quinta-feira, fevereiro 06, 2014

Tá num porre mãe,  esclareceu  Pé de Vento
A MORTE
E A MORTE
DE QUINCAS
BERRO
DÁGUA

Episódio Nº 31





Enquanto atravessavam a ladeira de São Miguel, a caminho do castelo, iam sendo alvo de manifestações variadas. No Flor de São Miguel, o alemão Hansen lhes ofereceu uma rodada de pinga.

Mais adiante, o francês Verger distribuiu amuletos africanos às mulheres. Não podia ficar com eles porque tinha ainda uma obrigação de santo a cumprir naquela noite. As portas dos castelos voltavam a abrir-se, as mulheres surgiam nas janelas e nas calçadas.

 Por onde passavam, ouviam-se gritos chamando Quincas, vivando-lhe o nome. Ele agradecia com a cabeça, como um rei de volta a seu reino. Em casa de Quitéria, tudo era luto e tristeza.

Em seu quarto de dormir, sobre a cómoda, ao lado de uma estampa de Senhor do Bonfim e da figura em barro do Caboclo Aroeira, seu guia, resplandecia um retrato de Quincas recortado de um jornal – de uma série de reportagens de Giovanni Guimarães sobre os "subterrâneos da vida baiana" – entre duas velas acesas, com uma rosa vermelha em baixo.

Já Doralice, companheira de casa, abrira uma garrafa e servia em cálices azuis. Quitéria apagou as velas, Quincas reclinou-se na cama, os demais saíram para a sala de jantar. Não tardou e Quitéria estava com eles:

– O desgraçado dormiu...

– Tá num porre mãe... – esclareceu Pé-de-Vento.

– Deixa ele dormir um pouquinho – aconselhou Negro Pastinha. – Hoje ele tá impossível. Também, tem direito...

Mas já estavam atrasados para a peixada de Mestre Manuel e o jeito, daí a pouco, foi despertar Quincas. Quitéria, a negra Carmela e a gorda Margarida iriam com eles.

Doralice não aceitou o convite, acabara de receber um recado do doutor Carmino, viria naquela noite. E o doutor Carmino, eles compreendiam, pagava por mês, era uma garantia. Não podia ofendê-lo.

Desceram a ladeira, agora iam apressados, Quincas quase corria, tropeçava nas pedras, arrastando Quitéria e Negro Pastinha, com os quais se abraçara. Esperavam chegar ainda a tempo de encontrar o saveiro na rampa.

Pararam, no entanto, no meio do caminho, no bar de Cazuza, um velho amigo. Bar mal frequentado aquele, não havia noite em que não saísse alteração.

Uma turma de fumadores de maconha ancorava ali todos os dias. Cazuza, porém, era gentil, fiava uns tragos, por vezes mesmo uma garrafa. E, como eles não podiam chegar ao saveiro com as mãos abanando, resolveram passar a conversa em Cazuza, obter uns três litros de cana.

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