem para todos
sempre se assobia mais para o lado.
Mas esta “coisa” da corrupção é uma realidade de sempre e tem a ver com
o poder e os amigos poderosos, detentores de cargos que distribuem favores a
troco de qualquer coisa... É a corrupção primária, simples, directa, conhecida em todas as sociedades, numas mais do que noutras.
Para me situar apenas no meu tempo de vida recordo que o Salazar
justificava os ordenados miseráveis que pagava aos seus funcionários alegando
que eles sempre recebiam uns cabazes de chouriços a troco de favores que
faziam.
No tempo da ditadura, é claro, isto só era possível porque autorizado
através do processo de fechar os olhos... afinal o povo sempre foi agradecido.
Era um mal menor se é que era mal.
As pessoas pediam “jeitinhos” e pagavam com “chouriços”. Eram esquemas
de sobrevivência tradicionais na sociedade portuguesa perante um Estado Social
inexistente de um país pobre, analfabeto e beato.
Depois veio a democracia, a liberdade, o poder para o povo e
momentaneamente deixou de se falar em corrupção a favor do discurso dos ideais
políticos, do socialismo, das grandes conqui stas da revolução que iriam fazer felizes os homens pela satisfação das necessidades básicas da
educação, saúde, trabalho e habitação.
A democracia instalou-se e com ela os partidos que progressivamente se tornaram, eles
próprios, máqui nas de poder com as suas clientelas que lhes asseguravam votos. Muitos enriqueceram com dinheiro que
entrava a rôdos dos Apoios Comunitários e eram distribuídos nos circuitos destinados
à Formação Profissional, Agricultura e
outros sectores com os inevitáveis
cheques, ou dinheiro vivo que passava por debaixo da mesa sem deixar rasto.
Quando há muito dinheiro é assim... chega para todos.
Agora, que já não dinheiro, esse tipo de corrupção desapareceu ou
quase. A corrupção tornou-se uma coisa muito mais sofisticada.
Há uma semanas atrás o Presidente do TIAC (Associação de Transparência
e Integridade Cívica) veio à televisão, no programa Negócios da Semana,
explicar qual a doença terminal que fulmina Portugal. Não há esperança, não há
hipóteses, não há futuro, inevitável conclusão...
As"luvas" e os favores não são a pior chaga nem a mais
dispendiosa forma de corrupção. O problema agora está na nova classe política,
uma mistura de políticos e homens de negócios que tomaram para si o poder
legislativo, o poder regulador, fiscalizador e o de decisão... em suma, têm
todo o poder, liberdade e impunidade para pôr e dispor do dinheiro público, do
poder público, da economia, do país e dos cidadãos.
Esta corrupção, por
incrível que pareça, permite legalizar o saque porque o tornam legal, moldando as leis e
capturando a justiça. Ainda ontem, vi na televisão, todos os acusados no caso dos submarinos comprados pelo Paulo Portas, saíram
absolvidos do tribunal.
Ou seja, o saqueador está protegido das vítimas o que, por outras
palavras, significa que é possível fazer falir um país sem que ninguém seja
responsabilizado. Portugal foi conqui stado
por um punhado de corruptos sem escrúpulos, um gang de políticos e seus amigos
que fazem D. Afonso Henriques dar voltas na tumba.
Vejam lá onde já ficaram os “chouriços”...
Luís de Sousa, presidente da TIAC, chama a atenção
para o facto de nos últimos tempos as mais altas figuras políticas do país
terem sido vaiadas e apupadas por todo o território nacional e além-fronteiras.
Os portugueses estão indignados pela forma como o país tem sido governado e não
poupam adjectivos para qualificar os responsáveis políticos. Mas não passa
disso.
As Parcerias
Público-Privadas (PPP) têm sido em Portugal uma das fontes mais opacas e problemáticas
de despesa pública. Todos os anos, o Estado português gasta milhões de euros do
nosso dinheiro em pagamentos a grupos económicos privados a quem concessionou
serviços públicos e, segundo acusa Manuela Ferreira Leite, parecem vir aí mais
a caminho...
Como havemos de olhar
para o nosso futuro?...
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