terça-feira, março 18, 2014

António Sérgio (1883-1969)
O que escreveu António Sérgio
em 1955 sob o título
O ESPÍRITO COOPERATIVO E A PRÁTICA DO RETORNO DIFERIDO


(Político, pensador, pedagogo e homem de cultura)

Não se deve entrar para uma cooperativa unicamente porque se deseja ter os géneros mais baratos, de boa qualidade, sem fraude, e com o peso bem medido, mas sobretudo porque se tem espírito cooperativo, quer dizer, porque se vê no cooperativismo o instrumento por excelência da reforma social, da instauração da justiça nas relações económicas.
Ora o verdadeiro espírito cooperativista leva à prática do retorno diferido, condição essencial para o desenvolvimento do cooperativismo.
Para realizarem completamente a sua missão reformadora, precisam as cooperativas de ser poderosas; e, para serem poderosas, cumpre-lhes dispor de capitais importantes.
Dispondo de capitais importantes, poderão elas sustentar a sua federação, criar o seu armazém grossista, fundar ou comprar oficinas industriais, adquirir granjas, instituir o seu Banco cooperativo, o seu corpo de fiscais, etc.

Ora as cooperativas poderão facilmente ter grandes capitais ao seu dispor se recorrerem à prática do retorno diferido, isto é, aquele cujo pagamento se transfere para um futuro longínquo. Em vez de pagarem no fim do ano, aos sócios, a totalidade dos seus retornos, o retorno fica exarado em sua conta, podendo a cooperativa empregar esses capitais no desenvolvimento da obra do cooperativismo, até colocar na mão dos consumidores o governo económico da Sociedade, da Nação.”


Cooperativismo: o que há de movimento no seu presente?

- Que factos externos e internos sustentam a designação "movimento" cooperativo, que habitualmente se utiliza? 

- Nos dias de hoje, o Cooperativismo reflecte sinais de estagnação ou de mudança?

- Ao falar-se em movimento social temos, desde logo, uma dimensão de identidade. O Cooperativismo tem resolvida esta questão?

- Quem representa e de quem é porta-voz?

- O cartão de identidade e as imagens de marca do Cooperativismo são visíveis e conhecidas entre os não-cooperativistas?

- O Cooperativismo proclama bem alto a sua filosofia, o seu ideário, e todo um conjunto próprio de valores ainda não reconhecidos?

- A que outras ideias, valores e interesses se opõe?

- Quem são os seus opositores?

- O “movimento” responde pronta e concretamente aos que dizem que “deixou de ser apelativo”, “perdeu actualidade” e não passa de “colectivismo mitigado" ou “comunismo encapotado”, o qual “deveria seguir o mesmo caminho das pedras do Muro”?


Nota - Não me parece que o Cooperativismo, para além da dimensão local e estrita de pequenos produtores e consumidores, possa impor-se a nível mundial como solução alternativa ao capitalismo selvagem, desregulado e criminoso.

A economia de mercado, a livre iniciativa e uma actividade bancária que trabalhe directamente com a economia e não com "produtos financeiros especulativos" tem que continuar a ser a forma básica da actividade humana mas... com regras definidas e claras e instituições reguladoras poderosas, a nível global, que se sobreponham aos "paraísos fiscais", fuga de impostos e lavagem de dinheiro resultado do tráfico de armas, droga, prostituição, corrupção...

É preciso dar força às instituições que existem, é preciso dar força ao poder político em detrimento do financeiro... é preciso dar força à democracia e ao império da Lei.

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